Resumos
A busca pelo desempenho ótimo tem sido uma constante no esporte de alto rendimento.
Para tanto, muitos atletas acabam utilizando drogas 🍎 e métodos ilícitos, os quais podem ter importantes efeitos adversos.
A terapia gênica é uma modalidade terapêutica bastante recente na medicina, 🍎 cujos resultados têm, até o momento, indicado 200 reais bet365 eficácia no tratamento de diversas doenças graves.
O princípio da terapia gênica consiste 🍎 na transferência vetorial de materiais genéticos para células-alvo, com o objetivo de suprir os produtos de um gene estruturalmente anormal 🍎 no genoma do paciente.
Recentemente, o potencial para uso indevido da terapia gênica entre atletas tem despertado a atenção de cientistas 🍎 e de órgãos reguladores de esporte.
A transferência de genes que poderiam melhorar o desempenho esportivo por atletas saudáveis, método proibido 🍎 em 2003, foi denominado de doping genético.
Os genes candidatos mais importantes para doping genético são os que codificam para GH, 🍎 IGF-1, bloqueadores da miostatina, VEGF, endorfinas e encefalinas, eritropoetina, leptina e PPAR-delta.
Uma vez inserido no genoma do atleta, o gene 🍎 se expressaria gerando um produto endógeno capaz de melhorar o desempenho atlético.
Assim, os métodos atuais de detecção de doping não 🍎 são sensíveis a esse tipo de manipulação, o que poderia estimular seu uso indevido entre atletas.
Além disso, a terapia gênica 🍎 ainda apresenta problemas conhecidos de aplicação, como resposta inflamatória e falta de controle da ativação do gene.
Em pessoas saudáveis, é 🍎 provável que tais problemas sejam ainda mais importantes, já que haveria excesso do produto do gene transferido.
Há também outros riscos 🍎 ainda não conhecidos, específicos para cada tipo de gene.
Em vista disso, debates sobre o doping genético devem ser iniciados no 🍎 meio acadêmico e esportivo, para que sejam estudadas medidas de prevenção, controle e detecção do doping genético, evitando assim futuros 🍎 problemas de uso indevido dessa promissora modalidade terapêutica.
ARTIGO DE REVISÃO
Terapia gênica, doping genético e esporte: fundamentação e implicações para o 🍎 futuro
Guilherme Giannini ArtioliI; Rosário Dominguez Crespo HirataII; Antonio Herbert Lancha JuniorI
ILaboratório de Nutrição e Metabolismo Aplicados à Atividade Motora, Departamento 🍎 de Biodinâmica do Movimento Humano, Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil
IIDepartamento de 🍎 Análises Clínicas e Toxicológicas, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), BrasilRESUMO
A busca pelo desempenho ótimo 🍎 tem sido uma constante no esporte de alto rendimento.
Para tanto, muitos atletas acabam utilizando drogas e métodos ilícitos, os quais 🍎 podem ter importantes efeitos adversos.
A terapia gênica é uma modalidade terapêutica bastante recente na medicina, cujos resultados têm, até o 🍎 momento, indicado 200 reais bet365 eficácia no tratamento de diversas doenças graves.
O princípio da terapia gênica consiste na transferência vetorial de materiais 🍎 genéticos para células-alvo, com o objetivo de suprir os produtos de um gene estruturalmente anormal no genoma do paciente.
Recentemente, o 🍎 potencial para uso indevido da terapia gênica entre atletas tem despertado a atenção de cientistas e de órgãos reguladores de 🍎 esporte.
A transferência de genes que poderiam melhorar o desempenho esportivo por atletas saudáveis, método proibido em 2003, foi denominado de 🍎 doping genético.
Os genes candidatos mais importantes para doping genético são os que codificam para GH, IGF-1, bloqueadores da miostatina, VEGF, 🍎 endorfinas e encefalinas, eritropoetina, leptina e PPAR-d.
Uma vez inserido no genoma do atleta, o gene se expressaria gerando um produto 🍎 endógeno capaz de melhorar o desempenho atlético.
Assim, os métodos atuais de detecção de doping não são sensíveis a esse tipo 🍎 de manipulação, o que poderia estimular seu uso indevido entre atletas.
Além disso, a terapia gênica ainda apresenta problemas conhecidos de 🍎 aplicação, como resposta inflamatória e falta de controle da ativação do gene.
Em pessoas saudáveis, é provável que tais problemas sejam 🍎 ainda mais importantes, já que haveria excesso do produto do gene transferido.
Há também outros riscos ainda não conhecidos, específicos para 🍎 cada tipo de gene.
Em vista disso, debates sobre o doping genético devem ser iniciados no meio acadêmico e esportivo, para 🍎 que sejam estudadas medidas de prevenção, controle e detecção do doping genético, evitando assim futuros problemas de uso indevido dessa 🍎 promissora modalidade terapêutica.
Palavras-chave: Terapia gênica.Doping genético.Esporte.
INTRODUÇÃO
A terapia gênica é uma área de investigação bastante recente em biomedicina que vem apresentando 🍎 muitos avanços nos últimos anos.
Acredita-se que a terapia gênica represente uma possibilidade de tratamento efetivo para diversas doenças cujos tratamentos 🍎 são pouco eficazes e/ou restritos aos sintomas(1-7).
Ainda em estágio de caráter eminentemente experimental, há problemas na aplicação da terapia gênica, 🍎 sendo o controle dos riscos um dos mais importantes(7-11).
Apesar disso, estudos em modelos animais(2,12-15) e também alguns estudos em humanos(1,6-7,16-19) 🍎 têm apresentado resultados promissores.
Lesões decorrentes da prática esportiva constituem um dos principais fatores de abandono precoce da carreira esportiva, de 🍎 afastamento prolongado de treinos e competições, e de queda no rendimento, podendo até mesmo acarretar em limitações funcionais em idades 🍎 mais avançadas(20).
Soma-se a isso o fato de a maioria das lesões esportivas envolverem tecidos de difícil regeneração, como tendões, ligamentos 🍎 e cartilagens(17,21).
A terapia gênica poderia, portanto, ter uma aplicação muito importante no contexto esportivo, permitindo, entre outras aplicações, a reconstituição 🍎 de tecidos lesionados.
Entretanto, esse tipo de tratamento pode ter um potencial risco de uso indevido por atletas que procuram melhorar 🍎 o desempenho físico, como ocorre no esporte de alto nível.
O uso indevido dessa terapia é denominado doping genético e tem 🍎 alimentado um debate científico-acadêmico cuja importância vem crescendo em medicina esportiva e ciências do esporte(21-27).
Em 2001 houve um dos primeiros 🍎 debates oficiais sobre o doping genético, em um encontro do Gene Therapy Working Group promovido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI)(21).
Nesse 🍎 encontro o comitê declarou que a terapia gênica, além da 200 reais bet365 importância no tratamento e prevenção de doenças, tem grande 🍎 potencial para uso indevido nos esportes, e que formas de detecção do doping genético devem ser desenvolvidas e aplicadas.
No início 🍎 de 2003 o doping genético entrou para lista dos métodos proibidos pelo COI.
Em 2004, a editora chefe da revista Molecular 🍎 Therapy publicou em editorial que, se nas Olimpíadas de Atenas (2004) histórias de doping genético possam ter sido apenas ficção 🍎 científica, em Pequim (2008) possivelmente não mais serão(23).
Até o presente momento não há registro de nenhum caso de atleta que 🍎 tenha feito uso de manipulação genética.
Por outro lado, considerando que ainda não existem meios de controle e detecção do doping 🍎 genético, e que, teoricamente, já é possível empregar essa técnica em seres humanos e outros animais, não se pode afirmar 🍎 categoricamente que nenhum atleta já não o tenha experimentado.
Diante disso, o objetivo deste trabalho é apresentar os fundamentos da terapia 🍎 gênica, assim como suas aplicações e implicações para o meio esportivo, contribuindo com esse importante debate no cenário nacional.
Para tanto, 🍎 realizamos uma pesquisa bibliográfica nas bases de dados Medline e Sport Discus com as palavras chaves gene transfer and sport, 🍎 gene doping, gene therapy e gene therapy and sport.
Os artigos encontrados foram selecionados quanto à originalidade e relevância para a 🍎 discussão aqui apresentada, considerando-se o rigor e adequação do delineamento experimental, o número amostral, e a análise estatística.
Artigos não indexados 🍎 nessa base de dados também foram consultados quando citados pelos artigos obtidos na busca original e, atendendo aos critérios acima 🍎 mencionados, foram incluídos.
TERAPIA GÊNICA
A terapia gênica pode ser definida como um conjunto de técnicas que permitem a inserção e expressão 🍎 de um gene terapêutico em células-alvo que apresentam algum tipo de desordem de origem genética (não necessariamente hereditária), possibilitando a 🍎 correção dos produtos gênicos inadequados que causam doenças.
O material genético inserido nas células do paciente pode gerar a forma funcional 🍎 de uma proteína que, devido a alterações estruturais no seu gene, é produzida em pequenas quantidades ou sem atividade biológica.
É 🍎 possível também regular a expressão de outros genes, ativá-los ou inativá-los(17,28-29).
A inserção do gene terapêutico pressupõe 200 reais bet365 introdução por meio 🍎 de vetores de transferência que sejam capazes de reconhecer as células-alvo.
Há vários sistemas de inserção de material genético in vivo.
Os 🍎 vetores virais são os mais comuns (sendo os retrovírus e adenovírus os mais utilizados), mas outros tipos de vetores não-virais 🍎 também têm sido utilizados, como lipossomas e macromoléculas conjugadas ao DNA(6,28,30).
A injeção do material genético diretamente no tecido-alvo também é 🍎 uma maneira de realizar a terapia gênica sem o uso de vírus(6,28,30).
Há também o sistema de terapia gênica ex vivo, 🍎 no qual células do próprio paciente são retiradas por meio de biópsia, modificadas e reimplantadas no paciente, de modo que 🍎 o gene terapêutico é inserido fora do organismo do paciente(28).
Antes de serem introduzidos no paciente, os vírus usados como vetores 🍎 sofrem várias alterações genéticas, de modo que o gene terapêutico é inserido, enquanto diversos outros genes que lhe conferem virulência 🍎 são retirados ou inativados(6,28,30).
Assim, ao se ligar e invadir a célula-alvo, os vetores virais injetam seu material genético contendo o 🍎 gene terapêutico no DNA do paciente, possibilitando a transcrição e tradução do gene para 200 reais bet365 proteína funcional correspondente, ou então 🍎 utilizam a maquinaria molecular da célula hospedeira para expressar seus genes.
Haisma e Hon(21) afirmam que cerca de 3.
000 pacientes já 🍎 receberam algum tipo de terapia gênica.
Diversas doenças foram tratadas, incluindo disfunções endoteliais, hemofilia, imunodeficiência e diversos tipos de cânceres(6,18-19,31-32).
De modo 🍎 geral a terapia gênica tem trazido bons resultados, e seus efeitos colaterais parecem ser reduzidos a um número pequeno de 🍎 pacientes, o que é indicativo animador da segurança do tratamento.
De qualquer forma, os cuidados que devem ser tomados com esses 🍎 procedimentos, bem como os testes de certificação da segurança das preparações são inúmeros e muito rigorosos, o que torna o 🍎 tratamento extremamente caro(21).
Apesar dos avanços científicos e tecnológicos, há ainda muitas dúvidas a respeito dos efeitos colaterais da terapia gênica.
A 🍎 introdução de organismos geneticamente modificados gera grande incerteza, especialmente se for levado em conta o potencial mutagênico dos vírus(22).
Além disso, 🍎 os efeitos menos conhecidos dizem respeito à expressão em longo prazo dos genes introduzidos e à falta de controle da 🍎 expressão de tais genes(21).
Outro ponto muito importante é a possibilidade (ainda que pequena) de modificação não apenas das células somáticas, 🍎 mas também das germinativas(21).
Entretanto, não há dúvidas de que o principal problema que a terapia gênica enfrenta no atual estágio 🍎 de desenvolvimento é a elevada capacidade imunogênica dos vetores virais introduzidos no paciente, o que pode ser importante fator de 🍎 complicação decorrente do tratamento(7,9-11).
Ainda que vetores não virais sejam alternativa interessante de tratamento, eles também apresentam problemas de eficácia, toxicidade 🍎 e resposta inflamatória(29).
DOPING GENÉTICO
De acordo com a definição de 2004 da World Anti-Doping Agency (WADA), doping genético é o uso 🍎 não terapêutico de células, genes e elementos gênicos, ou a modulação da expressão gênica, que tenham a capacidade de aumentar 🍎 o desempenho esportivo(24).
Ainda que esteja sendo desenvolvida com o propósito de tratar doenças graves, a terapia gênica, assim como diversas 🍎 outras intervenções terapêuticas, tem grande potencial de abuso entre atletas saudáveis que queiram melhorar o desempenho.
A história tem mostrado que 🍎 atletas são capazes de ignorar diversos riscos na busca de ultrapassar seus limites competitivos(33).
A exemplo de fármacos de efeitos colaterais 🍎 desconhecidos, é muito provável que atletas submetam-se à terapia gênica para fins de ganho no desempenho competitivo mesmo sabendo que 🍎 existem riscos conhecidos e que também existem riscos que ainda são desconhecidos(21).
Considerando que a terapia gênica está apenas em estágio 🍎 inicial de desenvolvimento e que, teoricamente, os atletas ainda não fazem uso desse tipo de estratégia ergogênica, pode-se apenas comentar 🍎 sobre os genes que são candidatos importantes ao uso indevido no meio esportivo.
São eles: eritropoetina, bloqueadores da miostatina (folistatina e 🍎 outros), vascular endothelial growth factor (VEFG), insulin-like growth factor (IGF-1), growth hormone (GH), leptina, endorfinas e encefalinas, e peroxissome proliferator 🍎 actived receptor delta (PPARd)(21,34).
Eritropoetina
A eritropoetina é uma proteína produzida nos rins cujo principal efeito é o estímulo da hematopoese(25).
Logo, uma 🍎 cópia adicional do gene que codifica a eritropoetina resulta no aumento da produção de hemácias, de modo que a capacidade 🍎 de transporte de O 2 para os tecidos é aumentada.
Esse tipo de doping seria, portanto, especialmente ergogênico para atletas de 🍎 endurance.
Pesquisas com ratos e macacos conseguiram com sucesso transferir uma cópia adicional do gene da eritropoetina(12,25-26), sugerindo que esse tipo 🍎 de doping já seja factível.
Entretanto, é muito provável que a super-expressão de eritropoetina tenha efeitos prejudiciais importantes em pessoas saudáveis, 🍎 haja vista que foi observada uma elevação muito acentuada do hematócrito de macacos (de 40% a aproximadamente 80%)(12).
Isso obviamente pode 🍎 representar um risco sério de comprometimento da função cardiovascular, incluindo dificuldade de manutenção do débito cardíaco e da perfusão tecidual, 🍎 devido ao substancial aumento da viscosidade sanguínea.
Além disso, foi relatada anemia grave em alguns animais por causa de uma resposta 🍎 auto-imune à transferência do gene extra(35).
Esses relatos levantam sérias dúvidas quanto à real possibilidade de uso da transferência do gene 🍎 da eritropoetina em atletas.
Bloqueadores da miostatina
A miostatina é uma proteína expressa na musculatura esquelética tanto no período embrionário quanto na 🍎 idade adulta.
Sua ação consiste em regular a proliferação dos mioblastos durante o período embrionário e a síntese protéica na musculatura 🍎 esquelética durante e após o período embrionário(36-39).
Em algumas raças de bois, observa-se crescimento incomum da musculatura de alguns animais (fenômeno 🍎 conhecido por double muscling).
Há poucos anos foi verificado que esses animais apresentavam mutações no gene da miostatina, de modo que 🍎 se formava uma proteína não funcional, o que demonstrou que a miostatina inibia o crescimento da musculatura esquelética(40-41).
Recentemente foi descrito 🍎 o caso de uma criança que apresentava fenótipo semelhante ao double muscling.
Foi observado que essa criança também tinha deleções no 🍎 gene da miostatina(39).
Lee e McPherron(37), utilizando modelos de ratos transgênicos, concluíram que a super-expressão de bloqueadores da miostatina, tais como 🍎 folistatina, leva ao mesmo fenótipo de double muscling.
A miostatina inibe tanto a hiperplasia quanto a hipertrofia muscular, sendo que o 🍎 ganho de massa muscular decorrente do bloqueio da miostatina se dá principalmente pelo aumento no número de fibras musculares(37).
Em vista 🍎 disso, acredita-se que o bloqueio da sinalização da miostatina seja um dos candidatos de maior potencial de abuso no esporte, 🍎 já que o ganho de massa muscular pode ser decisivo em diversas modalidades esportivas.
Contudo, a utilização de bloqueadores da miostatina 🍎 como recurso ergogênico talvez ainda esteja um pouco distante, já que os estudos com bloqueio da miostatina envolveram animais transgênicos, 🍎 ou seja, que não produziam a proteína desde o início do desenvolvimento.
Não se sabe, portanto, quais são exatamente os efeitos 🍎 quando o bloqueio ocorre apenas na idade adulta, período em que não se observa aumento no número de fibras musculares.
Outra 🍎 questão importante diz respeito à possibilidade de expressão dos genes inibidores da miostatina em outros tecidos musculares, como os lisos 🍎 e o cardíaco.
Apesar desse risco não ser muito alto, uma vez que os animais do estudo de Lee e McPherron(37) 🍎 expressaram os transgenes apenas na musculatura esquelética, não se pode descartar essa hipótese, considerando que não há dados na literatura 🍎 sobre transferência vetorial desses genes e que envolvam seres humanos.
VEGF
O VEGF (ou fator de crescimento do endotélio vascular) é uma 🍎 proteína que desempenha importante papel no crescimento do endotélio vascular, na angiogênese e vasculogênese(18-19).
A terapia gênica com VEGF é uma 🍎 das poucas já utilizadas em seres humanos.
A introdução do gene que codifica a VEGF em pacientes com disfunção endotelial responsável 🍎 por quadros de doença arterial coronariana e doença arterial periférica tem produzido bons resultados, com formação de novos ramos vasculares(18-19).
Em 🍎 atletas, a inserção vetorial do VEGF poderia produzir vasculogênese.
Dessa maneira, o fluxo sanguíneo para todos os tecidos seria aumentado, assim 🍎 como 200 reais bet365 oxigenação e nutrição.
Considerando que isso ocorra em tecidos como a musculatura esquelética e a cardíaca, pode-se esperar aumento 🍎 da produção energética, diminuição da produção de metabólitos e o retardo da fadiga.
Atletas de endurance seriam, teoricamente, os mais interessados 🍎 na terapia gênica com inserção do VEGF(21).
Uma vez que esse tipo de terapia já está sendo utilizado em seres humanos 🍎 com fins terapêuticos, o doping genético envolvendo o VEGF já poderia ser empregado atualmente de maneira ilícita para melhorar o 🍎 desempenho esportivo.
IGF-1 e GH
Em animais de experimentação, a introdução por vetor de adenovírus do gene que codifica a proteína IGF-1, 🍎 e 200 reais bet365 conseqüente super-expressão, aumenta a síntese protéica na musculatura esquelética.
Isso foi observado tanto em animais que foram submetidos ao 🍎 treinamento de força quanto em sedentários.
Quando a introdução do gene extra IGF-1 foi combinada com o treinamento de força, a 🍎 hipertrofia e o desenvolvimento da força foram maiores do que os observados em animais que apenas treinavam força (e não 🍎 super-expressavam IGF-1) e nos que apenas super-expressavam IGF-1 (e não treinavam força)(13).
Pode-se dizer, então, que a super-expressão de IGF-1 pode 🍎 potencializar em grande magnitude as respostas musculares ao treinamento físico, em especial ao treinamento de força.
Em vista do sucesso obtido 🍎 em estudos com animais e da aparente segurança da terapia gênica com IGF-1, é possível que dentro de poucos anos 🍎 ela já seja factível em humanos.
Isso, obviamente, poderá ser utilizado por atletas que buscam melhorar seu desempenho, mas poderá ser 🍎 também utilizado por pessoas portadoras de doenças musculares graves, como a distrofia muscular de Duchenne e outras.
Teoricamente o doping genético 🍎 com GH levaria a efeitos bastante semelhantes aos produzidos por IGF-1, haja vista que a ação do GH é mediada 🍎 pelo próprio IGF-1.
Portanto, pode-se esperar que o doping genético com GH produza ganhos de força e hipertrofia muscular.
É provável que 🍎 os riscos envolvidos com a inserção do gene do GH e do IGF-1 estejam relacionados com o desequilíbrio do eixo 🍎 hipotálamo-hipofisário e principalmente com o aumento da chance de ocorrência de neoplasias diversas.
Há também o risco da super-expressão do GH 🍎 levar a glomerulosclerose, o que já foi demonstrado em modelos animais(42).
Leptina
A leptina, hormônio peptídico produzido principalmente no tecido adiposo cuja 🍎 principal ação está relacionada ao controle da sensação de fome e saciedade, redução do consumo alimentar e conseqüente perda de 🍎 peso(43), também é um candidato para abuso como doping genético(22).
Em 1997 um estudo demonstrou que a introdução do gene leptina 🍎 por vetor viral produzia significativa perda de peso em ratos(14).
Em contrapartida, talvez o mesmo fenômeno não seja observado em humanos, 🍎 já que indivíduos obesos, os quais apresentam elevada concentração plasmática de leptina, não têm apetite reduzido(44).
Essa resistência à ação da 🍎 leptina pode representar importante obstáculo para a terapia gênica com esse hormônio.
Além disso, diferentemente dos modelos animais, o comportamento alimentar 🍎 humano depende também de outros fatores (nutricionais, psicológicos, sociais e culturais).
Endorfinas e encefalinas
As endorfinas e encefalinas são peptídeos endógenos de 🍎 atividade analgésica.
O uso da terapia gênica com os genes da endorfina e encefalina poderia, portanto, melhorar o desempenho esportivo pela 🍎 diminuição da sensação de dor associada a algum tipo de lesão, fadiga ou excesso de treinamento(21).
Isso, teoricamente, permitiria que atletas 🍎 treinassem mais, ou evitaria seu afastamento temporário de treinos e competições por pequenas lesões.
De fato, as drogas analgésicas estão entre 🍎 as mais consumidas por atletas(21), o que indica o possível interesse pela inserção desses genes.
Estudos em animais demonstraram que esse 🍎 tipo de terapia gênica foi capaz de diminuir a percepção de dor inflamatória(15).
Entretanto, devido à grande carência de informações na 🍎 literatura, é provável que o doping genético envolvendo endorfinas e encefalinas ainda esteja longe de realmente acontecer(21).
PPAR-d
As proteínas da família 🍎 dos PPARs atuam como fatores de transcrição de genes envolvidos no metabolismo de carboidratos e lipídeos.
Primeiramente elas foram descobertas desempenhando 🍎 papel na síntese de peroxissomos, e por esse motivo foram denominadas de peroxissome proliferator-actived receptors(45).
Existem diversas proteínas PPAR, mas a 🍎 que apresenta, pelo menos do ponto de vista teórico, maior potencial para abuso em doping genético é a PPAR-d(34).
A PPAR-d 🍎 é uma proteína reguladora-chave do processo de oxidação de lipídeos.
Atuando no fígado e no músculo esquelético, ela estimula a transcrição 🍎 de diversas enzimas que participam da b-oxidação(46).
A PPAR-d também está relacionada com a dissipação de energia na mitocôndria que ocorre 🍎 por meio das proteínas desacopladoras, de modo que 200 reais bet365 ação leva à diminuição da produção de energia.
Como resultado, a PPAR-d 🍎 diminui a quantidade de tecido adiposo, reduz o peso corporal e aumenta a termogênese(46).
Essa é, portanto, uma das justificativas para 🍎 o possível interesse de atletas em usar doping genético com PPAR-d.
A melhora na oxidação lipídica, além de reduzir a adiposidade 🍎 (efeito que despertaria o interesse de atletas de quase todas as modalidades esportivas), preservaria os estoques de glicogênio, aumentando o 🍎 tempo de tolerância ao esforço(47) e provavelmente o desempenho em provas de resistência.
Outro motivo para o possível interesse em utilizar 🍎 o PPAR-d como doping genético é o seu provável papel na conversão de fibras musculares do tipo II em fibras 🍎 do tipo I(48).
Portanto, atletas cujas modalidades não dependem da força, mas exigem que eles se mantenham com baixo peso e 🍎 baixo percentual de gordura (como maratonistas, ginastas, patinadores e outros) seriam potencialmente os mais interessados na transferência do gene PPAR-d.
TERAPIA 🍎 GÊNICA EM ATLETAS
Além do potencial interesse pelo uso da terapia gênica como forma sofisticada e indetectável de doping, atletas poderiam 🍎 beneficiar-se das técnicas de transferência de genes como qualquer outra pessoa cujo quadro clínico imponha tal necessidade.
Conforme mencionado anteriormente, as 🍎 técnicas genéticas de reconstrução de tecidos lesionados poderiam ser largamente utilizadas no meio esportivo para o tratamento e reabilitação de 🍎 lesões(21).
A transferência de genes que codificam fatores de crescimento poderia facilitar e potencializar o tratamento de lesões ósteo-músculo-articulares que atualmente 🍎 requerem cirurgias e longo período de reabilitação(17).
Uma questão muito importante sobre a relação da terapia gênica com o esporte foi 🍎 levantada em 2006 por Haisma e Hon(21).
Segundo a definição da WADA, o uso não terapêutico de técnicas de transferência de 🍎 genes que possam melhorar o desempenho esportivo é considerado doping e, portanto, proibido.
Tal definição, apesar de clara, não contempla diversas 🍎 possibilidades, como também não menciona as conseqüências do direito dos atletas de usar a terapia gênica.
Por exemplo, uma pessoa que 🍎 sofra de alguma distrofia muscular ou anemia grave poderia se tornar atleta após o uso terapêutico da transferência de genes 🍎 como IGF-1, folistatina ou eritropoetina? Ou então, um atleta que necessite de terapia gênica e que em decorrência do tratamento 🍎 adquira alguma vantagem competitiva, poderia continuar competindo? Pela definição poderia, mas tal permissão esbarra nas questões éticas e morais que 🍎 dão toda a base para a proibição do doping.
Sem dúvida, o debate dessas e outras questões sobre a terapia gênica 🍎 e o esporte precisa ser intensificado, de modo que se coíbam abusos sem que o direito de uso terapêutico por 🍎 atletas que necessitem da terapia gênica seja prejudicado.
RISCOS ASSOCIADOS AO DOPING GENÉTICO
Para avaliar os riscos envolvidos com o doping genético, 🍎 é preciso primeiramente conhecer os riscos da terapia gênica.
Sabe-se que uma das principais preocupações da terapia gênica é a utilização 🍎 de vírus como vetor.
Apesar dos rigorosos controles em todas as etapas de preparação dos vírus geneticamente modificados, existe o risco 🍎 do vírus provocar respostas inflamatórias importantes no paciente, embora esse seja um dos assuntos sobre os quais mais se tem 🍎 buscado soluções(7-11,29).
A chance do gene ser introduzido erroneamente em células germinativas, apesar de muito baixa, deve também ser considerada como 🍎 um risco inerente ao procedimento.
Outro problema relacionado ao vetor viral é a capacidade de mutação e replicação que ele poderia 🍎 ter(49), especialmente se houver falhas em 200 reais bet365 preparação, o que pode ser comum em laboratórios "clandestinos" que se disponham a 🍎 realizar doping genético(21).
Além disso, há também os riscos não relacionados ao vetor, mas aos efeitos do gene inserido, como o 🍎 aumento da viscosidade sanguínea pela super-expressão de eritropoetina(12), ou o aumento da chance de ocorrer neoplasias pela super-expressão de fatores 🍎 de crescimento.
A falta de controle sobre a expressão do gene inserido pode, de forma semelhante, representar um risco da terapia.
Os 🍎 riscos específicos de cada gene são menos previsíveis do que os riscos gerais inerentes à técnica de transferência genética, especialmente 🍎 se considerarmos que os testes clínicos serão realizados na maioria das vezes em pessoas doentes com deficiência no gene testado.
Logo, 🍎 não seria possível saber antecipadamente como pessoas saudáveis, como é o caso dos atletas, responderiam ao mesmo tratamento.
Apesar disso, o 🍎 número relatado de problemas decorrentes da terapia gênica é bastante reduzido, e até o momento tudo indica que, se os 🍎 procedimentos estiverem todos de acordo com os critérios de segurança, a possibilidade de ocorrerem problemas é baixa, indicando que a 🍎 terapia gênica tem-se mostrado relativamente segura(21).
CONTROLE E DETECÇÃO DO DOPING GENÉTICO
Apesar de não eliminar completamente o doping, a possibilidade de 🍎 detecção e as sanções decorrentes do flagrante no teste antidoping pelo menos inibem o uso de drogas ilícitas pelos atletas.
O 🍎 fato do doping genético, a princípio, não ser detectável(27), pode estimular seu uso em larga escala no meio esportivo.
Por esse 🍎 motivo, é muito importante que medidas de prevenção sejam discutidas imediatamente pela comunidade científica e pelos órgãos reguladores do esporte.
Programas 🍎 educacionais envolvendo técnicos, preparadores físicos, atletas e suas famílias, que demonstrem claramente todos os riscos inerentes à utilização indiscriminada da 🍎 terapia gênica, provavelmente são a forma mais eficaz de evitar o doping genético no futuro próximo.
Paralelamente, novas estratégias de detecção 🍎 devem também ser desenvolvidas.
Ainda assim, não se sabe realmente se o doping genético poderá ser, de fato, detectado.
Caso o gene 🍎 transferido tenha 200 reais bet365 expressão confinada a alguns tecidos e seus produtos não atinjam a corrente sanguínea, somente por meio de 🍎 biópsia poderá ser possível fazer um teste antidoping confiável.
Isso claramente se impõe como uma imensa barreira no controle do doping 🍎 genético(21,34).
Atualmente já se comenta sobre alguns meios de detectar o doping genético.
Sabe-se, por exemplo, que é possível diferenciar, por meio 🍎 do padrão de glicosilação protéico, a eritropoetina produzida pelo gene nativo da produzida pelo gene transferido(26).
Obviamente, tal diferenciação só será 🍎 possível nos casos em que o doping genético envolva genes cujos produtos alcancem a circulação.
De qualquer maneira, resta saber se 🍎 a diferença no padrão de glicosilação ocorre apenas para a eritropoetina, ou se ocorre também para outras proteínas.
Outros possíveis métodos 🍎 de detecção do doping genético seriam: detecção de anticorpos dirigidos contra o vírus inserido, cuja possibilidade de aplicação é muito 🍎 baixa, uma vez que o atleta poderia estar infectado com um vírus da gripe, por exemplo, e ter um resultado 🍎 falso-positivo no teste, padrão de expressão gênica por técnica de microarrays, na qual se estabelece o quanto expresso está sendo 🍎 uma série de genes, mas que exige também coleta de amostras teciduais e valores de referência para cada gene analisado(34).
CONSIDERAÇÕES 🍎 FINAIS
Diante da discussão exposta neste artigo, percebe-se que a terapia gênica é uma técnica terapêutica muito promissora na medicina, cujos 🍎 rápidos avanços têm-na tornado cada vez mais factível.
Isso nos remete ao grande potencial para o seu uso indevido no meio 🍎 esportivo por atletas que ignoram os riscos para ganhar vantagem competitiva.
Diversos genes teriam a capacidade de promover ganhos substanciais no 🍎 desempenho atlético, o que poderia ser decisivo em muitas modalidades.
Uma vez que os métodos tradicionais de detecção de doping não 🍎 são capazes de revelar o uso do doping genético, torna-se imediata a necessidade de ampliação desse debate no meio científico 🍎 e no meio esportivo, a fim de que estratégias de controle e detecção sejam estudadas e colocadas em prática.
Aceito em 🍎 31/7/07
Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo.