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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA JOGOS COOPERATIVOS: O JOGO E O ESPORTE COMO UM EXERCÍCIO DE CONVIVÊNCIA FÁBIO OTUZI BROTTO CAMPINAS 1999 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA 2 JOGOS COOPERATIVOS: O JOGO E O ESPORTE COMO UM EXERCÍCIO DE CONVIVÊNCIA Este exemplar corresponde à redação final da Dissertação de Mestrado apresentada por Fábio Otuzi Brotto e aprovada pela comissão examinadora composta pelos Professores Ídico Luiz Pellegrinotti, Luiz Alberto Lorenzetto e Roberto Rodrigues Paes,aposta de futebol app17 de setembro de 1999.Prof.Dr.
Roberto Rodrigues Paes Orientador e presidente da Comissão Examinadora Campinas, 17 de setembro de 1999 3 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA-FEF UNICAMP Brotto, Fábio Otuzi B795j Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência / Fábio Otuzi Brotto.
– Campinas, SP : [s.n.], 1999.
Orientador: Roberto Rodrigues Paes Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física.1.Jogosaposta de futebol appgrupo.2.
Esporte -Estudo e ensino.3.Interação social.I.
Paes, Roberto Rodrigues.II .
Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física.II.Título.
4 EU OFEREÇO Dedico este ‚Exercício de Convivência‛, a Eneide Otuzi Brotto, minha mãe e principal orientadora no caminho da vida; e para Osmar Brotto, meu pai...sempre presente.
Ofereço à Gisela minha e-terna parceira, que algumas vezes não me acompanha, mas sempre me compõe.
E à Tiê e Ilê, e para os filhos dos filhos de seus (e de todos os outros) filhos...
frutos e sementes do Jogo Essencial.
5 EU AGRADEÇO Eu agradeço ao Prof.
‚Roberto‛ Rodrigues Paes, meu grande parceiro e guia seguro que, quando me vi mergulhado no tu rbilhão de idéias confusas e ideais difusos, transbordou os limites deaposta de futebol appgenerosidade e sabedoria, me ajudando a enxergar com clareza o rumo a seguir e a descobrir o compasso possível.
Também, sou muito grato ao Prof.
Ídico Luiz Pellegrinotti, o ‚Deco‛, que com seu jeito apaixonado de Ser, participou deste Jogo desde o início, irradiando a con-fiança necessária para nutrir a Vida pulsante no coração de cada um de todos nós.
Desde muito antes desta aventura pela ciência, venho sendo tocado na consciência pela presença sensível e amorosa do ‚mestre‛ Luiz Alberto Lorenzetto, a quem sou profundamente agradecido e suavemente ligado.
Ao meu amigo Cesar Barbieri, agradeço pela leitura dedicada, crítica e re-creativa e mais ainda, pela Trans -Piração compartilhada.
Agradeço aos servidores da FEF-UNICAMP pelo suporte e disponibilidadeaposta de futebol appcolaborar com a realização deste e de tantos outros ‚projetos de estudo e de vida‛.
Agora, re-lembro o tempoaposta de futebol appque voltava correndo da escola, almoçava as pressas e saia voando...
para a aula de Educação Física.
Ah! Como eu adorava jogar basquete na quadra que construímos, bater uma bolinha no campinho de terra cuidado pela garotada, fazer exercício com halteres de lata de leiteaposta de futebol apppó, pendurar na barra só pelo prazer de auto-sustentar-me...
Pois é, eu era capaz de largar tudo, tudo mesmo, só para ir |quele lugar m{gico: a aula do ‚Seu Zé Maria‛.
Neste momento, ainda sou capaz de ouvir o jeitão dele chamar a turma: ‚Tsitsitsi, turminha!‛ Graças ao senhor, Prof.
José Maria Abdal la, eu continuo por aqui.
Valeu, professor! 6 O MEU OLHAR é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas Olhando para a direita e para a esquerda, E de vezaposta de futebol appquando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento É aquilo que nunca antes eu tinha visto, E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial Que tem uma criança se, ao nascer, Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como um malmequer, Porque o vejo.
Mas não penso nele Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência, E a única inocência não pensar...
Fernando Pessoa 1 7 SUMÁRIO Índice de Figuras i INTRODUÇÃO.01 CAPÍTULO I.
O JOGO NUMA SOCIEDADE EM TRANSFORMAÇÃO .
12 1 Conceitos e abordagens.
13 2 O Jogo na Educação.
19 3 A postura do Educador.
23 4 Jogando numa Sociedadeaposta de futebol appTransformação.27 CAPÍTULO II.
A CONSCIÊNCIA DA COOPERAÇÃO .
31 1 Cooperação e Competição.32 2 Mitos e Ritos.
42 3 A Consciência da Cooperação.
51 4 A Ética Cooperativa.
57 1 Em ‚O Guardador de Rebanhos – II‛, In: Ficções do Interlúdio/1, 1980, p.35.8 CAPÍTULO III.
JOGOS COOPERATIVOS .
62 1 Origem e Evolução.
63 2 Os Primeiros Movimentos.66 2.
1 No Mundo Ocidental.67 2.2 No Brasil.
70 3 Conceito e Características.
76 4 A Visão dos Jogos Cooperativos.
81 5 Princípios Sócio-Educativos da Cooperação.89 CAPÍTULO IV.
A PEDAGOGIA DO ESPORTE E JOGOS COOPERATIVOS .
94 1 Esporte: Um Fenômeno Humano.
95 2 Pedagogia do Esporte.
102 3 Jogos Cooperativos como uma Pedagogia do Esporte.112 3.
1 A Consciência da Cooperação no Esporte.113 3.
2 A ‚Ensinagem‛ Cooperativa do Esporte.123 3.2.
1 Categorias do Jogos Cooperativos.124 9 3.2.
2 A formação de grupos.130 3.2.3 A premiação.132 CAPÍTULO V.
O JOGO E O ESPORTE COMO UM EXERCÍCIO DE CONVIVÊNCIA.
136 1 Convivência: Um Jogo de Interdependência.
141 2 O (im)possível Mundo onde todos podem VenSer.
147 3 Jogando no cotidiano de um novo dia.
155 CONSIDERAÇÕES FINAIS (??).O JOGO ESSENCIAL.
166 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.173 ANEXOS.
187 10 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1.
Situação Cooperativa e Situação Competitiva.
(Deustch, 1949 apud Rodrigues, 1972, modificado por Brotto, 1997).36 Figura 2.
Tabela Seqüencial de Competição e Cooperação.
(Orlick, 1989) 39 Figura 3.
Jogos Competitivos e Jogos Cooperativos (Walker, [1987]) 78 Figura 4 .
Padrões de Percepção-Ação.
(Brotto, 1997) 86 11 RESUMO Atualmente, é evidente o cenário de significativas transformações no qual tudo e todos estão envolvidos.
A cada momento, tomamos consciência do quanto somos interdependentes e co -responsáveis pela Felicidade uns dos outros e pelo futuro das novas gerações.
Inspirada por esse contexto, esta dissertação focalizou os Jogos Cooperativos como um caminho para a promoção da Convivência e do Bem-Estar Comum.
Inicialmente, refleti sobre o papel do Jogo numa sociedadeaposta de futebol apptransformação, valorizando-o como uma ponte para a mudança de valores e atitudes no cotidiano.
Seguindo nessa direção, este estudo procurou despert ar a Consciência da Cooperação, tratando dos conceitos e preconceitos, mitos e ritosaposta de futebol apptorno da Cooperação e Competição, como forma de enxergar por trás dos condicionamentos e padrões cristalizados, novas possibilidades de ver e viver a realidade.
Acordando para as alternativas vislumbradas pela síntese entre o Jogo e a Consciência da Cooperação, abordei a proposta dos Jogos Cooperativos como um campo de conhecimento e experiência humana.
Explorei e descrevi,aposta de futebol apporigem e evolução; seus princípios e características; e seu relevante papel para o desenvolvimento do InterSer Humano e para a promoção da Ética Cooperativa no dia -a-dia.
Sendo o Esporte um Fenômeno Humano de grande expressão na sociedade contemporânea, relacionei os Jogos Cooperativos e a Pedagogia do Esporte, destacando as estruturas sócio -educativas de cooperação como contribuições ao processo de ensino -aprendizagem do Esporte.
Concluindo este estudo, dissertei sobre o Jogo e o Esporte como um Exercício de Convivência, essencial e vital para a construção de um Mundo onde todos podem VenSer.
12 ABSTRACT Nowadays, the scene of significant changes in which everything and everybody is involved is evident.
Every minute we realize how interdependent and co-responsible we are for the Happiness of each other and for the future of the new generations.
Inspired by this context, this dissertation focused on the Cooperative Games as a way to promote the Companionship and the Common Well - being.
Initially, I meditated about the Game's role in a changing soci ety, valuing it as a bridge for the change of values and attitudes in the everyday life.
By following in this direction, this study aimed at arousing the Cooperation Conscience, dealing with conceptions and preconceptions, myths and rites around the Cooperation and the Competition, as a way to see what is behind the crystallized conditionings and patterns, as new possibilit ies to see and live the reality.
By awakening to the alternatives arising from the synthesis between the Game and the Cooperation Conscience, I dealt with the idea of the Cooperative Games as a field of knowledge and human experience.
I exploited and described its origin and evolution, its principles and features and its relevant role for the development of the Human InterBeing and for the promotion of the Cooperative Ethics in the everyday life.
As the Sport is a Human Phenomenon of great importance in the contemporaneous society, I correlated the Cooperative Games and the Sport Pedagogy, pointing out the social and educative structures of the cooperation as contributions to the Sport's teaching -learning process.
To sum up, I dealt with the Game and the Sport as a Companionship Exercise that is essential and vital for the construction of a World where everyone is able to VenSer 2.
2 It's a play with the Portuguese word ‚Vencer‛ (to win).
By changing the letter "c" for "s", we have the word ‚VenSer‛ (to BeCome).
13 INTRODUÇÃO Para abrir os olhos e enxergar com o coração "Hoje me sinto mais forte mais fel iz quem sabe.
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei Eu nada sei .
" Almir Sater O tema Jogos Cooperativos foi escolhido como assunto gerador desta dissertação, por ser um campo de estudo e de intervenção, que vem merecendo a atenção de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento,aposta de futebol appdiferentes países, como por exemplo, Estados Unidos, Canadá, Espanha e Austrália.
No Brasil , apesar de existirem ações muito signi ficativas e com repercussões bastante positivas, a proposta de Jogos Cooperativos como objeto de reflexão e investigação científica é muito recente e ainda incipiente.
14 Ao localizar este estudo no campo das Ciências do Esporte, sou incentivado a abordar os Jogos Cooperativosaposta de futebol appseu relacionamento com as várias dimensões dessa ciência.
Contudo, dada a natureza da minha experiência e interesse, irei focalizar aqui, o entrelaçamento dos Jogos Cooperativos com a Pedagogia do Esporte.
Desse relacionamento, pretendo encontrar subsídios para resgatar o valor do Jogo e do Esporte como caminhos de Descoberta Pessoal, bem como, para o Exercício de Com-Vivência 3 social.
A convivência é uma condição inexorável da vida cotidiana.
Na medida que melhoramos a qualidade de nossas relações interpessoais e sociais, aperfeiçoamos nossas competências para gerar soluções benéficas para problemas comuns e aprimoramos a qualidade de vida na perspectiva de melhorá-la para todos.
É somente pela convivência que somos capazes de superar as necessidades básicas de sobrevivência e nos libertamos para aspirar níveis cada vez mais complexos de transcendência.
Para tanto, precisamos de um movimento concentrado para dinamizar processos de interação social que resultemaposta de futebol appuma dimensão ampliada de convivência humana.
A esse respeito, Setubal (1998), comenta que para essa realização o empenho deve vir da reunião de esforços entre governantes e outros setores da sociedade que detêm poder, como o setor privado.
Segundo ela, essa convergência de es forços é importante para 15 estimular e difundir práticas de solidariedade e de cooperação, o exercício da cidadania plena e a garantia e a ampliação dos direitos básicos.
Isso exige profunda mudança de atitudes e de valores, no lugar do individualismo, cal cado no consumismo irrestrito, que não soluciona nossos problemas.
‛ 4 Nesse sentido, é preciso resgatar nosso potencial para viver juntos e realizar objetivos comuns.
Necessitamos aperfeiçoar nossas Habilidades de Relacionamento e a aprender a viver uns com os outros ao invés de uns contra os outros.
O principal desafio para nós, me parece, é colaborar para construir pontes que encurtem as distâncias, diminuam as fronteiras e que aproximem as pessoas umas das outras.
A construção dessas pontes constitui um exercício permanente de revisão filosófico-pedagógica de nossas atividades, programas e demais intervenções praticadas diariamente, na escola, na comunidade, no clube, na universidade, com a família, com os outros e com a gente mesmo.
Nesse sentido, reconheço que a educação para uma nova geração, deve ser fundamentadaaposta de futebol appuma Pedagogia Transdisciplinar, que segundo Nicolescu (1997), está baseadaaposta de futebol appquatro princípios: 3 A divisão da palavra é um recurso que utilizo para buscar uma melhor compreensão do seu sentido/significado.
Durante o texto, voltarei a usar esse recurso, com a mesma intenção.
4 Maria Alice SETUBAL, Folha de São Paulo, 06 de out.de 1998.
A autora é socióloga, diretora presidente do CENPEC e consultora do UNICEF sobre educação para a América Latina e o Caribe.
16 Aprender a conhecer. Aprender a fazer. Aprender a ser.
Aprender a viver junto.
Entendo que aprender é sempre uma aprendizagem compartilhada, que ocorre numa situação dinâmica de co -educação e cooperação, onde todos são simultanemante, professores-e-alunos.
Nessa educação o foco da aprendizagem, não está somente sobre o objeto a ser conhecido, nem sobre o resultado a ser alcançado, mas está projetado sobre a qualidade das interações cooperativas presentes no processo de descoberta e transformação da realidade.
E, especialmente, quando nos inserimos no contexto das Ciências do Esporte, é preciso considerar que nenhuma abordagem isolada ouaposta de futebol appoposição a outras, será capaz de conhecer e se relacionar com o Jogo e o Esporteaposta de futebol apptodas as suas dimensões, ou melhor, na dimensão deaposta de futebol appTotalidade.
Sobre a importância de ultrapassarmos os limites que separam as diferentes áreas de investigação e intervenção na realidade, somos advertidos por Prigogine & Strengers (1997), quando sugerem que devemos aprender, não mais a julgar a população dos saberes, das práticas, das culturas produzidas pelas sociedades humanas, mas a cruzá-los, a estabelecer entre eles comunicações inéditas que nos coloquemaposta de futebol appcondições de fazer face às exigências sem precedentes da nossa época.
17 A perspectiva Transdisciplinar nos desafia a descobrir caminhos diferentes para aprender e para conviver, particularmente,aposta de futebol appmomentos de crises e transformações.
Consciente da complexidade e da importância dessa co -aprendizagem, é que faço a escolha pelo caminho dos Jogos Cooperativos como um Exercício de Convivência.
O Jogo e o Esporte na perspectiva dos Jogos Cooperativos são contextos extraordinariamente ricos para o desenvolvimento pessoal e a convivência social.
Quando jogamos cooperativamente podemos nos expressar autêntica e espontaneamente, como alguém que é importante e tem valo r, essencialmente, por ser quem é, e não pelos pontos que marca ou resultados que alcança.
Dessa forma, podemos aprender que o verdadeiro valor do Jogo e do Esporte, não estáaposta de futebol appsomente vencer ou perder, nemaposta de futebol appocupar os primeiros lugares no pódium, mas es tá, também e fundamentalmente, na oportunidade de jogar juntos para transcender a ilusão de sermos separados uns dos outros, e para aperfeiçoar nossa vidaaposta de futebol appcomum - unidade.
Contudo, o Jogo e o Esporte merecem uma ampla, profunda e constante revisão sobre suas bases filosófico-pedagógicas, se desejarmos tê -los como um processo de ensino-aprendizagem que promova o Encontro ao invés do Confronto.
E é portanto, a esta revisão, que dediquei atenção ao longo desta dissertação.
18 O principal objetivo deste estudo foi explorar e descrever os Jogos Cooperativos como uma proposta filosófico -pedagógica, capaz de promover a Ética da Cooperação e desenvolver as competências humanas necessárias para a melhoria da qualidade de vida atual e, fundamentalmente, para a vida das futuras gerações.
Outros propósitos também foram buscados através deste trabalho, destacando-se, entre outros, os seguintes: Relacionar os Jogos Cooperativos com as Ciências do Esporte, particularmente, na interface com a Pedagogia do Esporte.
Apontar alguns princípios, estruturas e procedimentos cooperativos que podem colaborar no processo ensino -aprendizagem do Jogo e do Esporte.
Contribuir para a valorização do Jogo e do Esporte como um Exercício de Convivência Humana.
Incentivar outras pessoas a continuar Jogando Cooperativamente pelos campos da Vida.
O problema que serviu como impulso para esta investigação, foi a necessidade de promover ações e relações educativas, capazes de contribuir para diminuir as barreiras e estreitar as distâncias que têm separado pessoas, grupos, sociedades e nações, assim como, têm nos afastado da interação harmoniosa com a natureza e outras dimensões da realidade.
19 Essa "ilusão de separatividade" , conforme Weil (1987), esta na raiz das principais questões e dos mais graves conflitos que assolam a humanidade neste final de século e início de milênio.
Portanto, o desafio radical assumido aqui, foi – e continua sendo - incentivar a construção consciente de estratégias, intencionalmente, dirigidas ao exercício da convivênci a e cooperação para um mundo melhor que, de acordo com a Declaração de Mount Abu 5, devem orientar-se pela seguinte idéia: "Uma Visão sem uma Tarefa, é somente um sonho.
Um Tarefa sem uma Visão, é apenas um trabalho árduo.
Mas, uma Visão com uma Tarefa, pode transformar o mundo".
À luz dessa Visão-Tarefa, a metodologia adotada para tratar o assunto desta dissertação, foi baseada na pesquisa teórica, realizada através do estudo descritivo e exploratório, tendo como instrumentos básicos, a revisão bibliográf ica, associada ao exame de experiências pessoais e institucionais.
Focalizei o tema através da lente oferecida pela Visão Holística (Capra, 1982, 1998, Crema, 1992), e pela Transdisciplinaridade (D'Ambrósio, 1997, Nicolescu, 1997, 1999), buscando uma abord agem integradora das diferentes dimensões e interfaces presentes no diálogo entre os Jogos Cooperativos e o Exercício de Convivência 5 A Declaração de Mount Abu é um documento que foi produzido na reunião-síntese do ‚Projeto Cooperação Global para um Mundo Melhor‛, realizado entre 1988-1990, envolvendo proximadamente 160 países, sob a coordenação da ONU e Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris.
20 Visando orientar o desenvolvimento do trabalho, estabeleci um plano de redação , prevendo cinco capítulos.
No capítulo I , tratei do papel do Jogo numa Sociedadeaposta de futebol appTransformação , assinalando alguns conceitos, significados e valores, estudando-o mais detalhadamente mediante as transformações que estão ocorrendo na sociedade contemporânea.
Destaquei no capítulo II , a Consciência da Cooperação, explorando e descrevendo as definições de Cooperação e Competição como processos de interação social.
Busquei refletir sobre alguns mitosaposta de futebol apptorno desses conceitos, como por exemplo, o mito da ‚natureza competitiva do homem‛, de modo a expandir minha compreensão sobre o assunto.
E, principalmente, dediquei-me para ampliar o conhecimento sobre o significado e a relevância da Ética Cooperativa, como um conjunto de valores e atitudes essenciais para a vida na sociedade humana, de agora e das futuras gerações.
Estudei no capítulo III , os Jogos Cooperativos , que representam tanto uma visão de mundo, como uma prática pedagógica para aprender e viver através da Ética de Cooperação.
Procurarei apresentar o potencial dos Jogos Cooperativos como um fascinante e eficiente processo de ensino -aprendizagem, capaz de nos ajudar a Ser quem realmente somos e, simultaneamente, colaborar para que realizemos uma vida melhor para todos, sem exceção.
21 Acompanhado do conhecimento e experiências de um conjunto de autores, pretendi conhecer melhor os Jogos Cooperativos:aposta de futebol apporigem e evolução, seus fundamentos teóricos e pedagógicos, as diferentes abordagens e aplicações, a situação atual e suas perspectivas.
Além disso, procurei descrever o percurso dos Jogos Coopera tivos no Brasil , assinalando, através de um breve histórico, alguns marcos referencias do promissor estágio de desenvolvimento no qual se encontraaposta de futebol appnosso país.
O capítulo IV, serviu como cenário para investigar as possibilidades de sinergia entre A Pedagogia do Esporte e os Jogos Cooperativos .
Verifiquei, inicialmente, o conceito de Esporte como um Fenômeno Humano altamente relevante para este momento de aceleradas mudanças e importantes transições.
À partir da Pedagogia do Esporte, me interesseiaposta de futebol appestu dar os princípios sócio-educativos que podem orientar o processo de ensino - aprendizagem do Esporte no contexto da formação integral e exercício da cidadania plena, tendo como uma das referências, a importante contribuição da proposta do Esporte Educacional de Cesar Barbieri (1996, 1998).
Em seguida, pretendi fazer um exercício de síntese tendo os Jogos Cooperativos como um elemento da Pedagogia do Esporte.
Refleti sobre a Consciência da Cooperação no Esporte e relacionei os princípios e estruturas cooperativas que podem contribuir para o processo ensino - aprendizagem da prática esportiva.
22 Procurei demonstrar, no capítulo V, O Jogo e o Esporte como um Exercício de Convivência, que perspectivados pela ótica dos Jogos Cooperativos, representam um contexto facil itador para a descoberta e aprimoramento de potenciais pessoais, bem como, para a promoção da convivência e cooperação num mundo de solidários ao invés de adversários, onde todos são importantes para realizar o (im)possível bem-estar e felicidade para todo s.
Para realizar essa tarefa, recorri às lições e aos ensinamentos que compartilhei com muitos parceiros, pessoas e instiuições, através da convivência com os Jogos Cooperativos na escola, na comunidade,aposta de futebol appempresas e no processo de auto-mútua descoberta do InterSer humano.
Concluindo esta introdução, gostaria de relembrar alguns dos principais pontos apresentados até aqui.
Considerei que o Jogo e o Esporte são experiências importantes e que podem nos auxiliaraposta de futebol appaperfeiçoar nosso jeito de compreender e viver a vida.
Aperfeiçoando nosso ‚estilo de jogo‛ podemos ultrapassar a lógica da separação e exclusão e passarmos a praticar a vida como um exercício de convivência e cooperação.
Quando incluímos a ética do Jogo Cooperativo,aposta de futebol appnossas experiências cotidianas, recuperamos o gosto pela aventura e ousadia; o senso de participação com liberdade e responsabilidade; tomamos consciência de 23 ser parte-e-todo; desfrutamos da beleza da recreação; colaboramos para a transformação de barreirasaposta de futebol apppontes e de advers áriosaposta de futebol appsolidários; e compartilhamos o profundo e sincero desejo de continuar jogando...e Convivendo.
O estudo que realizei foi e continua sendo, um desafio pessoal que assumo com muito entusiasmo e espírito de aventura.
Mas também, é um convite! É um convite para sermos parceiros neste jogo que, a partir de agora, de um modo ou de outro, já não é mais meu, começa a ser seu e poderá vir - a-ser, nosso.
Joguemos juntos! 24 CAPÍTULO I O Jogo numa Sociedadeaposta de futebol appTransformação ‚Vivendo e aprendendo a jogar, nem sempre ganhando, nem sempre perdendo mas, aprendendo a jogar‛ Elis Regina O Jogo tem sido objeto de diferentes estudos há muito tempo.
Pretendo neste capítulo, assinalar aspectos do Jogo procurando esclarecer alguns pontos básicos de seu relacionamento com a Educação e a Sociedade inseridas num contexto de aceleradas e profundas transformações.
Com esta compreensão alcançada, teremos melhores condições para nos envolvermos com o eixo principal desta dissertação: os Jogos Cooperativos como um conhecimento aplicado a diversos contextos, neste caso, com ênfaseaposta de futebol appseu entrelaçamento com as Ciências do Esporte, especificamente, com a Pedagogia do Esporte.25 1.
Conceitos e abordagens.
Em uma das mais cl{ssicas obras produzidas sobre o Jogo, ‚Homo Ludens‛ , seu autor Johan Huizinga, considera o jogo como algo que é anterior a própria civilização e que, portanto, necessita ser abordado com uma boa dose de reverência, isto é, com o devido zelo para observá-lo de acordo com suas relações históricas, culturais e sociais.
Para ele, o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fimaposta de futebol appsi mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da ‚vida quotidiana‛.(Huizinga, 1996, p.
33) Respeitando profundamente o pioneirismo de Huizinga e reconhecendo o valor deaposta de futebol appobra até os dias atuais, entendo que a noção de jog o, ao longo dos anos, transformou-se e diversificou-se bastante.
O Jogo, desde suas primeiras manifestações, esteve sempre imerso num ambiente muito dinâmico e de constantes modificações quanto as suas definições, aplicações e dimensões.
Alguns autores, entre eles, Freire (1989), Bruhns (1993), Paes (1996) e Friedmann (1996), concordam com a idéia de que há muita controvérsia a respeito do Jogo, especificamente, sobre as noções de Jogo, Brincadeira, Brinquedo, Atividade Lúdica e Esporte.
26 Abordando a questão conceitual do jogo, na perspectiva da Educação Física, Freire (1989, p.
116), considera que "brincadeira, brinquedo e jogo significam a mesma coisa, exceto que o jogo implica a existência de regras e de perdedores e ganhadores quando deaposta de futebol apppr{tica".
As fronteiras entre brincadeira, luta, dança, ginástica, jogo e esporte, são muito tênues e permeáveis, permitindo uma grande aproximação e interação entre essas diferentes manifestações.
Dessa maneira, as distinções serviriam mais a uma exposição didática do assunto e menos a uma compreensão rígida e estanque sobre a dimensão lúdica da experiência humana.
Tanto é assim, que para esse autor "é possível incluí -las todas no universo do jogo, considerando este a grande categoria do conjunto das produções lúdicas humana" (Freire, 1998, p.106).
E concluindo seu ponto de vista, Freire acredita que q uanto as finalidades do jogo, seja qual for o tipo de manifestação de jogo, o propósito é desfrutar da "oportunidade de conviver intimamente com as coisas do mundo, de modo a torná-las próximas de nós, mais conhecidas, menos amedrontadoras" (p.107).
Gostaria de destacar, dentre as várias dimensões da convivência oportunizada pelo Jogo, aquela que nos permite aperfeiçoar a convivência com os outros existentes dentro de nós mesmos .
Cuidar desse relacionamento íntimo, procurando conhecer, aceitar e dinamizar harmoniosamente os aspectos da nossa própria personalidade, é uma 27 das principais atenções sinalizadas pelos Jogos Cooperativos, como iremos ver mais adiante.
Friedmann (1996), considerando que não existe uma teoria completa do jogo, nem idéias admitidas universalmente, apresenta uma síntese dos principais enfoques projetados sobre o Jogo Infantil: Sociológico: influência do contexto social no qual os diferentes grupos de crianças brincam.
Educacional: contribuição do jogo para a educação; desenvolvimento e/ou aprendizagem da criança; Psicológico: jogo como meio para compreender melhor o funcionamento da psique, das emoções e da personalidade dos indivíduos; Antropológico: a maneira como o jogo reflete,aposta de futebol appcada sociedade, os costumes e a história das diferentes culturas; Folclórico: analisando o jogo como expressão da cultura infantil através das diversas gerações, bem como as tradições e costumes através dos tempos nele refletidos.
Compreendo que além destes, outros poderiam ser incluídos, como por exemplo, o enfoque Filosófico, estudado por Santin (1987, 1994), através do qual somos incentivados a exercitar a reflexão ética sobre os valores humanos presentes (ou ausentes) no jogo.
28 Aliás, é sob a luz desse enfoque filosófico do jogo, que no decorrer desta dissertação, teremos oportunidade para nos aprofundar na investigação do Jogo como um meio para o desenvolvimento integral do ser humano e de aprimoramento da qualidade de vida.
Apesar de vários autores terem pesquisado largamente sobre o jogo, o assunto não está esgotado, devendo merecer uma discussão permanente.
Assim, para efeito deste estudo, proponho o redirecionamento da lente pela qual enxergamos o Jogo, ampliando-a para promover uma síntese criativa e evolutiva, a partir da inclusão dos mais variados pontos de vista, até então projetados sobre o Jogo.
Nesse sentido, considero o Jogo, como um espectro de atividades interdependentes que envolve a brincadeira, a ginástica, a dança, as lutas, o esporte e o próprio jogo.
Sobre essa base, sustento a idéia da aproximação entre o Jogo e a Vida, compreendendo ambos como reflexo um do outro - Eu Jogo do jeito que Vivo e Vivo do jeito que Jogo.
Por isso, o Jogo é tão importante para o desenvolvimento humanoaposta de futebol apptodas as idades.
Ao jogar não apenas representamos simbolicamente a vida, vamos além.
Quando jogamos estamos praticando, direta e profundamente, um Exercício de Co -existência e de Re-conexão com a essência da Vida.
De acordo com a experiência que venho partilhandoaposta de futebol appalguns grupos através dos Jogos Cooperativos, pude observar um conjunto de 29 características, estruturas e dimensões que são comuns, tanto no Jogo comoaposta de futebol appoutras situações da Vida.
Tenho denominando esse conjunto de Arquitetura do Jogo porque permite olhar o Jogo como um campo de exercício das potencialidades humanas, pessoais e coletivas, na perspectiva de solucionar problemas, harmonizar conflitos, superar crises e alcançar objetivos comuns.
Vejamos algumas das estruturas que compõe essa Arquitetura : Visão : Meta-Concepções e Valores Essenciais que orientam e dão sentido - significado a todo processo do jogo.
Objetivo : Alcançar objetivos e/ou solucionar problemas.
Regras : Como uma referência flexível (implícita ou explícita) para iniciar e sustentar dinamicamente, o processo do jogo.
Contexto : Acontece no aqui-e-agora, como uma síntese do passado -presente- futuro.
Participação : Interação plena e interdependente de todas as dimensões do ser humano: física-emocional-mental-espiritual, tanto ao nível pessoal, interpessoal e grupal.
Comunicação : 30 Diálogo buscando uma compreensão ampliada e comum da situação .
Estratégias : Organização, planejamento e definição de ações, baseada no alinhamento das competências individuais e grupais.
Resultados : Marcas para balizar o processo continuado de aprendizagem.
Celebração : Valorizar cada instante jogado-vivido como uma oportunidade singular de sentir-se um com todos, independentemente do resultado alcançado.
Ludicidade : Sustentar o espírito de Alegria, bom -humor, entusiasmo, descontração e diversão.
Ser consciente do Prazer de Jogar.
Com a descrição da Arquitetura do Jogo acima apresentada, o ponto que desejo destacar é que o JOGO pode ser visto e praticado, não somente como uma atividade lúdica, característica da Educação Física e das Ciências do Esporte, muito embora, nelas o Jogo seja um de seus elementos fundamentais, mas também, como uma das expressões da Consciência humana.
Dentre os diferentes e importantes papéis atribuídos ao Jogo, focalizarei na seqüência desta exposição, algumas relações entre o Jogo e a Educação.31 2.O Jogo na Educação.
A importância do Jogo como elemento educacional é um fato reconhecido e que não necessita ser mais discutido, embora dev a ser sempre lembrado.
Minha intenção é refletir sobre que tipo de jogo necessitamos atualmente, levandoaposta de futebol appconta que tipo de educação e sociedade, pretendemos.
Será que as brincadeiras e jogos que se realizam nas aulas, correspondem a uma verdadeira contr ibuição para a construção de um ‚Mundo Melhor‛ 6 ? Ao apontar essa questão, sinalizo, automaticamente, para a importância de investigar o jogo no âmbito da Educação, tanto formal, como não - formal e informal.
Nesse sentido, para avançarmos, veremos algumas considerações sobre a escola como um contexto para a aprendizagem e sobre o Jogo como um de seus elementos pedagógicos.
Podemos apontar, conforme Friedmann (1996), algumas das principais características que a escola deve ter: Ser um elemento de transformação da sociedade.
Considerar as crianças como seres sociais e construtivos.
Privilegiar o contexto sócio -econômico e cultural.
Reconhecer as diferenças entre as crianças.
32 Considerar os valores e a bagagem que elas já têm.
Propiciar a todas as crianças um desenvolvimento integral e dinâmico.
Favorecer a construção e o acesso ao conhecimento.
Valorizar a relação adulto -criança caracterizada pelo respeito mútuo, pelo afeto e pela confiança.
Promover a autonomia, criticidade, criatividade, responsabilidade e cooperação.
A visão de escola concebida nesses termos, implica na adequação de todos os segmentos constitutivos da comunidade educacional.
Particularmente, interessa saber sobre como o Jogo, enquanto ação pedagógica, se insere nesse movimento de reordenaç ão educacional, pois de acordo com Freire (1989, p.
119), num contexto de educação escolar, o jogo proposto como forma de ensinar conteúdos às crianças aproxima-se muito do trabalho.
Não se trata de um jogo qualquer, mas sim de um jogo transformadoaposta de futebol appinstrumento pedagógico,aposta de futebol appmeio de ensino.
Através do jogo são estabelecidas possibilidades muito variadas para incentivar o desenvolvimento humanoaposta de futebol appsuas diferentes dimensões.
Vejamos como Friedmann (1996, p.
66), baseando -se nos estudos de Piaget (1971), apresenta algumas dessas possibilidades: 6 Brahma Kumaris World Spiritual University.
Visions of a Better World, 1993.
33 Desenvolvimento da linguagem: Até adquirir a facilidade da linguagem, o jogo é o canal através do qual os pensamentos e sentimentos são comunicados pela criança.
Desenvolvimento cognitivo: O jogo dá acesso a um maior número de informações, ‚tornando mais rico o conteúdo do pensamento infantil‛ (Friedmann, 1996, p64).
Também, ao jogar a criança consolida habilidades já adquiridas e as pode praticar, de modo diferente, diante de novas situações.
Desenvolvimento afetivo: O jogo é uma ‚janela‚ da vida emocional das crianças.
A oportunidade de a criança expressar seus afetos e emoções através do jogo só é possível num ambiente e espaço que facilitem a expressão: é o adulto que deve criar esse espaço.
Desenvolvimento físico-motor: A exploração do corpo e do espaço levam a criança a se desenvolver.
Piaget considera a ação psicomotora como a precursora do pensamento representativo e do desenvolvimento cognitivo, e afirma que a interação da criançaaposta de futebol appações motoras, visuais, táteis e auditivas sobre os objetos do seu meio é essencial para o desenvolvimento integral.
Desenvolvimento moral: 34 As regras do exterior são adotadas como regras da criança, quando ela constróiaposta de futebol appparticipação de forma voluntária, sem pressões.
A r elação de confiança e respeito com o adulto ou com outras crianças é o pano de fundo para o desenvolvimento da autonomia.
E só a cooperação leva à autonomia.
Em outras palavras, a oportunidade de jogar repercute na ativação de todos os níveis do desenvolvimento humano: físico, emocional, mental e espiritual.
Temos no jogo, uma oportunidade concreta de nos expressarmos como um todo harmonioso, um todo que integra virtudes e defeitos, habilidades e dificuldades, bem como, as possibilidades de aprender a Ser...
inteiro, e não pela metade.
Jogando por inteiro, podemos desfrutar da inteireza uns dos outros e descobrir o Jogo como um extraordinário campo para a descoberta de si mesmo e para o encontro com os outros.
Nessa direção, poderemos todos seguir, desde que sigamos nos re- creando como pessoa e também como Educadores uns dos outros.3.
Re-Creando 7 o Educador.7 Lao-TSÉ (1988, p.05) .
‚Crear é a manifestação da Essênciaaposta de futebol appforma de existência – criar é a transição de uma existência para outra existência‛.
Aqui, o sentido dado a Re-Creação, é o de recuperar o contato com a Essência da Vida.
35 Na antiguidade, Galileu-Galilei 8 considerava os educadores como "parteiros de idéias".
Talvez, possamos recuperar um pouco dessa imagem e nos assumirmos como facilitadores do despertar das potencialidades latentes no Ser.
Para tanto, é necessário que estejamos acordados, isto é, com a Consciência desperta, o suficiente para podermos apoiar o despertar uns dos outros.
Sustentar este ciclo de mútuo-despertar depende da disposiçãoaposta de futebol apppromover reciclagens nos vários padrões e procedimentos educativos que trazemos na mochila pedagógica atrelada às nossas costas.
Não quero dizer com isso, que devemos abandonar o que aprendemos, mas re-ver essa aprendizagem, simultâneamente, quando nos dedicamos a preencher a mochila de outros, os quais, pretensiosamente, cremos trazem-nas vazias.
Penso, como tantos outros, que é preciso re -crear, re-educar o Educador, caracterizando-o como um mestre-aprendiz imerso num processo de formação e trans-formação permanente.
De acordo com Friedmann (1996, p.
74), o Educador deve incluir na bagagem para este viagem de co -educação as seguintes habilidades: Propor regras e leis,aposta de futebol appvez de impô -las.
Os alunos ao elaborarem e decidirem sobre as regras, estarão exercitando uma atividade política e moral.
8 Marylin Ferguson, 1980, p.297.
36 Possibilitar a troca de idéias para chegar a um acordo sobre as regras, praticando a descentração e coordenação de pontos de vista.
Dar responsabilidade para fazer cumprir as regra s e inventar sanções e soluções.
Permitir julgar qual regra deverá ser aplicada.
Fomentar o desenvolvimento da autonomia.
Possibilitar ações físicas que motivem as crianças a serem mentalmente ativas.
Para a autora, a atuação do educador se altera conform e o tipo de atividade.
No ‚jogo espont}neo‛, que é livre e nele a criança tem prazer simplesmente por brincar, o educador é um observador e mediador de conflitos.
Já no ‚jogo dirigido‛ o educador é mais que um orientador, ele intervém na atividade propondo desafios, colocando dificuldades progressivas no jogo para promover o desenvolvimento e fixar a aprendizagem.
Para ela, é muito importante saber escolher adequadamente a atividade a ser proposta, e indica três critérios para ajudar o educador a analisar a utilidade educacional de um jogoaposta de futebol appgrupo: 1) O jogo deve sugerir alguma coisa interessante e desafiante para as crianças.
2) Um bom jogoaposta de futebol appgrupo deve possibilitar à criança avaliar os resultados de suas ações.
Se o adulto impõe a avaliação como uma verdade , a criança se tornará muito dependente e insegura daaposta de futebol appprópria habilidade de tomar decisões.
37 3) A participação de todas as crianças durante o jogo é fundamental.( ...
)O contexto do jogo deve ser estimulante para a atividade mental da criança e, segundo suas capacidades, para a cooperação (Friedmann, p.75).
Tendo o jogo como meio de ensino, é inevitável refletir , não apenas sobre o caráter educacional do jogo, se o jogo é ou não é educacional, mas sim, tomarmos consciência de que uma vez que o jogo educa, uma pergunta deve sempre nos inquietar: O Jogo educa para quê? Qual a visão de mundo e humanidade e que valores estão por trás dos jogos que jogamos e, especialmente, daqueles que propomos para crianças, jovens e adultos jogar?! Que Habilidades Humanas estão sendo sensibilizadas e potencializadas através dos jogos? Temos oferecido alternativas para jogar com autonomia e cooperação? Ao adotarmos o Jogo como uma pedagogia, assumimos o compromisso de recriá-lo constantemente, visando o exercício crítico -criativo permitindo àquele que participa do jogo conhecer e experimentar, tanto o já existente, como o que ainda está para existir.
A percepção das possibilidades de ExerSer (por o Seraposta de futebol appexercício) e de InterSer (Ser com os outros)aposta de futebol appsociedade, dada pelo Jogo, é uma das primeiras condições para que possamos escolher entre aceitar ou 38 discordar de certas convenções, e então, participar efetivamente do projeto de construção da sociedadeaposta de futebol appque vivemos.4.
Jogando numa Sociedadeaposta de futebol appTransformação.
Estivemos percorrendo uma trilha, pela qual pudemos entraraposta de futebol appcontato com a noção de Jogo e com o papel do Jogo no ambiente educacional.
Agora, seguiremos construindo uma ponte - de mão dupla - entre o poder de transformação do Jogo , eaposta de futebol appcorrespondente influência na sociedade, e vice-versa, porque segundo Freire (1989, p.
117), "o jogo não representa apenas o vivido, também prepara o devir".
Para continuarmos este discurso, tomarei por base, os estudos desenvolvidos por Terry Orlick, um eminente professor da Universidade de Ottawa-Canadá, PhDaposta de futebol appPsicologia do Esporte, tendo sido atleta e técnico da seleção nacional de Ginástica Olímpica.
Ele é um dos mais conceituados pesquisadores sobre o Jogo e suas interfaces com o desenvolvimento social e cultural da humanidade, tendo inclusive realizado estudosaposta de futebol appdiferentes culturas ancestrais, tais como, na China, Austrália (Aborígenes), Alaska (Esquimós), Canadá (Inuits) e Nova Guiné (Arapesh).
Orlick é, principalmente, um dos precursores do s Jogos Cooperativos no mundo, sendo uma referência obrigatória para os estudos nessa área.
39 Tendo investigado a relação entre Jogo e Sociedadeaposta de futebol appdiferentes culturas no mundo, inclusive culturas ancestrais, ele corroborou uma série de evidências que indicam o valor dos jogos para a manutenção ou transformação de crenças, valores e atitudes na vida.
Para o autor, "quando participamos de um determinado jogo, fazemos parte de uma minissociedade, que pode nos formaraposta de futebol appdireções variadas" (Orlick, 1989, p.107).
Assim, a experiência de jogar é sempre uma oportunidade aberta, não determinada, para um aprender relativo.
Dependendo dos princípios, valores, crenças e estruturas que estão por tr{s dessa ‚minissociedade - jogo‛, podemos tanto aprender a sermos solid{r ios e cuidar da integridade uns dos outros, como, ao contrário, podemos aprender que jogando podemos ser mais importantes que alguém, e se importar muito pouco, com o bem-estar dele.
A intencionalidade subjacente ao jogo, é indicadora do tipo de papel social que se espera promover através dessa pedagogia.
De acordo com Orlick (1989, p.
108), se os padrões das brincadeiras preparam as crianças para os seus papéis como adultos, então será melhor nos certificarmos de que os papéis para os quais elas estão sendo preparadas sejam desejáveis.
Ao refletir sobre que papeis são desejáveis, sou levado a retroceder um pouco mais, e pensar: desejáveis para que tipo de cenário? 40 Aqui, vale recordar a Visão de sociedade que orienta esta dissertação.
Compreendo que vivemos um momento de estreita interdependência entre todas as formas de vida habitando o Planeta Terra.
Todos temos o compromisso de zelar pelo bem-estar uns dos outros, afim de sustentarmos o processo de co -evolução no qual estamos imersos.
Somos, cada indivíduo, de cada espécie e de todos os reinos, mútuamente importantes e co -responsáveis pela felicidade comum.
Alias, felicidade é um estado que só é possível de se manifestar, na medidaaposta de futebol appque permitir ser desfrutado, não por um ou alguns, mas por todos, sem exceção.
Alguém acredita que é possível ser, realmente, feliz, sozinho? E se por acaso, achar que sim, crê que seria capaz de sustentá -la solitariamente ouaposta de futebol appoposição a outros? Viveraposta de futebol appsociedade é um exercício de solidariedade e cooperação, destinado a gerar estados de bem-estar para todos,aposta de futebol appníveis cada vez mais ampliados e complexos.
Sendo um exercício, carece da com-vivência consciente de atitudes, valores e significados compatíveis com essa aspiração de felicidade interdependente..
Nesse sentido, reafirmo o potencial do Jogo como um caminho para a transformação pois, conforme Orlick (1989, p.
121), Os jogos são um elemento importante do ambiente natural, tanto quanto o lar, a comunidade e a escola.41 ( ...
) Eles tem o potencial de ajudar a dim inuir a lacuna que existe entre as atitudes declaradas dos adultos e o seu comportamento efetivo, entre o que as crianças dizem querer e o que recebem agora.( ...
) Portanto, é viável introduzir comportamentos e valores por meio de brincadeiras e jogos, que com o tempo, poderão afetar a sociedade como um todo.
Confio que ao modificar o comportamento no jogo, estaremos criando possibilidades para transformar atitudesaposta de futebol appnossa vida além do jogo.
Porém não há garantias que isso venha a acontecer.
E é justamen te por essa boa dose de incerteza, que me sinto entusiasmado a continuar jogando...
No percurso desta breve exposição sobre o entendimento a respeito do Jogo, procurei destacaraposta de futebol apprelevância no contexto educacional e social, enfatizando, também, o lugar do Jogo no processo de formação e transformação pessoal.
No próximo capítulo, iremos mergulhar na Consciência da Cooperação, investigando mitos e rios sobre a Cooperação e Competição.
Através dessa exploração, estaremos nos preparando para realizar uma das principais sínteses desta dissertação: O encontro do Jogo com a Cooperação.
42 CAPÍTULO II A Consciência da Cooperação ‚Nunca duvide da força de um pequeno grupo de pessoas para transformar a realidade.
Na verdade eles são a única esperança de que isso possa acontecer.
‛ Margaret Mead Pretendo, neste capítulo, dialogar sobre algumas das mais recentes abordagens sobre a Cooperação, destacandoaposta de futebol appimportância para o desenvolvimento do Ser Humano integral, no exercício deaposta de futebol appcidadania plena, visando a promoção de uma melhor qualidade de vida.
Para Orlick, estamos transitando por um instante de muita delicadeza, pois A sociedade humana tem sobrevivido porque a cooperação de seus membros tornou possível a sobrevivência.
A cooperação contínua é talvez m ais importante para o homem que para qualquer outra espécie, porque a ação humana tem um efeito direto sobre todas as outras espécies.
Não só tem a capacidade de enriquecer ou destruir a si mesmo, 43 como também a todo o ambiente natural.(1989, p.
22) Nesse sentido, refletiremos sobre a Cooperaçãoaposta de futebol appalgumas de suas diferentes dimensões: filosófica, antropológica, sociológica, psicológica, educacional, religiosa e biológica - considerando conceitos e preconceitos, mitos e ritos, e outras idéias e experiênc ias que contribuam para ampliar nossa compreensão sobre esse tema.1.
Cooperação e Competição.
Antes de abordar o assunto principal deste capítulo, a Consciência da Cooperação, faremos uma pequena análise sobre os conceitos de Competição e Cooperação.
Muitos estudos têm tratado de compreender a competição e a cooperação, desde as clássicas abordagens de Morton Deutsch (1949) 9, no campo da psicologia social e da antropóloga, Margaret Mead (1962), até as concepções mais atuais, apresentadas por Khon (198 6), Saraydarian (1990), Combs (1992), Kagan (1994) e Henderson (1998).
Apesar disso, esses estudos não têm sido suficientes para evitar a polêmica que surge, sempre quando se toca no assunto Competição e Cooperação.
Cooperação e Competição, são aspectos de um mesmo espectro, que não se opõe, mas se compõe.
No entanto, essa composição dos contrários, 9 Citadoaposta de futebol appRodrigues, 1972 eaposta de futebol appOrlick, 1989.
44 depende de inúmeros fatores que a condiciona a um estado de permanente atenção e cuidado.
O senso comum, associa a Competição com o Jogo, como se estes fossem sinônimos e como se um não pudesse existir sem o outro.
Também, é comum encontrar afirmações sobre a Cooperação, que se perpetuaram no tempo e no espaço da cultura popular: "Cooperação não tem graça".
"Que vantagem a gente leva, se todo mundo ganha?".
"Cooperar? Isso é uma utopia! É pra outro mundo!".
"E tem mais, a Competição faz parte da natureza humana, a gente nasce competindo!".
Afinal, Jogo e Competição são diferentes, ou Competição é sinônimo de Jogo, e vice-versa? E Competição e Cooperação, o que é melhor? É possível Cooperar numa sociedade competitiva? Competição e Cooperação, são processos sociais e valores humanos presentes no Jogo, no Esporte e na Vida.
São características que se manifestam no contexto da existência humana e da vidaaposta de futebol appge ral.
Porém, não representam, nem definem e muito menos substituem, a natureza do Jogo, do Esporte e da Vida.
45 Somente o melhor conhecimento desse processo, pode oferecer condições para dosar Competição e Cooperação, nos diferentes contextos nos quais se manifestam.
Particularmente, interessa saber como balancear o grau de Competição e Cooperação no Jogo e no Esporte.
Para irmos além, é recomendável reunir outras definições e conceitos.
Considerando, como já disse, que Cooperação e Competição, são processos de interação social, basearei a busca no campo da Psicologia Social pois, é esta área da ciência que mais especificamente, tem tratado do assunto.
Os estudos de Deutsch apud Rodrigues, 1972, sobre Cooperação e Competição, fornecem uma série de evidênc ias relacionadas ao comportamento de indivíduosaposta de futebol apppequenos grupos quando colocados diante da necessidade de alcançar metas, ou solucionar conflitos.Rodrigues (1972, p.
149) apresenta algumas hipóteses levantadas por Deutsch, as quais ‚receberam inequívoco apoio experimental no teste a que foram submetidas" (Fig.1).
Em síntese, para Deutsch apud Rodrigues 1972, há uma situação competitiva quando, "para que um dos membros alcance seus objetivos, outros serão incapazes de atingir os seus" .
E uma situação cooperativa é aquelaaposta de futebol appque os objetivos (goal regions) dos indivíduos de uma situação são de tal ordem que, para que o objetivo de 46 um indivíduo possa ser alcançado, todos os demais integrantes da situação, deverão igualmente alcançar seus respectivos objetivos.
Estudando Competição e Cooperação, como atitudes sociais, Zajonc (1973, p.
96), considerou que uma atitude é competitiva , quando "o que A faz, é no seu próprio benefício, masaposta de futebol appdetrimento de B, e quando B fazaposta de futebol appseu benefício mas,aposta de futebol appdetrimento de A.
" Por outro lado, o autor define que uma atitude é cooperativa quando "o que A faz é, simultaneamente, benéfico para ele e para B, e o que B faz é, simultaneamente, benéfico para ambos".
Baseado nessas idéias, a primeira compreensão conceitual é a s eguinte: Cooperação é um processo onde os objetivos são comuns e as ações são benéficas para todos.
Competição é um processo onde os objetivos são mutuamente exclusivos e as ações são benéficas somente para alguns.
SITUAÇÃO COOPERATIVA SITUAÇÃO COMPETIT IVA Percebem que o a tingimento de seus obje t ivos , éaposta de futebol apppar te , consequência da a çã o dos outros membros.
Percebem que o a tingimento de seus obje t ivos é incompat ível com a obtençã o dos obje t ivos dos demais .
Sã o mais sensíveis às sol ic i tações dos outros .
Sã o menos sensíveis às sol ic i ta ções dos outros .
Ajuda m-se mutuamente com frequência Ajuda m-se mutuamente com menor frequência .
Há maior homogeneidade na quantidade de contr ibuições e parti cipa ções .
Há menor homogeneida de na quantidade de contr ibuições e parti cipa ções .
A produtividadeaposta de futebol apptermos qual i ta t ivos é maior .
A produtividadeaposta de futebol apptermos qual i ta t ivos é menor .
A espec ia l izaçã o de at iv idades é maior .
A espec ia l izaçã o de at iv idade é menor .47 Fig.
1 – Si tuação Cooperativa e Si tuação Competi tiva (modificad o por Brotto, 1997.
) Entendo Cooperação e Competição como processos distintos porém, não muito distantes.
As fronteiras entre eles são tênues, permitindo um certo intercâmbio de características, de maneira que podemos encontraraposta de futebol appalgumas ocasiões, uma competição-cooperativa e noutras, uma cooperação-competitiva.
Admitindo essas aproximações, faz-se necessário redobrar a atenção sobre a dinâmica Cooperação-Competição, pois sendo menos rigorosa a distinção entre elas, poderemos estar ainda mais sujeitos a cometer equívocos.
Nesse sentido, somos advertidos mais uma vez por Deutsch, quando ao final de seu estudo sobre a natureza e o comportamento de grupos cooperativos e competitivos, concluiu que: A intercomunicação de idéias, a coordenação de esforços, a amizade e o orgulho por pertencer ao grupo que são fundamentais para a harmonia e a eficácia do grupo, parecem desaparecer, quando seus membros se vêem na situação de competir para a obtenção de objetivos mutuamente exclusivos.
Ademais, há alguma indicação de que competição produz maior insegurança pessoal (expectativas de hostilidade por parte de outros) do que cooperação (apud Rodrigues, 1972, p.151).
Preocupando-se com essa questão, Orlick (1989, p.
76) sugere que devemos examinar os meios e os fins de um comportamento específico, 48 antes de afirmar ou não,aposta de futebol appconveniência relativa a determinada situação.
Ele diferencia 2 tipos de situações: Situações mais desejáveis: meios e fins são humanizadores.
Situações piores: meios e fins são desumanizadore s.
Para o autor, as relações, ‚humanizadora‛ e ‚desumanizadora‛ se caracterizam por: Relação humanizadora : bondade, consideração, compaixão, compreensão, cooperação, amizade e amor.
Relação desumanizadora : falta de interesse para com o sofrimento do outro, crueldade, brutalidade, e a desconsideração geral para com os valores humanos.
Essas relações são pontos extremos de uma escala de atitudes que Orlick (1989, p.
106) denomina: "Tabela Sequencial de Competição -Cooperação" (Fig.2).
Como seres humanos, individual ou coletivamente falando, somos capazes de atos de extrema violência, ou contra os outros ou contra si mesmo (‚rivalidade competitiva‛).
Do mesmo modo, porémaposta de futebol appdireção oposta, somos, extraordinariamente, aptos para doar -nos, 49 incondicionalmente, aos outros, mesmo que ao fazê -lo, aparentemente, nos prejudiquemos (‚auxílio cooperativo‛).
Seria possível imaginar um ponto de encontro entre Competição e Cooperação? COMPORTAMENTO ORIENTAÇÃO MOTIVAÇÃO PRINCIPAL Rivalidade competi t iva Ant i -Humanis ta Dominar o outro.
Impedir que os outros a lcancem seu obje tivo.
Satis fa çã oaposta de futebol apphumilhar o outro e assegurar que nã o a tin ja seus obje t ivos .
Disputa competi t iva Dir igida para um obje tivo (contra os outros) A competiçã o contra os outros é um meio de atingir um obje tivo mutuamente dese já vel , como ser o mais veloz ou o melhor .
O obje tivo é de impor tância pr imordial , e o bem -es tar dos outros competidores é secundário.
A competiçã o é , às vez es , or ientada para a desvalor iza çã o dos outros .
Indivi dualismo Em direçã o a o ego Perseguir um objetivo individual .Ter êxi to.
Dar o melhor de s i .
O foco es táaposta de futebol appreal izações e desenvolvimentos pessoais ou o aperfei çoa mento pessoal , sem re ferência competi t iva ou coopera t iva a outros .
Competição cooperat iva Em direçã o a o obje t ivo ( levandoaposta de futebol appconta os outros) O meio para se a t ingir um obje tivo pessoal , que não se ja mutuamente exclus ivo, nem uma tentat iva de desvalor iza r ou destruir os outros .
O bem-es tar dos competidores é sempre mais impor tante do que o o bjet ivo extr ínseco pelo qual se compete .
Coopera ção não competi t iva Em direçã o a o obje t ivo ( levandoaposta de futebol appconta os outros) Alcançar um obje tivo que necessi ta de tra balho conjunto e par ti lha .
A cooperaçã o com os outros é um meio para se a l cançar um obje t ivo mutua mente dese jado, e que também é compart i lhado.
Auxíl io cooperativo Humanis ta - a l truísta Ajudar os outros a a t ing ir seu obje t ivo.
A cooperaçã o e a a juda sã o um f imaposta de futebol apps i mesmas,aposta de futebol appvez de um meio para se at ing ir um f im.
Sat is façã oaposta de futebol appa judar outr as pessoas a a l cançar seus obje t ivos 50 Fig.
2 – Tabela sequencial de Competição -Cooperação Considero que antes de viável, essa síntese é vital, conforme nos sugere Seyle apud Orlick, 1989, p.
85, através do seguinte comentário sobre altruísmo e egoísmo: O instinto da auto-preservação não precisa entraraposta de futebol appconflito com o desejo de ajudar os outros.
O altruísmo pode ser considerado uma forma modificada de egoísmo, uma espécie de egoísmo coletivo, que ajuda a comunidade pelo fato de gerar gratidão.( ...
)Essa é talvez a maneira mais humana de garantir a nossa segurança (homeostase ou tendência a manter a estabilidade) na sociedade.
Gerando gratidão e confiança induzimos os outros a partilhar nosso desejo natural de bem -estar.
Desse modo, podemos despertar, como nos inspira, Khon (1986), para o lado mais luminoso da natureza humana.
Temos a capacidade de escolher a maneira de nos comportar e de, conscientemente, colaborar para a melhor qualidade de vida para todos.
Com base nas colocações feitas até aqui, pa rece não existir uma ‛natureza‛ definida e muito menos definitiva, que determine nossas atitudes como competitivas ou como cooperativas.
Não podemos explicar nossos atos como reflexos de uma pseudo -natureza, competitiva, nem cooperativa.
51 Competir ou cooperar são possibilidades de agir e de Ser no Mundo.
Enquanto possibilidades, dependem da vontade, do discernimento e da responsabilidade pessoal e coletiva, para se concretizarem na realidade.
Somos educados e/ou condicionados para cooperar ou competir.
Cabe assumirmos a responsabilidade por nossas escolhas, mesmo que a escolha seja, não escolher ou deixar -se escolher por outros.
Do contrário, arriscamos perpetuar "a ilusão de separatividade" (Weil, 1987) que durante tanto tempo, sustentou o mito da competiti vidade como condição única para a existência e evolução.
Fiquemos atentos, porque se nossa qualidade de vida futura, e talvez até nossa sobrevivência, depender da cooperação, todos pereceremos se não estivermos aptos a cooperar, a ajudar uns aos outros, a sermos abertos e honestos, a nos preocuparmos com os outros, com as nossas gerações futuras.( ...
) devemos nos afastar da competição cruel e começarmos a enfatizar a cooperação e a preocupação com os outros.(Orlick, 1989, p.
182) Realmente compartilho com essa visão.
Não sou contra a Competição, mas sou francamente a favor da Cooperação.
E adoto esta posição, não porque Cooperação é boa e Competição é ruim.
Mas, porque acredito que Cooperação é mais adequada e mais necessária, e não apenas para este momento, mas para os próximos tempos e para as gerações que virão.
Desmistificar a competição e ritualizar a cooperação, pode nos ajudar enxergar com novos olhos as velhas paisagens.
E desse modo, quem 52 sabe, possamos descobrir novas passagens e sacar um jeit o diferente de praticar o Jogo da Vida.2.Mitos e Ritos.
Um dos principais propósitos neste estudo, é colaborar para uma melhor compreensão sobre Cooperação e Competição e como o Jogo e o Esporte podem servir como uma Pedagogia para desenvolver os val ores que acreditamos.
Entre as causas que motivaram a realização deste trabalho, está o fato de existir uma série de mitos, preconceitos e idéias confusasaposta de futebol apptorno de Cooperação e Competição.
Considerando que uma das funções da investigação científica é a passagem do senso comum para o conhecimento consciente, trataremos de refletir sobre alguns mitos e preconceitos que circulamaposta de futebol apptorno dessa questão.
Diversos estudos têm colaborado para desmistificar a Competição e Cooperação, tais como as pesquisas e pu blicações realizadas por Orlick (1982, 1989), Johnson & Johnson (1989), Khon (1986), Weinstein & Goodmann (1993), Kagan (1994) e Brown (1994), Brotto (1995/1997, 1996) entre outros.
Tomarei como base para esta abordagem os estudos de Brown (1994), que têm contribuído através dos Jogos Cooperativos, para o processo de 53 Educação Popular de adultos, na Venezuela e na Educação Infantil nos Estados Unidos, entre outros.
Em uma de suas publicações: ‚Jogos Cooperativos: teoria e pr{tica‛ (1994), ele apresenta algumas das mais comuns e freqüentes idéias associadas a Cooperação e Competição que, de um modo geral, refletem um conhecimento ingênuo sobre o tema.
Sobre os (pre)conceitos citados por Brown, refletiremos juntamente com outros autores, buscando ir além do senso comum para encontrar sentidos e significados mais claros e precisos.
"Você acredita que vai eliminar a competição?" "Não.
Não vamos elimin{ -la, mas esse fato não tira a possibil idade de analisá-la e propor alternativas" (Brown, 1994, p.40).
Muitas vezes, o simples fato de questionar algo já estabelecido, implica na falsa impressão da obrigatoriedade de, ao fazê -lo, contradizê-lo, negá-lo ou modificá-lo.
Isto pode explicar alguns casos de verdadeiro temoraposta de futebol apprefletir, perguntar, indagar sobre o ass unto.
Evidentemente, não é esse o meu entendimento.
Estou me dispondo a abrir os olhos para poder ver melhor a realidade, da qual somos parte-todo integrante.
Acredito na importância de promover a Cooperação.
Sou francamente à favor da Cooperação como uma dinâmica social e um Valor Humano, essenciais para a construção de um Mundo Melhor.
54 "Se não tem competição, qual é a graça?" Esse comentário indica aquilo que muitos pensam: que a competição é o elemento que d{ ‚graça‛ a um jogo; que o fato de ter um ganhador é importante (e condição necessária) para mostrar as capacidades do jogador.O desafio(...
)é a superação coletiva de algum obstáculo externo ao grupo.
E para conseguir superá-lo, necessita-se da colaboração de cada um dos participantes, não somente dos melhores, dos mais fortes ou dos mais ágeis.(Brown, 1994, p.
40) Nem sempre, as crianças, jovens e adultos que participam, direta ou indiretamente, de uma ‚competição‛, realmente se divertem.
É comum observar que a diversão está restrita ao final d o jogo, quando aquele que vence celebra a vitória.
Nesses casos, a competição é tida como um elemento motivador/desafiador, e não, propriamente, promotora da ‚graça‛, alegria ou divertimento.
Desafio e ‚Graça‛ são componentes fundamentais para nossa co - existência.
Eles podem ser promovidos por diferentes meios, preferencialmente, através de Jogos e Esportes que sirvam para desenvolver um interesse genuíno pela segurança e o bem -estar uns dos outros.
"Na competição, cada um dá mais de si, assim que os r esultados são melhores" 55 Muitas pesquisas foram realizadas, comparando situações de cooperação e competição.
David e Roger Johnson publicaram uma sitematização, isto é, uma resenha de várias pesquisas baseadas no mesmo tema.
Parte do seu estudo abrangeu 10 9 pesquisas: 65 concluíram que a cooperação produz melhores resultados do que a competição; oito concluíram o contrário e 36 não encontraram nenhuma diferença.(Brown, 1994, p.
40) David e Roger Johnson (1989) realizaram inúmeras pesquisas sobre a Competição e Cooperação, particularmente, no contexto educacional.
A maior parte de suas conclusões indica que o processo ensino- aprendizagem é enriquecido quando os alunos são colocadosaposta de futebol appsituações de aprendizagem cooperativa.
Estes estudos são uma referência importante para a Pedagogia, devendo constituir-se num conjunto de informações, que por seu caráter científico, devem orientar ações e relações educacionais, numa nova perspectiva de ensinar e aprender uns com os outros.
Além desse estudo, temos Deutsch apud Orlick, 1989, p.
24, queaposta de futebol appuma de suas pesquisas, obteve como resultados a indicação de que a cooperação, e não a competição, dentro de um grupo leva à maior coordenação dos esforços, maior diversidade na quantidade de contribuições dos membros, maior atenção aos companheiros, maior produtividade por unidade de tempo, melhor qualidade dos resultados, maior amizade, e a avaliação mais favorável do grupo e de seus resultados ao sentimento mais intenso de apreciação pelos companheiros.
56 Tanto para a educaçãoaposta de futebol appgeral, como para outras relações sociais e de produção, deveríamos nos pautar pelas evidências demonstradas por estes, e por tantos outros estudos, ao invés de nos deixarmos levar pelo senso comum.
"A competição é boa enquanto é sadia." ( ...
) é difícil falar de competição ‚boa‛ ou ‚m{‛.
No melhor dos casos, a competição nos leva a ver os outros com desconfiança.
No pior, pode provocar uma agressão direta.
Em situação de competição, somos menos capazes de ver as coisas a partir da perspectiva do outro.(Brown, 1994, p.
41) Considerando o fato de vivermosaposta de futebol appsociedade, sabemos que a qualidade de vida está intimamente ligada ao cuidado que dedicamos ao meio ambiente e, especialmente, ao ‚meio da gente‛ 10.
Se pretendemos uma vida saudável, é preciso que saibamos nos colocar uns no lugar dos outros, visando aprimorar as condições de convivência e qualidade de vida.
A esse respeito, um estudo pioneiro realizado por Sherif et.al.
apud Orlick, 1989, p.
27, deu apoio à hipótese de que, quando um grupo só pode atingir seus objetivos às custas de um outro, seus membros se tornarão 10 Durante a Eco92, realizada no Rio de Janeiro, viu-se circulando entre faixas, cartazes e camisetas, a mensagem: ‚O meio ambiente começa no meio da gente".
Uma alusão direta ao respeito e cuidado de uns com os outros seres humanos para podermos participar da recuperação da harmonia com os demais ecossistemas.
57 mutuamente hostis , embora os grupos sejam compostas de indivíduos normais e bem ajustados.( ...
) Introduzir conflitos entre grupos visando criar harmonia dentro de outros grupos, não é nem necessário nem justificável, e ,aposta de futebol apptermos de cooperação e harmonia entre toda a humanidade, é contraprodutivo.
Aprender a solucionar problemas, encontrar soluções positivas, dialogar, desenvolver e valorizar as virtudes, descobrir potencia is, assumir responsabilidades, sustentar um clima de bom humor, descontração e ao mesmo tempo, manter -se concentrado e flexível; são habilidades fundamentais para superar crises e dificuldades.
Essas habilidades precisam ser aprendidas e aperfeiçoadas e e sta aprendizagem será melhor incentivada, na medida que se oferecem condições para a troca de experiências e construção coletiva de alternativas positivas para todos, ao invés de estimular ‚falsos conflitos‛, com o pretexto de desafiar a criatividade.
Somente através da aproximação e a empatia é possível recriar problemas e descobrir soluções de um modo pacífico, criativo e saudável para todos.
"E o esporte?" O ensino de Educação Física não exige reforçar a competição.
A Educação Física deve procurar dese nvolver as destrezas de todos, e não somente dos melhores.
Imagine se para o ensino de outra matéria – ciência, 58 por exemplo – se fizesse uma prova para formar uma equipe, enquanto os outros assistem porque nada sabem.
Há alternativas para os professores de Educação Física.(Brown, 1994, p.
42) Concordo plenamente.
Existem alternativas já consolidadas na Educação Física, sobretudo, na Pedagogia do Esporte (Barbieri, 1996, Paes, 1996, Freire, 1998).
Além de buscar reafirmar a Educação Física como uma área de conhecimento importante para a formação humana, iniciativas dessa natureza são muito valiosas, porque conforme Orlick (1989, p.
111), Praticamente todos os assassinos, estupradores e terroristas foram um dia crianças que brincavam e iam à escola.
Se não aproveitarmos essa oportunidade de ensinar às crianças os valores humanos e fazer com que experimentem o valor das outras pessoas, estaremos cometendo um grave erro.( ...
) Devemos, portanto, mudar as habilidades de desempenhoaposta de futebol apphabilidades humanas.
Através dos Jogos e Esportes temos a oportunidade de ensinar - aprender e aperfeiçoar não somente gestos motores, técnicas e táticas, nem somente, habilidades de desempenho que nos capacitam para jogar melhor.
Isto é importante e é bom que seja muito bem feito.
Contudo, a principal vocação da Educação Física e das Ciências do Esporte, neste momento, é promover a co -aprendizagem e o aperfeiçoamento de Habilidades Humanas Essenciais , como: criatividade, confiança mútua, auto-estima, respeito e aceitação uns 59 pelos outros, paz-ciência, espírito de grupo, bom humor, compartilhar sucessos e fracassos e aprender a jogar uns com os outros, ao invés de uns contra os outros...para vencer juntos.
Inserido nesse contexto proponho os Jogos Cooperativos como uma Pedagogia para o Esporte e para a Vida.
"Mas o mundo é assim...
" A competição é um fato, mas a experiência nos mostrou que se pode oferecer alternativas ante essa situação.
Já sabemos competir; necessitamos poraposta de futebol appprática a cooperação como alternativa para enfrentar os problemas e juntos buscar soluções.(Brown, 1994, p.
42) A respeito dos mitos auto-perpetuados que se estabeleceram a respeito da Cooperação e Competição, penso que são,aposta de futebol appparte, decorrência de uma interpretação incompleta e equivocada sobre a ‚Teoria da Evolução das Espécies‛, formulada por Charles Darwin.
A esse respeito Orlick (1989, p.22).
comenta que, desde a origem dos organismos unicelulares, há bilhões de anos, a vidaaposta de futebol appgeral tem sido um misto de muita cooperação e competição limitada, tan to dentro das espécies como entre elas.
O impulso para a cooperação é ‚predominante e biologicamente mais importante‛ no desenvolvimento social e biológico de todas as criaturas vivas.
As espécies sobrevivem pelo aperfeiçoamento deaposta de futebol appcapacidade de cooperação mútua.
Pode-se afirmar claramente, então, que a lei básica da vida é a cooperação.
60 Robert Augros, PhDaposta de futebol appFilosofia e George Stanciu, PhDaposta de futebol appFísica Teórica In: Combs, 1992, p.
131, corroboram essa idéia ao afirmarem que a "natureza não é uma guerra entre um organismo contra os outros, mas é uma aliança baseada na cooperação" .
E, particularmente, sobre o desenvolvimento e evolução da espécie humana, Darwin considerou que "o valor mais alto para a sobrevivência está na inteligência, no senso moral e n a cooperação social – e não a competição" (Orlick, 1989, p.21).
Nos acostumamos tanto com a idéia da Competição fazer parte da nossa natureza, que demos pouquíssima importância a outra parte, a Cooperação.
Agora, estamos despertando para essa outra face d a vida, do mundo, da realidade, de nós mesmos.
Por isso, escolhi dedicar uma parte deste estudo, para focalizar a Consciência da Cooperação , como um contexto para a sustentação e desenvolvimento da proposta de Jogos Cooperativos.3.
A Consciência da Cooperação.
Nos últimos anos, tem crescido a produção de conhecimento e o diálogo sobre Cooperação, como podemos notar nos estudos, de Orlick (1989), Khon (1986, 1990), Saraydarian (1990), Maturana (1990), Combs (1992), Kagan (1994), Senge (1994) e Henderson (1998), entre outros.
61 A cooperação, solidariedade e interesse pelo bem -estar comum é um dos principais focos de atenção mundial neste final de século e virada de milênio, como podemos observar na declaração de Tenzin Gyatso - o XIV Dalai Lama, quando deaposta de futebol appprimeira visita ao Brasil : Creio que para enfrentar o desafio de nossos tempos, os seres humanos terão que desenvolver um maior sentido de responsabilidade universal.
Cada um de nós terá de aprender a trabalhar não apenas para si,aposta de futebol appfamília ou país, masaposta de futebol appbenefício de toda a humanidade.