O racismo, o preconceito e a homofobia ainda são alguns dos problemas mais graves da nossa sociedade.
E esses problemas também 🍏 se fazem presentes no esporte.
É sobre esse e outros assuntos que Luiz Ferreira conversou com o diretor executivo do Observatório 🍏 da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho.
Confira a entrevista.
Brasil de Fato: Marcelo Carvalho, nós temos acompanhado o aumento do número 🍏 de cacos de racismo, principalmente nos jogos da Copa da Libertadores da América, você pode fazer um panorama para a 🍏 gente?
Marcelo Carvalho: Os casos de racismo na Libertadores vêm aumentando significativamente.
Por exemplo, nos nossos números, nós temos monitorado 22 casos 🍏 de racismo em torneios da CONMEBOL (Confederação Sul-Americana de Futebol) desde 2014 e 8 desses casos aconteceram em 2018.
Já são 🍏 8 denúncias de racismo em competições da CONMEBOL só neste ano.
Na bônus cassino 2024 opinião, por que isso acontece? Por que as 🍏 pessoas ainda são racistas?
Sem falar na questão do racismo no futebol, no Brasil, a gente ainda trata a questão do 🍏 racismo de uma forma "não-concreta".
A gente fala de racismo, mas não vemos campanhas, ações por parte do governo de combate 🍏 ao racismo e de penalização.
Muitos casos que a gente têm no Brasil caem como injúria racial que é um crime 🍏 que, diferente do racismo que é inafiançável, a injúria não é.
A maioria dos casos caem nessa esfera e acaba que 🍏 não temos ninguém preso por racismo.
Temos acompanhando um pouco os casos da América do Sul, a questão do racismo não 🍏 é tratada da maneira devida.
A gente não tem, falando de futebol agora, punições para atos racistas no continente.
Dos 22 casos, 🍏 tivemos punição em apenas 3 deles.É muito pouco.
E nós tivemos diversos países sul-americanos punidos pela FIFA (Federação Internacional de Futebol) 🍏 por gritos homofóbicos e nenhuma ação de combate ou prevenção por parte da CONMEBOL .
Ao contrário, ela foi à FIFA 🍏 pedir para que as confederações não fossem punidas por que a homofobia é uma questão cultural de cada país.
O que 🍏 eu vejo é que não existe uma vontade política das entidades de combater o racismo no futebol.
Qual seria a solução 🍏 para acabar ou diminuir o racismo dentro dos estádios e das arenas? Tem que punir o clube? Tem que proibir 🍏 a torcida de entrar no estádio? O que fazer?
Já temos algumas punições já aplicadas.
Elas equivalem a uma multa que não 🍏 passa de R$ 20 mil aos clubes punidos.
É o mesmo que cobrar da gente R$ 20.
Punições desse tipo não funcionaram.
A 🍏 CONMENBOL precisa ter atitudes mais fortes.
Ela pode, por exemplo, fechar uma parte do estádio de onde veio o canto ou 🍏 o grito para punir o clube de uma forma maior.
Pode-se pensar em jogos com portões fechados, perda de mando de 🍏 campo ou até exclusão do torneio.
Mas tem que ser algo pesado para que os clubes comecem a pensar em formas 🍏 de combate e prevenção.
Desta forma, cada clube começa a trabalhar com seu torcedor para que isso não se repita.
Talvez assim 🍏 as coisas melhorem.
Enquanto as multas forem aplicadas com valores pequenos, os cânticos vão continuar existindo.
Sabemos que o trabalho do Observatório 🍏 está mais pautado naquilo que acontece aqui no Brasil, mas é impossível não pensar na Copa do Mundo.
O que é 🍏 que podemos esperar do mundial da Rússia, do país, que é conhecido pelos atos e cânticos racistas da bônus cassino 2024 torcida 🍏 e vai receber países como Brasil, Uruguai, Arábia Saudita, Egito, França e todos as nações africanas?
Aproveitando o gancho, no último 🍏 amistoso da França contra a Rússia nós tivemos cantos racistas contra o Pogba (volante da Seleção Francesa) e que levou 🍏 a FIFA a punir a Federação Russa nesse caso, mas num valor pequeno.
Diversas entidades que monitoram o racismo na Europa 🍏 por causa da Copa já apontaram para o grande número de casos de racismo na Rússia.
Já se falou muito nessa 🍏 questão e todas as pessoas que estão ligadas à organização da Copa do Mundo na Rússia disseram que o país 🍏 iria tomar atitudes de prevenção antes do Mundial.
Só que os casos continuam se repetindo.
E a gente ouve das pessoas do 🍏 Comitê Organizador da Copa que são "casos isolados".
Não são casos isolados.
Não podemos dizer isso.
A gente tem um grande temor de 🍏 que os casos de racismo na Rússia possam aumentar.
E muitos desses casos podem nem vir ao nosso conhecimento envolvendo torcedores 🍏 nas arquibancadas e fora dos estádios.
Mas eles também podem atingir os atletas dentro de campo.
A gente monitora os atletas brasileiros 🍏 que jogam na Rússia.
E o número de casos de racismo contra jogadores brasileiros no exterior é muito grande.
Principalmente no Leste 🍏 Europeu.
O próprio site do Itamaraty recomenda às pessoas que vão viajar para a Rússia que tomem cuidado com a xenofobia, 🍏 a homofobia e o racismo do país.
E a partida de abertura do mundial será disputada entre Rússia e Arábia Saudita...
A 🍏 FIFA não combate o problema como deveria.
Ela tinha criado um comitê de combate ao racismo.
E esse comitê foi desfeito às 🍏 vésperas da Copa do Mundo porque a entidade disse que os casos de racismo tinham diminuído e não havia mais 🍏 necessidade da manutenção desse comitê.
Diversos jogadores como o Yaya Touré se manifestaram contra a atitude da FIFA.
A preocupação maior é 🍏 essa.
As entidades que deveriam combater o problema não trabalham da maneira que deveriam trabalhar.
A gente também deve lembrar que a 🍏 FIFA trabalhou com monitores em jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo que enviavam relatórios sobre casos de racismo e 🍏 homofobia durante as partidas.
E as Confederações eram punidas.
A FIFA até trabalhou nesse sentido, mas não surtiu o efeito desejado.
Não tivemos 🍏 uma diminuição dos casos de racismo.
Eles se repetem todo dia.
Toda questão envolvendo todos os tipos de preconceito são classificados como 🍏 "mimimi" nas redes sociais.
O que podemos falar pras pessoas que pensam desse jeito?É muito difícil.
A gente trabalha no Observatório e 🍏 vê comentários dizendo "pô, lá vem vocês de novo falar de coisas que não existem mais", ou "lá vem vocês 🍏 de novo com esse 'mimimi', com esse vitimismo".
Num país que mata na bônus cassino 2024 grande maioria jovens negros, que tem uma 🍏 desigualdade social muito grande e que a grande maioria das pessoas que estão na parte de baixo da pirâmide são 🍏 negras, você não pode dizer que é vitimismo.
Desde a época da escravidão, o dia 14 de maio permanece.
Por que o 🍏 dia 14 de maio? Porque no dia 13 de maio de 1888 foi assinada a Abolição da Escravatura, mas nada 🍏 foi feito para que os negros libertos pudessem se inserir na sociedade.
Eles não podiam ter terra, não podiam estudar e 🍏 acabaram ficando à margem da sociedade.
E logo depois disso você teve o processo de "branqueamento" da população negra brasileira.
Os portos 🍏 foram abertos para os imigrantes alemães e italianos para que a população brasileira "branqueasse" e todas essas pessoas tiveram mais 🍏 acesso às coisas básicas do que a população negra.
Esse problema vem desde o dia 14 de maio de 1888.
A gente 🍏 teve mudanças sim.
As cotas inseriram muitos negros nas universidades e no serviço público.
Mas o problema racial do Brasil continua.
A gente 🍏 teve 350 anos de escravidão e temos 130 anos pós-escravidão e tudo aquilo que foi utilizado para inferiorizar o negro 🍏 e que a sociedade aceitasse que ele fosse tratado como animal continua na cabeça das pessoas.
A grande maioria das pessoas 🍏 ainda acredita que o negro é um ser inferior.
E aí temos diversos problemas da sociedade na questão racial.
A gente continua 🍏 discutindo o racismo, faz evento, faz debate e ele persiste.
Temos a lei para punir o racismo e ninguém é punido 🍏 quando sabemos que existem diversos casos de racismo que acontecem diariamente no Brasil.
Enquanto os problemas não forem encarados como devem 🍏 ser encarados tudo vai continuar assim.
O Brasil deve se assumir um país racista e a partir daí trabalhar pela inserção 🍏 do negro na sociedade e pela igualdade de condições.
E quando a gente fala de igualdade não é aquele lema da 🍏 CBF (Confederação Brasileira de Futebol), "Somos todos iguais".
O negro não é igual, o italiano não é igual, todo povo tem 🍏 as suas peculiaridades.
E a questão do negro é muito mais séria por que tudo que envolve o negro tem uma 🍏 carga muito grande de preconceito.
A gente vê na religião, nos costumes, tudo o que foi trazido da África foi embranquecido.
E 🍏 as pessoas ainda acreditam nessa inferioridade das pessoas negras.
Voltando para o futebol, uma das histórias mais famosas foi a tentativa 🍏 de embranquecimento da seleção brasileira após o vice-campeonato mundial em 1950.
Foi-se recomendado que o Vicente Feola escalasse uma seleção mais 🍏 branca possível em 1958 e, graças a deus, ele não deu ouvidos a isso.
E muita gente pensa assim não é, 🍏 Marcelo?
E nesse episódio, a CBD (antiga Confederação Brasileira de Desportos) contratou um psicólogo que fez um teste de QI no 🍏 Garrincha que deu um resultado muito baixo.
Esse psicólogo aconselhou a comissão técnica a nem levar o Garrincha e nem outros 🍏 jogadores negros pra Copa do Mundo de 1958.
Ele e o Pelé não começaram como titulares e depois conquistaram o Mundial.
Vamos 🍏 lembrar do caso do goleiro Barbosa que morreu injustiçado depois da tentativa se encontrar um culpado pelo vice-campeonato da Copa 🍏 de 1950.
Vamos voltar a 1921 por exemplo, quando o presidente Epitácio Pessoa baixa uma determinação para que atletas negros não 🍏 fossem convocados porque ele queria que o mundo enxergasse o Brasil mais claro.
A gente tem inúmeras situações de racismo e 🍏 preconceito envolvendo a seleção brasileira e a gente também gostaria de lembrar que a seleção nunca teve um técnico negro.Não 🍏 é vitimismo.
Quando a gente coloca a ausência de treinadores negros nos clubes e nas seleções, sempre aparece alguém pra perguntar 🍏 qual é a importância da cor da pele para se ter técnico da seleção e lembrar que o que vale 🍏 é a competência.
Daí vale lembrar que a gente já teve vários treinadores que não tinham competência para comandar a seleção 🍏 e o racismo que mais existe no país é o institucional.
Não vemos negros no poder, não vemos negros em cargos 🍏 de visibilidade, no esporte não vemos negros sendo técnicos ou presidentes de clube.
O grande problema não são os casos de 🍏 racismo.
A grande questão que precisamos trabalhar no Brasil é o racismo institucional.
É a falta do lugar do negro.
E quando ele 🍏 chega num lugar de destaque, seu talento, a bônus cassino 2024 capacidade é sempre colocada em dúvida.
Dentro do futebol a gente pode 🍏 ver isso.
Temos um grande número de jogadores atuando, mas fora das quatro linhas a gente tem uma pequena parcela desses 🍏 negros trabalhando em cargos de comando nos clubes e na seleção.
Temos é que lutar contra esse racismo institucional que existe 🍏 no Brasil.
Edição: Jaqueline Deister