Esporte e violência Deporte y violencia Sport and violence *Professor Doutor da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo 📈 Pesquisador, membro da equipe da USP do Núcleo de Estudos, Ensino e Pesquisa do Programa de Assistência Primária de Saúde 📈 Escolar – PROASE **Professora Doutora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (USP) Coordenadora do PROASE José Eduardo Costa de 📈 Oliveira Maria das Graças Carvalho Ferriani prof.zeduusp.
br (Brasil) Resumo Com o passar dos séculos, as bases da violência se deslocaram 📈 da luta contra os animais, como meio de sobrevivência humana, para fixar-se entre os homens, tornando o confronto físico entre 📈 os sujeitos, quase que inerente, na luta por maiores conquistas econômicas, territoriais, e, portanto, mais poder nas sociedades (ELIAS, 1994).
A 📈 violência, enquanto fenômeno do campo esportivo pode ser considerada como um processo social-cultural complexo, no qual intervêm fatores estruturais, ideológicos, 📈 financeiros e culturais.
Em vistas a intenção do presente em discutir e analisar a problemática da violência e suas interfaces com 📈 o esporte, partindo de uma perspectiva histórica deste fenômeno, o presente ensaio apresenta duas perspectivas para aqui tratar do tema.
A 📈 primeira, relacionada às origens da violência no Brasil e suas relações com o poder nas sociedades; na segunda, discutindo os 📈 rumos tomados pela violência esportiva na atualidade.
Numa perspectiva de uma análise conclusiva, o presente ensaio afirma que se faz de 📈 fundamental importância empreender ações que possam gerar subsídios para novas análises e aprofundamento da temática, pois, observa-se o fato da 📈 violência que se manifesta no esporte, no interior das arenas desportivas e no entorno delas, perfazer uma reprodução da violência 📈 instaurada nas sociedades e que foi construída ao longo de décadas de subserviência da população ao poder do Estado.
Portanto, tem 📈 relações diretas com o poder e é fruto da competição exacerbada e fomentada pela sociedade capitalista, que vê na competição 📈 entre os pares a única forma de aumentar a produção do sistema.Unitermos: Esporte.Violência.Poder.Sociedade.
Resumen A través de los siglos, los cimientos 📈 de la violencia se han trasladado de la lucha contra los animales como medio de supervivencia humana, a establecerse entre 📈 los hombres, haciendo que el enfrentamiento físico entre los sujetos, casi inherente a la lucha por alcanzar mayores logros económicos, 📈 territoriales, y por lo tanto, obtener más poder en las sociedades (Elias, 1994).
La violencia como un fenómeno del campo de 📈 los deportes se puede considerar como un complejo socio-cultural, en el que intervienen factores estructurales, ideológicos, económicos y culturales.
En vista 📈 de esta intención en la discusión y el análisis del problema de la violencia y su relación con el deporte, 📈 desde una perspectiva histórica de este fenómeno, este artículo presenta dos enfoques para abordar esta cuestión.
La primera se refiere a 📈 los orígenes de la violencia en Brasil y su relación con el poder en la sociedad; en la segunda, discutir 📈 la dirección tomada por la violencia en el deporte hoy en día.
Desde la perspectiva de un análisis concluido, este ensayo 📈 sostiene que es de fundamental importancia llevar a cabo acciones que pueden generar datos para el análisis y profundización del 📈 tema, ya que, está el hecho de violencia que se manifiesta en los escenarios deportivos y en las zonas circundantes, 📈 que constituyen una representación de la violencia en las sociedades y que fue construido durante décadas de sometimiento de la 📈 población al poder del Estado.
Por lo tanto, tiene una relación directa con el poder y el resultado de una mayor 📈 competencia y fomentada por la sociedad capitalista, que ve la competencia entre los iguales de la única manera de aumentar 📈 la producción del sistema.
Palabras clave: Deporte.Violencia.Poder.Sociedad.
Abstract Over the centuries, the foundations of violence have moved the fight against animals as 📈 a means of human survival, to establish himself among the men, making the physical confrontation between the subjects, almost inherent 📈 in the struggle for greater economic achievements, Territorial, and therefore more power in societies (Elias, 1994).
Violence as a phenomenon of 📈 the sports field can be regarded as a social-cultural complex, in which structural factors involved, ideological, financial and cultural.
In view 📈 of this intention in discussing and analyzing the problem of violence and their interfaces with the sport, from a historical 📈 perspective of this phenomenon, this paper presents two approaches to address the issue here.
The first related to the origins of 📈 violence in Brazil and its relationship with power in society, in the latter, discussing the direction taken by violence in 📈 sports today.
From the perspective of a definitive analysis, this essay argues that it is of fundamental importance to undertake actions 📈 that may generate data for further analysis and deepening of the topic since, there is the fact of violence that 📈 manifests itself in sports arenas within sports and in the surrounding areas, make up a representation of violence in societies 📈 and brought that was built over decades of subservience to the power of the population of the state.
Therefore, it has 📈 direct relationships with the power and the result of heightened competition and fostered by the capitalist society, which sees competition 📈 among peers the only way to increase production of the system.Keywords: Sport.Violence.Power.Society.EFDeportes.
com, Revista Digital.
Buenos Aires - Año 16 - Nº 📈 156 - Mayo de 2011.http://www.efdeportes.com/1 / 1Introdução
Com o passar dos séculos, as bases da violência se deslocaram da luta contra 📈 os animais, como meio de sobrevivência humana, para fixar-se entre os homens, tornando o confronto físico entre os sujeitos, quase 📈 que inerente, na luta por maiores conquistas econômicas, territoriais, e, portanto, mais poder nas sociedades.
Sendo que, uma das resultantes destes 📈 aspectos foi à delimitação dos Estados Nacionais (ELIAS, 1994).
É a referida constituição desses Estados Nacionais, com brazino 7 monopolização do poder, 📈 quem fomentou mudanças no comportamento dos sujeitos, constituindo a gênese da violência interna e a brazino 7 representação externa, bem como 📈 o controle de ambas, que se deu nas diferentes sociedades e que rebocou os comportamentos inadequados dos indivíduos durante o 📈 seu processo de civilização.
Em vistas a intenção do presente em discutir e analisar a problemática da violência e suas interfaces 📈 com o esporte, partindo de uma perspectiva histórica deste fenômeno, o presente ensaio apresenta duas perspectivas para aqui tratar do 📈 tema.
A primeira, relacionada às origens da violência no Brasil e suas relações com o poder nas sociedades e na segunda, 📈 discutindo os rumos tomados pela violência esportiva na atualidade.
Nesse sentido, para que seja possível estabelecer as analogias entre estes dois 📈 fenômenos sociais, inicia-se pelo próprio significado de – violência.
Violência é uma palavra de origem etimológica derivada do latim – violentia 📈 – que significa: "recurso à força para submeter alguém (contra vontade), ou exercício da força praticado contra o direito" (RUSS, 📈 1994.p 45).
Em razão das várias tentativas científicas de se explicá-la enquanto fenômeno social e esportivo encontra-se diferentes pontos de vista.
A 📈 exemplo do que relata o olhar da – antropologia - que através de suas lentes afirma que ela se revela 📈 de diversas formas, como no estresse, no traumatismo nas frustrações, tornando difícil uma teoria unitária (DOLLARD et.al, 1961).
Pois, é segundo 📈 esta mesma dimensão do fenômeno humano, uma das complexidades inerentes do sujeito.
Numa outra corrente – a biológica - definida por 📈 Lorenz (1969), considera a violência como uma qualidade inata e estuda os fatores reacionais e os fatores inibitórios do fenômeno.
Nessa 📈 mesma esteira, a – neurofisiologia - trazida por Waiselfiz (1998) se vale dos conceitos da interação, e, conseqüentemente da reação 📈 aos estímulos do ambiente, constituindo-se de agressões.
Pois as tensões geradas a partir do meio (interações interpessoais, jogo ou as competições) 📈 são também chamadas de estresse.
Já na corrente – sociológica – ótica do presente ensaio, brazino 7 gênese se explica na frustração 📈 que desencadeia a agressão (Zaluar, 1991).
Nessa linha, a violência também pode ser definida através da teoria da aprendizagem: pais violentos, 📈 filhos violentos.
Portanto, conclui-se que: sociedade violenta, esporte violento.
A abordagem sociológica da questão também pode ser considerada em uma díade – 📈 as abordagens empíricas e a teoria social.
Na primeira, os pesquisadores a relacionam ao número de acontecimentos violentos, a partir de 📈 indicadores socioeconômicos, mensurando então a intensidade destes, considerando brazino 7 pluralidade de manifestações (esportivas ou sociais/culturais), sendo algumas delas o terrorismo, 📈 as guerras civis, as repressões políticas, as religiosas, as esportivas e etc.
Na segunda, incumbe-se da tarefa de compreender os comportamentos 📈 violentos vinculados a algum outro fenômeno ou ambiente social (ao esporte, a escola, a família, por exemplo), encarando estes comportamentos 📈 enquanto fenômeno social e considerando a brazino 7 função no espaço/situação.
Apesar do que foi dito acerca dos comportamentos violentos nos diferentes 📈 nichos sociais, Zaluar (1991) ressalta a necessidade de não se ignorar a importância do conflito, pois, vê-se neste uma forma 📈 de sociabilizacão dos grupos, concebendo a violência ligada à rigidez das estruturas que a cercam.
Pois o conflito não seria o 📈 ameaçador destas mesmas estruturas, e sim, a própria rigidez que permitiria que as hostilidades se acumulassem e se concentrassem numa 📈 única linha separatória, culminando no comportamento violento.
Nessa mesma direção, e, ainda que existam grandes dificuldades para se definir o que 📈 se nomeia de violência nos diversos espaços coletivos de uma sociedade, a exemplo das arenas esportivos, nas aulas de educação 📈 física (escola) e na sociedade como um todo, bem como que existam poucos elementos que a vinculem, diretamente, com o 📈 fenômeno esportivo (ao menos aqueles relacionados à brazino 7 gênese), outros elementos, principalmente os conceituais podem ser delimitados, colaborando para a 📈 definição citada no inicio do texto (OLIVEIRA, 2009).
Como a noção de coerção ou força e os danos que se produz 📈 em um individuo ou grupo de indivíduos que pertençam à determinada classe social, gênero ou etnia (Chauí, 2001.p.14).
O presente texto 📈 percebe-se o conceito de violência a partir do que relata o mesmo a mesma autora, e que aqui é entendido, 📈 resumidamente: como a intervenção física de um indivíduo, ou de um grupo/instituição, contra a integridade de outro(s) e/ou contra si 📈 mesmo, abrangendo desde os suicídios, espancamentos (variações), roubos, assaltos, homicídio, agressões sexuais (variações), e, também todas as formas de violência 📈 verbal, simbólica, psicológica e institucional, além do preconceito e das incivilidades.
A violência no cenário brasileiro
No Brasil, a violência é responsável 📈 pela principal causa de mortalidade na faixa entre 05 a 49 anos de idade, sendo que, de 15 a 29, 📈 ela atinge o percentual alarmante de 64.
4% das mortes entre os jovens, conferindo inegavelmente um caráter de problema, não só 📈 esportivo, educacional ou policial, mas sim, de saúde pública (ABRAMOVAY, 2003).
Assim, dificilmente esse fenômeno não apresentará um vínculo estreito com 📈 o poder, sendo possível também estabelecer várias outras conexões, assim como perceber a dicotomia que ela comporta.
Na historia do país, 📈 quer seja no âmbito desportivo ou social, atos extremamente violentos nas ruas, nos estádios, nas escolas (e demais espaços coletivos), 📈 que muitas vezes ocasionaram a coação de pessoas foram encabeçados pelo Estado ou tiveram o seu consentimento.
Para Foucault (1999), o 📈 poder significa antes de tudo um verbo, uma ação, uma relação de forças, ou seja, poder não é simplesmente algo 📈 que alguém tem ou não, o poder é uma relação constitutiva de qualquer relação social, inclusive nas relações oriundas das 📈 atividades desportivas, tanto dos praticantes, como dos torcedores.
Portanto, ao se analisar as raízes da violência no Brasil, ela dificilmente não 📈 estará associada à estrutura de poder vigente dentro da sociedade e/ou dentro dos clubes, confederações e torcidas organizadas, que também 📈 são sociedades.
Acerca desse último exemplo – as torcidas organizadas - configuram-se como a principal mola propulsora dos eventos violentos da 📈 atualidade, particularmente, quando relacionada aos episódios futebolísticos (ZALUAR, 1991).
A Exmplo daquilo que fora denominado de comportamento – hooligan.
Onde ao final 📈 dos certames esportivos, uma verdadeira batalha é comumente instaurada entre as torcidas organizadas, culminando em comportamentos violentos para com os 📈 torcedores de outras equipes, bem como gerando situações de violência e depredação do patrimônio publico e privado e na agressão 📈 a outros cidadãos, que via de regra, se quer possuem vínculo com os eventos.
Tudo isso, dentro e no entorno dos 📈 estádios de futebol.
Atitudes violentas são classificadas, comumente, como formas de ação, resultantes do desequilíbrio entre fortes e fracos, ou oprimidos 📈 e opressores.
Assim, não é possível analisar a violência de uma única maneira.
Tomando-a como um fenômeno único, pois, brazino 7 própria pluralidade 📈 é a única indicação do politeísmo de valores, da polissemia do fato social investigado, onde o termo violência transforma-se em 📈 uma maneira cômoda de reunir tudo o que se refere à luta, ao conflito, ao controle, ao descontentamento, a rebeldia, 📈 que é a parte sombria que sempre atormenta o corpo individual, quer seja no cenário social ou no esportivo.
Uma visão 📈 abrangente da história pode fomentar que se compreenda o percurso do autoritarismo no Brasil, e, neste caso, o circuito das 📈 práticas arbitrárias deve ser analisado objetivamente, pois, o funcionamento da estrutura de dominação envolve um processo complexo, que tem como 📈 centro, o desequilíbrio social entre os fortes e os fracos e o jogo político de forças, que produz e reproduz 📈 a ordem das ruas.
Muitos governos – predominantemente no Brasil – ao longo dos tempos privilegiaram a autoridade em detrimento do 📈 consenso; concentraram o poder político em torno de poucos, deixando de lado as instituições representativas que passaram a ter um 📈 caráter meramente cerimonial, restringindo a liberdade, suprimindo as oposições ou coagindo à simulação.
Na ideologia autoritária, quer seja a social ou 📈 desportiva, a utilização da violência tornou-se necessária à manutenção da desigualdade entre os homens.
A ordem, nesse conjunto de idéias ocupou 📈 lugar de destaque: a crença cega na autoridade, e, por outro lado, desprezo pelos inferiores, débeis, descordenados, menos habilidosos, menos 📈 ápitos, e os não inseridos nos padrões estéticos e socialmente aceitáveis como vítimas, portanto.
As rupturas políticas na história brasileira, praticamente 📈 não ocorrem no nível das relações sociais e pessoais.
Novos governos, ao assumirem o poder praticam velhas políticas e se preocupam 📈 em edificar um imaginário popular calcado na nova ordem vigente.
Numa análise sobre o passado brasileiro social e desportivo, o período 📈 escravocrata de quase 400 anos e os quase 40 anos de período de exceção, da ditadura Vargas ao período militar, 📈 deixaram - como herança - uma cultura de autoritarismo, de corrupção e de "malandragem", que se enraizaram no imaginário popular.
Em 📈 relação a esta última, e que se manifesta no esporte, quase que como suas representantes legítimas.
A violência no cenário esportivo
Alguns 📈 autores afirmam que os esportes integram vários tipos de competições que envolvem força física ou simbólica, e, portanto, que podem 📈 ter ações que podem ser percebidas como violentas (GARRIGOU e LACROIX, 2001).
Entende-se o conceito de violência no esporte, como o 📈 uso da força física e/ou do constrangimento psíquico para obrigar alguém, a agir de modo contrário à brazino 7 natureza e 📈 ao seu ser, dentro do ambiente esportivo, perpetrado, quer seja pelos praticantes ou pelos espectadores (CHAUÍ, 2001, p.38).
A violência, enquanto 📈 fenômeno do campo esportivo pode ser considerada como um processo social-cultural complexo, no qual intervêm fatores estruturais, ideológicos, financeiros e 📈 culturais.
Zaluar (1991) afirma que o fenômeno da violência esportiva também pode ser caracterizado quando um, ou vários atores agem de 📈 forma direta ou indireta, maciça ou espaçadamente, causando incursões a uma ou mais pessoas, mesmo que em graus variáveis em 📈 brazino 7 integridade física, moral, material ou em suas participações simbólicas e culturais.
Portanto, os ciclos de violência são configurações formadas por 📈 dois ou mais grupos, processos de sujeições recíprocas que situam estes numa posição de medo e de desconfiança mútua, passando 📈 cada um a assumir como natural, o fato de um de seus membros poderem violentar, o serem violentados pelo outro 📈 grupo, caso estes tenham a oportunidade e os meios para fazê-lo.
O contexto histórico da violência esportiva se traduz a reboque 📈 das sangrentas batalhas no Coliseu da Roma antiga, que se iniciaram em função da política dos imperadores romanos, que frente 📈 ao descontentamento dos cidadãos para com a realidade social da época, viram na – política do pão e circo – 📈 uma maneira vil de acalmar a população, servindo-lhes o sangue dos gladiadores, enquanto espetáculo esportivo, e, portanto: entretenimento, acompanhado de 📈 comida nos eventos esportivos.
Verdadeira gênese da violência no esporte, que também absorvia e retransmitia a violência social da época, através 📈 da ratificação da subserviência da população, frente ao domínio do Estado.
Posteriormente, com a transição dos passatempos ou atividades de lazer 📈 a esportes, ocorrida na sociedade inglesa em meados do século XIX, que se relacionou ao desenvolvimento da sociedade sob uma 📈 perspectiva global, os ciclos de violência abrandaram, e os conflitos de interesses foram resolvidos de um modo que permitisse aos 📈 principais detentores do poder, solucionarem suas diferenças por intermédio de processos inteiramente não violentos, e segundo regras acertadas por ambas 📈 as partes.
Para acabar com os ciclos de violência no cenário esportivo, surgiram – as regras.
Acordadas por ambas as partes, dentro 📈 de um período de longa duração, onde os grupos rivais se respeitavam e entregavam o poder pacificamente aos adversários durante 📈 as disputas, tidas como esportivas.
As regras, portanto, surgiram a partir do medo de - extinção mútua - decorrente da violência 📈 no esporte.
Durante este período, as tensões mantinham-se muito altas e a necessidade ou o medo de destruição recíproca trouxe, também, 📈 uma nova forma de governo e de pratica esportiva, onde os adversários deveriam respeitar as regras formuladas por eles, para 📈 a conquista do poder/objetivos.
Portanto, foi com o passar do tempo que os grupos perderam gradualmente a brazino 7 desconfiança, desistindo da 📈 violência e respectivas técnicas, passando a desenvolver novas competências e estratégias exigidas pelo confronto não violento.
As técnicas - militares e 📈 esportivas violentas - deram lugar às técnicas de debate, a retórica e a persuasão, exigindo um maior autocontrole, caracterizando um 📈 avanço da civilização.
Sendo assim, o que caracteriza o esporte moderno para Elias (1994) é a aplicação das regras, coibindo toda 📈 e qualquer ação mais violenta, onde, mesmo em modalidades esportivas nas quais o contato físico é mais freqüente (MMA, basquetebol, 📈 rúgbi, futebol americano, boxe e etc.
) as regras pré-determinam muitas das ações dos praticantes, onde também se observa que além 📈 desta relação, que o nível e as formas da violência na atualidade tomam outros rumos, principalmente se for considerado que 📈 a violência do tipo – simbólica – substitui a predominante violência física, e está cada vez mais enraizada pelo cultura 📈 esportiva, incluindo-se os espectadores.
Como a sociedade contemporânea é altamente competitiva, situação esta, potencializada pelo esporte de alto nível, que fora 📈 metamorfoseado pela mídia e pelo poder, transformando-se em esporte-espetáculo.
Situação esta que ratificou esta competitividade, já que a complexa divisão do 📈 trabalho gera a possibilidade de que os papéis sejam fixados muito mais pelos resultados, do que meramente por atribuições.
Este aumento 📈 da competição leva a um aumento da rivalidade e da agressividade entre os pares (BETTI, 2008).
Outro fator que potencializa esta 📈 situação são os padrões vigentes na sociedade, bem como o monopólio do Estado em utilizar à força física, que não 📈 comportam as ações diretamente mais violentas dos indivíduos no seio social, onde a violência então se canaliza para contextos sociais 📈 específicos, como os esportes, as escolas, as famílias, o transito, as comunidades, os clubes e outros espaços coletivos, ou então 📈 é manifesta de outra forma que não seja a violência física (OLIVEIRA,2009).
É nessa outra possibilidade de violência - a simbólica 📈 – onde suas manifestações são predominantemente comportamentais, variando de agressões verbais, pelas ações das pessoas, ou ainda pela discriminação racial, 📈 sexual ou religiosa que existe na sociedade, e que agora emanou para os campos desportivos, que mais se tem observado, 📈 quando o contexto analisado se relaciona com o esporte (GARRIGOU e LACROIX, 2001).
Particularmente quando remetida aos casos de racismo, onde 📈 o relatório das Nações Unidas de 2005 expressou preocupação pelo seu aumento no futebol.
Um esporte que pode ser uma ferramenta 📈 útil para o desenvolvimento e a paz internacional, mas, ao contrario disto, tem potencializado esses comportamentos sociais indesejados.
Bourdieu (2005) define 📈 a violência simbólica, asseverando que ela trata de se manifestar através de ações abstratas de superioridade, de uma pessoa ou 📈 grupo sobre o outro.
O aumento da violência e dos incidentes abertamente racistas estão ilustrados não só pelas ações de alguns 📈 simpatizantes sobre discriminação e xenofobia, mas também são constatadas em comentários e ações de treinadores de clubes que minimizam ou 📈 legitimam esses casos.
O fenômeno do racismo no esporte, por exemplo, (um manifestação de violência simbólica) é caracterizado, em geral, por 📈 atitudes inconseqüentes, desrespeitosas e hostis para com um outro ser humano, geralmente de cor, raça, religião e etc.
, diferente a 📈 do agressor, que pode se manifestar na forma de agressões físicas ou psicológica, principalmente.
É visível o fato de que ainda 📈 não foram tomadas medidas necessárias para chamar à responsabilidade para quem comete graves atos de racismo no esporte, em episódios 📈 que apesar de receberam ampla cobertura da imprensa, pode aumentar, sobretudo no futebol, que por brazino 7 vez, por ser o 📈 mais popular no planeta é um reflexo das sociedades .
E, portanto, pode estar cercado dos melhores, como também das piores 📈 tendências sociais, a exemplo do racismo, da xenofobia, a violência física, a discriminação, o nacionalismo excessivo e as incivilidades.
Cita-se o 📈 exemplo recente do amistoso da seleção brasileira de futebol em 26/03/2011, contra a seleção Irlandesa, onde o jogador Neymar, ao 📈 ser substituído no final do segundo tempo, recebeu uma banana atirada pelos torcedores irlandeses.
Pois n o mundo de hoje, em 📈 que a agenda internacional está dominada pela guerra contra o terrorismo, o temor das sociedades pode motivar atitudes negativas dentro 📈 das arenas esportivas em relação aos estrangeiros, negros e etc.
, fazendo-se urgente uma convocação social e uma mobilização das organizações 📈 esportivas internacionais, da academia, na direção de combater a violência, além da conscientização da comunidade internacional acerca do importante papel 📈 do esporte nos esforços para o desenvolvimento e a paz mundial.
Considerações finais
Face ao que foi exposto, numa perspectiva de uma 📈 análise conclusiva, o presente ensaio afirma que se faz de fundamental importância empreender ações que possam gerar subsídios para novas 📈 análises e aprofundamento da temática.
Pois, observa o fato da violência que se manifesta no esporte, no interior das arenas desportivas 📈 e no entorno delas, perfazer uma reprodução da violência instaurada nas sociedades e que foi construída ao longo de décadas 📈 de subserviência da população ao poder do Estado.
Portanto, tem relações diretas com o poder e é fruto da competição exacerbada 📈 e fomentada pela sociedade capitalista, que vê na competição entre os pares a única forma de aumentar a produção do 📈 sistema.
A relação de interdependência entre o estágio atual da violência na sociedade, com as práticas esportivas ficou explícita nas colocações 📈 do texto, pois, verifica-se que o esporte, com ações isoladas, não coíbe a violência social representada na configuração dos praticantes 📈 esportivos, particularmente àquela violência revestida de uma de suas formas mais sinistras – a simbólica - que pode acometer suas 📈 vítimas, principalmente aquelas mais vulneráveis e que convivem com situações de vitimização, sujeitando-as a grande sofrimento psíquico e a possibilidade 📈 de internalizarem tais experiências por toda brazino 7 vida.
Portanto, existe a probabilidade eminente dos indivíduos (vitimizados) internalizarem, negativamente, suas qualidades perante 📈 os demais, podendo acarretar em prejuízos na auto-estima, além de outras conseqüências, tais como: dificuldades de relacionamentos sociais e interação 📈 com o espaço.
Outra conclusão oriunda do contexto analisado é o fato de quão se tornou comum, contemporaneamente, a violência simbólica 📈 no esporte (a exemplo do racismo), porém, esses mesmos atos de discriminação racial não são concretos o suficiente para serem 📈 enquadrados como crime, pois, segundo algumas autoridades o racismo é muito complexo, se manifesta de diversas formas e parece estar 📈 internalizado no comportamento e no cotidiano das pessoas, particularmente no ambiente esportivo.
Externalizado desde uma simples piada, nos apelidos, na chacota, 📈 chegando até as manifestações de constrangimento e nas agressões físicas e verbais aos negros, obesos, homossexuais, mulheres, árabes, judeus e 📈 nos portadores de necessidades especiais.
Contudo, o ensaio enfatiza que o esporte é uma importante ferramenta de enfrentamento desta problemática, mas, 📈 que deve ser enfrentada considerando a polissemia da questão.
Portanto, a rede de interdependência deve ser compreendida na brazino 7 totalidade, não 📈 se podendo entender, apenas, as ações dos educadores físicos, praticantes e consumidores esportivos, separadamente de outras ações sociais, principalmente no 📈 que se refere à violência no esporte e o seu enfrentamento.
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