Resumos
O presente texto apresenta reflexões sobre esporte e juventude tendo como referencia o conceito de participação no contexto da sociedade ⭕️ brasileira marcada pela desigualdade social.
Para tanto, problematiza a constituição da desigualdade social no Brasil e como tal aspecto afeta diretamente ⭕️ os jovens.
Enfim, debate sobre o lugar do esporte em políticas públicas para a juventude brasileira.
ARTIGOS ORIGINAIS
Esporte, desigualdade, juventude e participação
Sport, ⭕️ youth, inequality and participation
Deporte, juventud, desigualdad y participaciónMs.
Quéfren Weld Cardozo Nogueira
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia e Professor ⭕️ do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe (Sergipe - Brasil).
E-mail: quefrenweldyahoo.com.brRESUMO
O presente texto apresenta reflexões sobre esporte ⭕️ e juventude tendo como referencia o conceito de participação no contexto da sociedade brasileira marcada pela desigualdade social.
Para tanto, problematiza ⭕️ a constituição da desigualdade social no Brasil e como tal aspecto afeta diretamente os jovens.
Enfim, debate sobre o lugar do ⭕️ esporte em políticas públicas para a juventude brasileira.
Palavras-chave: Esporte; juventude; desigualdade social; participação.
ABSTRACT
The following text reflects about youth and Sport ⭕️ having as a central point the concept of participation in the context of inequality of Brazilian society.
Whatsoever argues about the ⭕️ constitution of inequality in Brazil e how this aspect directly affects the young people.
At last, debates about the place of ⭕️ sport in public politics for Brazilian youth.
Key-words: Sport, youth, social inequality, participation.
RESUMEN
El presente texto presenta reflexiones sobre deporte y juventud ⭕️ teniendo como referencia el concepto de participación en el contexto de la sociedad brasileña marcada por la desigualdad social.
Por lo ⭕️ tanto, problematiza la constitución de la desigualdad social en Brasil y como tal aspecto afecta directamente a los jóvenes.
Finalizando, cuestiona ⭕️ sobre el lugar del deporte en políticas públicas para la juventud.
Palabras-clave: Deporte, juventud, desigualdad social, participación.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Uma das características que ⭕️ podemos apontar sobre o Brasil refere-se ao reconhecimento da desigualdade social como um aspecto impregnado às estruturas da vida cotidiana.
Para ⭕️ além da afirmação da nação como pobre, o que temos são as consequências da má apropriação e repartição das riquezas ⭕️ quando relacionadas com a capacidade produtiva do país.
Tanto a compreensão da desigualdade quanto a proposição de instrumentos para brazino777 apostas superação ⭕️ se situam nas complexas e contraditórias relações do Estado com os modos como a vida social é produzida mediante o ⭕️ trabalho, as relações sociais, os conhecimentos e as formas de comunicação entre grupos e pessoas.
A desigualdade se situa, afirmam Behring ⭕️ e Boschetti (2008), na articulação de elementos históricos, econômicos, políticos e culturais, os quais, por brazino777 apostas vez, substanciam condições de ⭕️ possibilidade, forças de confronto e questões estruturais da economia com seus efeitos na produção e reprodução de vida social.
Apesar da ⭕️ desigualdade social marcar indiscriminadamente diversas parcelas da população, os grupos situados entre 15 e 29 anos são particularmente atingidos por ⭕️ processos de exclusão.
Emprego precoce e subemprego, escolarização precária, exílio em bairros decadentes, etc.
possuem características particulares quando a discussão é focada ⭕️ na juventude: a desigualdade social tem provocado uma concepção do jovem como um problema social, propenso à delinquência e ao ⭕️ uso de drogas, devendo, portanto, tomar parte de projetos de sociais capazes de promover uma 'correta' socialização.
No contexto das políticas ⭕️ públicas para a juventude, encontramos o trabalho com o esporte como uma das principais estratégias de intervenção.
Principalmente pelo uso de ⭕️ argumentos educativos, existe a crença de que as atividades podem minimizar os efeitos negativos das crianças estarem nas ruas (VIANA; ⭕️ LOVISOLO, 2009).
O esporte é visto como um antídoto para a ocupação do tempo livre, numa concepção que indica uma suposta ⭕️ linearidade entre a falta de lazer e o mundo do crime (MELO, 2005).
Por outro lado, como instrumento de disciplina para ⭕️ evitar o envolvimento com as drogas e com a violência, ao invés de questionar as próprias bases que sustentam a ⭕️ desigualdade social, o esporte valida ações capazes de exercer, interpretando Abad (2007) noutro contexto, a força mediante a coerção, coação ⭕️ ou repressão.
Em contrapartida, torna-se imperioso discutir intervenções tendo o jovem como protagonista das ações, parceiros na elaboração, implementação, desenvolvimento e ⭕️ avaliação das propostas.
"Trata-se de compor novos desenhos que constituam de fato os jovens como sujeitos capazes de expressar as ações, ⭕️ e participar dessas ações, que, antes de tudo, dizem respeito a eles mesmos" (SPOSITO, 2008, p.73).
Pela necessidade de rever os ⭕️ processos de produção e reprodução da vida social, e com o intuito de romper com a 'lógica reiterativa das desigualdades', ⭕️ busca-se criar oportunidades de reconstrução pessoal, de experiências positivas de participação e reconhecimento (ASSEBURG; GAIGER, 2007); ou ainda, "[...
] garantir ⭕️ objetividade nas propostas políticas dos jovens, como forma de sedimentar a participação juvenil como sujeito na elaboração de propostas das ⭕️ respectivas ações do poder público (NEVES; FERRERI, 2008, p.130)".
Dados apresentados pelo IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais) e pelo POLIS ⭕️ - Instituto de Estudos e Formação e Assessoria em Políticas Públicas, numa pesquisa intitulada 'Juventude Brasileira e Democracia', mostram alguns ⭕️ aspectos apontados pelos próprios jovens: (1) os jovens demonstram não encontrar espaços de negociação e resolução de suas questões, ou ⭕️ canais de expressão de opiniões para a melhoria de vida; (2) denunciam as condições da escola pública evidenciando a falta ⭕️ de infra-estrutura, baixos salários dos professores, aulas pouco atraentes, violência em torno da escola e constante falta de professores; (3) ⭕️ falta de trabalho como agravante do aspecto econômico, cultural e societário; (4) alto custo das atividades artístico-culturais, falta de segurança ⭕️ nos espaços de lazer e a centralização de oportunidades nas áreas nobres dos grandes centros urbanos.
De posse de tais elementos, ⭕️ o objetivo desse texto é debater sobre o esporte como ferramenta na constituição de políticas sociais para e com a ⭕️ juventude, o que exige abordar discussões sobre a desigualdade social e suas relações com os conceitos de cultura e participação.
Para ⭕️ tanto, serão destacados aspectos sobre as condições estruturais da desigualdade e o modo como tal elemento atinge particularmente a juventude ⭕️ brasileira.
"Enfim, serão apontados questionamentos para as políticas públicas que possuem nas práticas esportivas uma estratégia de intervenção.
ALGUMAS CONDIÇÕES ESTRUTURAIS DA ⭕️ DESIGUALDADE
Os apontamentos sobre a relação entre esporte e juventude trazem à tona o conceito de participação e suas relações com ⭕️ a questão da desigualdade social.
Na democracia liberal, explica Chauí (2007), tanto a igualdade como a desigualdade são condições naturais do ⭕️ ser humano: enquanto o direito de propriedade do corpo nos faz iguais, nascemos com talentos e capacidades desiguais.
Pela tendência da ⭕️ sociedade de fortalecer a desigualdade, é necessário produzir uma segunda igualdade proporcionada pela lei, ou seja, "[...
] a desigualdade é ⭕️ um fenômeno natural produzido pela sociedade, enquanto a desigualdade é e sempre será um dado, a igualdade é uma conquista ⭕️ histórica" (CHAUÍ, 2007, p.211).
Para compreender a desigualdade a partir de uma dimensão social, política e econômica faz-se necessário apontar com ⭕️ Sales (1994), como no Brasil a herança colonial implica o favor, a dádiva, o mando e a subserviência como aspectos ⭕️ estruturais de nossa condição política.
Como consequência, temos a construção de uma 'cidadania concedida', em que os direitos civis - de ⭕️ ir e vir, de justiça, direito à propriedade, direito ao trabalho - são outorgados aos homens livres mediante concessão de ⭕️ outrem.
Mesmo com a implantação da República, a cidadania continua algo a ser concedido, particularmente pela troca de favores: de um ⭕️ lado, estão os chefes municipais e os coronéis e, de outro, os que possuem os erários, os empregos, os favores ⭕️ e a força policial - situação que se perpetua até os dias atuais.
A construção da igualdade é condicionada pela formação ⭕️ de uma massa submissa tanto política como economicamente, tornando foco das políticas públicas a redução dos conflitos sociais (BEHRING; BOSCHETTI, ⭕️ 2008).
Tais características condizem com o modo como a sociedade coloca em prática, dizem Asseburg; e Gaiger (2007, p.
501), uma "dinâmica ⭕️ permanente de produção-mudança-reprodução das desigualdades".
Como categoria central para compreender a atual conjuntura social, o fenômeno da globalização representa a forma ⭕️ mais atualizada da expansão dos mercados e da oferta de mercadorias.
Desse ponto de partida, é preciso reconhecer a independência da ⭕️ mercadoria do seu processo de produção, do ocultamento das relações sociais, ou como colocam Belloni; Magalhães; Sousa (2007), omitir a ⭕️ complexidade existente entre o sistema educativo e o produtivo - trata-se, com Lukács (2003), do 'fetichismo da mercadoria' como característica ⭕️ central do capitalismo moderno.
A mercadoria concretizada pelo consumismo é capaz de produzir, remodelar necessidades e transformar os próprios consumidores em ⭕️ produtos, tratando-se também do que Bauman (2008) denomina de 'fetichismo da subjetividade'.
Nesse contexto, afirma Giraud (2007), mesmo com a vangloriada ⭕️ inevitabilidade da globalização, o que temos efetivamente é um processo que atualiza contradições.
Além disso, o poder da informação, expresso particularmente ⭕️ pela cibernética (informática e eletrônica), capaz de revolucionar a maneira como significados são produzidos e identidades formadas, representa o aumento ⭕️ da riqueza de grandes corporações multinacionais, a homogeneização dos cenários sociais, a privatização e o abandono à lógica do mercado ⭕️ de serviços básicos como educação, saúde e habitação (GIROUX, 2003).
Temos a nível mundial, conforme Santos (2001), empresas intercontinentais que competem ⭕️ entre si, demandando e valendo-se de avanços tecnológicos e científicos para se sobreporem umas às outras.
Tomam forma nessa perspectiva duas ⭕️ manifestações tirânicas: a tirania do dinheiro e a tirania da informação, ambas legitimadas pelo pensamento único, pela adaptação passiva e ⭕️ homogeneização do conhecimento.
Constrói-se um corolário de perversidades em que, enquanto o consumo torna-se o denominador comum em todos os indivíduos, ⭕️ a competição se apresenta como regra fundamental de convivência.
É possível falar de processos engendrados pela desigualdade, como por exemplo, a ⭕️ exclusão social, cujas características referem-se, aponta Lopes (2008) apud Antunes (1995), Paugam (1999), Castell (1999), Bauman (2005), Honneth (1992) e ⭕️ Xiberras (1993) e Sung (2002), respectivamente: à precarização do trabalho, desqualificação social, desfiliação social, desagregação identitária, desumanização do outro e ⭕️ anulação da alteridade.
Tais processos fazem emergir e difundem como manifestações típicas da realidade, o desemprego estrutural, a fome, a violência, ⭕️ a população de rua, falta de acesso a bens básicos, insegurança.
Para Chauí (2007), chegamos ao entendimento de uma sociedade que, ⭕️ ao proclamar a igualdade, está de fato dissimulando a desigualdade.
Nesse contexto, as políticas denominadas sociais só podem se caracterizar como ⭕️ paliativas, pois as questões estruturais de sustentação das desigualdades não são questionadas; ou ainda, "[...
] a política social não determinada ⭕️ a economia, mas é determinada por ela" (CHAUÍ, 2007, p.226).
DESIGUALDADE, JUVENTUDE E PARTICIPAÇÃO
A par de uma discussão sobre a desigualdade ⭕️ social, caminhamos para uma análise de condições particulares da juventude.
É possível afirmar que no capitalismo central e periférico, a pobreza ⭕️ e a exclusão social 'jovializaram-se' (FRIGOTTO, 2004, p.197).
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), colocados por Castro ⭕️ e Aquino (2008), em 2006, o Brasil possuía uma população de 51,1 milhões de pessoas com idade entre 15 e ⭕️ 29 anos, correspondendo a 27,4% da população.
Nesses, a trajetória escolar é irregular e com marcas de fracasso - a frequência ⭕️ ao Ensino Médio em idade adequada não abrange metade dos jovens entre 15 e 17 anos, sendo que 61,6% já ⭕️ abandonaram a escola pelo menos uma vez.
Como agravante, temos a situação do trabalho no Brasil, onde 42,2% dos homens jovens ⭕️ deixam a escola para trabalhar em locais com baixas condições e são mal remunerados.
Encontramos ainda a questão da violência e ⭕️ criminalidade, sendo que no período de 2003-2005, as mortes de jovens por homicídio atingiram uma média anual de 28.273.
No caso ⭕️ da criminalidade, a participação de jovens em crimes relatados à polícia, a população entre 18 e 24 anos foi de ⭕️ 17,56 ocorrências por 100 mil habitantes; 387,74 por lesões corporais; 218,23 por roubo a transeuntes; 20,24 por roubo de veículos; ⭕️ 14,57 por estupro; 41,96 por posse de drogas.
É possível analisar também o modo como a vida cotidiana é marcada por ⭕️ elementos socioeconômicos e padrões de discriminação e preconceito.
Tais elementos se concretizam de forma bastante diversificada: quanto à renda, 31,3% são ⭕️ considerados pobres (renda familiar per capita de ½ salário mínimo); 8,6% com renda superior a 2 salários mínimos; 60% está ⭕️ no intermediário entre ½ e 3 salários mínimos.
De acordo com regiões do país, o Nordeste possui 50,8% dos jovens de ⭕️ baixa renda.
Questões de raça e gênero também são marcas registradas da desigualdade social: no caso da educação, o número de ⭕️ analfabetos negros é quase três vezes maior do que de jovens brancos; a taxa de frequência no ensino médio é ⭕️ de 58,6% dos brancos contra 37,6% dos jovens negros.
Já no caso da desigualdade envolvendo questões de gênero, os dados mostram ⭕️ que 27,1% dos jovens de 15 a 17 anos conciliam estudo e trabalho e 11,3% só trabalham; essa proporção para ⭕️ as jovens é de 17,5 e 4,9% respectivamente.Enfim,
O lado perverso disso é que o olhar da sociedade sobre os jovens ⭕️ dos setores populares quase que se restringe ao registro da criminalidade.
Nesse sentido, o debate sobre a juventude e violência não ⭕️ pode se furtar a analisar, entre outros, a questão do recrutamento de jovens para atividades criminosas e as facilidades ainda ⭕️ vigentes para obter uma arma de fogo no país, bem como o processo de educação e formação dos jovens em ⭕️ meio a um contexto de banalização da violência ou mesmo a uma dinâmica férrea da reprodução das desigualdades e da ⭕️ exclusão social (CASTRO; AQUINO, 2008, p.24).
Com isso, a juventude tornou-se um problema social e categoria central em políticas públicas (ABAD, ⭕️ 2008).
Em muitas ações, discutem Castro; Aquino (2008), os jovens são associados à delinquência, comportamento de risco e uso de drogas, ⭕️ necessitando de ações focadas na preparação para uma vida adulta socialmente ajustada e produtiva.
Preocupante nesse contexto, é a trilha que ⭕️ nos conduz, afirmam Neves e Ferreri (2009), para uma inviabilização permanente de um projeto de sociedade justa, democrática e solidária, ⭕️ que possui como princípio básico o respeito ao outro.
Por outro lado, constata Abramo (1997), existem projetos que procuram reformular o ⭕️ modo como as ações são fomentadas.
Partindo da ideia de protagonismo, os jovens são concebidos como capazes de formular questões significativas, ⭕️ propor ações relevantes, sustentar uma relação dialógica com outros atores e contribuir para a solução de problemas.
Com isso, nos lembra ⭕️ Pontual (2008, p.
114), busca-se incorporar os atores diretamente interessados nas ações desenvolvidas, mesmo sabendo que "é muito fácil falar em ⭕️ participação, em discussão, mas o grande desafio é criar espaços específicos, deliberativos para as pessoas que estão envolvidas na construção ⭕️ dessas esferas públicas".
Torna-se imperioso redefinir o conceito de participação de modo a reconfigurar as intervenções realizadas.
Em uma sociedade marcada pelo ⭕️ consumo fugaz e descartável, a participação, explica Chauí (2007), é algo passivo, imposto como uma estrutura formal, que deve servir ⭕️ a um planejamento pré-existente.
Por outro lado, agora com Gohn (2008), falar em participação presume um processo de vivência com sentido ⭕️ e significado para aqueles que participam das ações.
É necessário que o indivíduo esteja inserido em práticas de significação condizentes com ⭕️ a criação de processos identitários individuais e coletivos, abrindo espaços para a efetiva conquista da autonomia, a qual, nas palavras ⭕️ de Chauí (2007), representa uma posição dos sujeitos em ações efetuadas por eles próprios, enquanto criadores das regras e das ⭕️ formas de ação.
Assim, a autonomia está relacionada com a capacidade dos indivíduos de, em dadas condições, interpretar, conhecer, determinar os ⭕️ requisitos e transformar os objetos sociais.
Nesse sentido, novamente com Gohn (2008), a autonomia se refere ao modo como o sujeito ⭕️ histórico ler e interpreta o mudo, lidando com as diferenças e as singularidades, aprende a dialogar e busca o diálogo ⭕️ que leva ao entendimento.
A diferença aqui é tomada como uma construção histórica e cultural, no sentido apontado por Giroux (1999), ⭕️ em que se reconhecem os legados históricos da colonização e como significados e representações sociais particulares são produzidas para legitimar ⭕️ relações de poder específicas.
Tais pressupostos nos conduzem para uma discussão sobre as relações entre cultura e participação, no sentido de ⭕️ que as práticas culturais nos informam sobre contextos sociopolíticos onde o conceito de participação pode tomar determinadas formas.
CULTURA E PARTICIPAÇÃO
A ⭕️ redefinição do conceito de participação no trabalho com a juventude toma como referência o campo da cultura ou o modo ⭕️ como a cultura tornou-se uma ferramenta essencial para fomentar modos de participação política e social.
Para Yúdice (2004), há atualmente uma ⭕️ expansão da cultura para as esferas política e econômica, com um discurso que evoca uma 'cidadania cultural' como forma de ⭕️ organização social tendo em vista a emancipação.
A cultura é tomada, na esteira de Giroux (2003), como uma dimensão política envolvida ⭕️ com o poder tanto para regular imagens e significados quanto para identificar noções de sujeito por meio de formas de ⭕️ conhecimento, valores, ideologias e práticas sociais.
Há a exigência de tomar a cultura, coloca Bhabha (1998), não como produção regular ou ⭕️ canônica, mas composta por demandas incomensuráveis, produzidas 'no ato da sobrevivência social', muitas vezes marcadas pela experiência afetiva da marginalidade.
Como ⭕️ consequência, Bentes e Herschmann (2002, p.
10), ao discutirem, por exemplo, o Hip-Hop, o Funk e o Rap pressupõem
Analisar esses fenômenos ⭕️ culturais neste momento significa, por exemplo, tratar a música cantada por esses jovens dentro de um novo contexto, mais amplo, ⭕️ em que as 'culturas das favelas' aparecem não simplesmente como subprodutos da violência social do país, mas como uma produção ⭕️ e um discurso capazes não só de espelhar a realidade dura dessas realidades, mas que também, de alguma forma, exprimem ⭕️ a reivindicação da ampliação da cidadania ao segmento social que habita essas áreas urbanas.
A construção de uma cidadania cultural parte ⭕️ do entendimento do jovem como capaz de ação e intervenção social, dando crédito para, colocam Neves; Ferreri (2008), ações educativas ⭕️ lúdicas contrárias a outras que se baseiam na intimidação ou punição.
Para isso, agora com Giroux (1999), é necessário entender a ⭕️ aprendizagem como uma forma de envolvimento o qual mobiliza e reconstrói desejos, como um processo em que o corpo se ⭕️ movimenta, aprende, deseja e anseia por afirmação e reconhecimento.
A dimensão cultural orienta um modo de compreender e reivindicar uma dimensão ⭕️ da cidadania como contraponto ao que Neves (2007) denomina de 'déficit simbólico'; ou seja, a limitação do exercício da cidadania ⭕️ não se dá somente em termos legais (civis, políticos e sociais), mas também pela ausência da noção de pertencimento, e ⭕️ de uma cidadania simbólica que fazem dos sujeitos reconhecerem a si mesmos como plenos de direitos.
Em consequência desta reivindicação, o ⭕️ "[...
] reconhecimento dos direitos e da identidade de grupos minoritários marcados por estigmas e desprezo social é fundamental para a ⭕️ consolidação da democracia e a ampliação da igualdade entre nós" (NEVES, 2007, p.118).
É nesse sentido que podemos dialogar com Asseburg ⭕️ e Gaiger (2007) para compreender como o combate à desigualdade necessita de ações efetivas para impulsionar o protagonismo como um ⭕️ dos requisitos contrários à perpetuação da exclusão social.
Considerando que as pessoas são constantemente minimizadas da condição de agentes, é necessário ⭕️ oferecer oportunidades de reconstrução da experiência pessoal, com práticas positivas de participação e reconhecimento que enfatizem a construção de espaços ⭕️ para a recuperação da dignidade, num posicionamento contrário à privação de capacidades e focadas em ações participativas de cooperação e ⭕️ de autogestão.
Com essa perspectiva, algumas recomendações foram feitas pelo IBASE e POLIS para implementar políticas para a juventude: (a) constituir ⭕️ espaços públicos, centros e clubes culturais, artísticos e esportivos, democraticamente gerenciados para potencializar a participação e associativismo dos(as) jovens e ⭕️ estimular a constituição de hábitos culturais participativos e democráticos; (b) investir em ações que favoreçam a melhoria da qualidade de ⭕️ ensino; (c) dar condições para iniciativas na área do esporte, da cultura e da capacitação profissional, consideradas essenciais para o ⭕️ aumento da atratividade e do interesse dos(as) alunos(as) pela escola; (d) elaborar programas de apoio a iniciativas culturais, científicas e ⭕️ esportivas.
E O ESPORTE?
Pode-se afirmar que atualmente o esporte se tornou uma das principais ferramentas de intervenção em políticas públicas para ⭕️ a juventude.
As justificativas para as propostas são distintas, mas se orientam, apontam Vianna;Lovisolo (2009), principalmente pelos aspectos de ordem moral ⭕️ ou de personalidade dos seus praticantes.
Ainda, com a promulgação tanto da Constituição Federal de 1988, quanto Estatuto da Criança e ⭕️ do Adolescente (ECA), explicam Oliva e Kauchakje (2009), as crianças e os adolescente foram considerados como prioridade na rede proteção ⭕️ de social do Estado, tendo o esporte um lugar privilegiado em propostas de intervenção.
Comumente, o esporte é tido como um ⭕️ antídoto para a ocupação do tempo livre, numa concepção que indica, afirma Melo (2005), uma suposta lineariedade entre a falta ⭕️ de lazer e o mundo do crime.
Ganha força em políticas públicas, parcerias público-privadas e organizações não governamentais um trabalho que ⭕️ busca retirar as crianças da rua, combater a criminalidade e a violência.
As propostas comumente identificam uma sociedade que paulatinamente perde ⭕️ seus valores e uma juventude incapaz de ativismo e participação política.
Nota-se a emergência da vinculação entre as políticas esportivas e ⭕️ o discurso da promoção da cidadania ou de inclusão social.
Ou então uma outra tendência ainda é a de considerar o ⭕️ esporte importante mecanismo de controle social da juventude, visando apenas dominar os impulsos violentos e produzir uma nova sociabilidade, capaz ⭕️ de gerar novas práticas que possam afastar os jovens de drogas e crimes, numa abordagem salvacionista (MELO, 2005, p.80).
Tal perspectiva ⭕️ cresce juntamente com a relação entre Estado e a promoção de grandes eventos esportivos.
A participação financeira do Governo Federal na ⭕️ organização dos Jogos Pan-Americanos Rio 2007, a realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e dos Jogos Olímpicos ⭕️ em 2016 mostram o interesse do Estado em apresentar seu poder de organização e investimento do dinheiro público em ações ⭕️ esportivas.
Todavia, em grandes eventos é reforçado, assim como analisa Linhales (1997), o desenvolvimento das capacidades esportivas de uma nação como ⭕️ intrinsecamente ligado às orientações e interesses do mercado, particularmente quando da presença de uma indústria esportiva e midiática como fonte ⭕️ para a produção do esporte espetáculo e para a comercialização de uma infinidade de produtos e serviços ligados à prática ⭕️ esportiva.
Assim, temos, apontam Bracht e Almeida (2003, p.91) a "[...
] passagem de um modelo de esporte que o entendia como ⭕️ um bem social, como um direito deste, para a ideia do esporte como um direito do consumidor".
Nessa perspectiva, discute Mascarenhas ⭕️ (2006), o lazer vai aos poucos adquirindo a forma de mercadoria e, portanto, assume o caráter de coisa, determinado pelas ⭕️ necessidades econômicas, políticas, sociais e culturais do capitalismo.
Por outro lado, se para Vago (1999), o desafio atual está em tratar ⭕️ pedagogicamente o esporte como uma prática efetivamente educativa, que estabelece relações tanto pacíficas como conflituosas com outras esferas sociais, para ⭕️ Taffarel (2009), diversas são as tentativas de fundamentar a prática pedagógica da Educação Física para além da adaptação progressiva do ⭕️ corpo ao esforço, indo ao encontro de uma intervenção capaz de trabalhar o esporte de forma crítica, reflexiva e inserida ⭕️ nos projetos pedagógicos das instituições escolares.
Nesse contexto, é necessário construir propostas pedagógicas capazes tanto de problematizar o lugar social do ⭕️ esporte, como de fortalecer seu papel como vetor para a construção de uma sociedade justa e igualitária.
Toma força a necessidade ⭕️ de tratar pedagogicamente o esporte para que esse atenda aos objetivos educacionais vinculados com princípios democráticos e cidadãos.
No trabalho com ⭕️ o esporte, é preciso mobilizar um conjunto de conhecimentos que promovam práticas pedagógicas orientadas pelos princípios éticos da autonomia, responsabilidade, ⭕️ solidariedade e do respeito ao bem comum; princípios políticos dos direitos e deveres de cidadania, do exercício da criticidade e ⭕️ do respeito à ordem democrática; dos princípios estéticos da sensibilidade, criatividade, ludicidade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais ⭕️ .
Não se trata, portanto, de uma discussão centrada na busca incessante pelo rendimento ininterrupto, mas sim da possibilidade da prática ⭕️ educativa se tornar um vetor político e cultural de experiências positivas focadas na participação, no reconhecimento de potencialidades, no desenvolvimento ⭕️ de capacidades, na afirmação das diferenças e no fortalecimento de identidades.
Principalmente após o trabalho de Soares et al (1992), toma ⭕️ força um discurso em que a promoção da cidadania e justiça social ocorrem pelo reconhecimento do esporte como manifestação cultural, ⭕️ o que nos permite utilizar, com Yúdice (2001), a noção da cultura a serviço da justiça social e, numa conotação ⭕️ para esse trabalho, o esporte a serviço da justiça social, com características, apontam Neves e Ferreri (2008), de transformação das ⭕️ atuais conjunturas geopolítica e socioeconômica, que tomem o jovem como sujeito político fundamental na tomada de decisões e implemento das ⭕️ ações.
Intervenções com tais características reconhecem o esporte como instrumento de crítica e ferramenta de participação efetiva quando colocam que (1) ⭕️ as políticas públicas para o desenvolvimento humano são também políticas de esporte.
Como forma de combater processos históricos de marginalização e ⭕️ exclusão, a criação de possibilidades para a prática esportiva deve permitir o acesso de todos, independente da raça, classe, gênero, ⭕️ idade, necessidade especial; (2) o esporte como um bem cultural pode ser trabalhado na perspectiva do desenvolvimento humano, pela promoção ⭕️ de experiências focadas na participação, no processo, na formação de grupos heterogêneos, na cooperação, na convivência com o distinto e ⭕️ com o diverso; (3) o esporte é fruto de projetos e intencionalidades, o trabalho proposto e realizado pode se pautar ⭕️ na solidariedade, respeito ao próximo, valorização da pluralidade cultural e da vida saudável; (4) o esporte é uma ferramenta tornada ⭕️ indispensável para a construção de oportunidades em que as pessoas são convidadas a participarem na condição de agentes; (5) o ⭕️ esporte pode ser praticado em diversos espaços, particularmente os públicos, o que exige uma qualificação desses espaços e dos profissionais ⭕️ que neles atuam; (6) a prática esportiva exige a capacitação de técnicos e professores, o incentivo à pesquisa, intercâmbios e ⭕️ cursos, clareza na gestão de recursos públicos, etc, abrindo espaços para a qualificação profissional e geração de emprego e renda.
Nesse ⭕️ sentido, alguns questionamentos são balizadores tanto para políticas públicas como para futuras pesquisas empíricas: (1) as ações assumem um caráter ⭕️ coletivo, envolvendo os jovens no processo de gestão da prática esportiva?; (2) assumem um caráter coletivo porque promovem o diálogo ⭕️ entre o esporte escolar e diversas outras instituições e dimensões do esporte e da comunidade?; (3) tendem a criar vínculos ⭕️ de mediação e representação com o intuito de promover a expansão da prática esportiva na escola e fora dela?; (4) ⭕️ possuem como foco a construção de experiências positivas em situações esportivas? (5) abrem espaços para a discussão coletiva e apresentação ⭕️ de propostas?; (6) abrem espaços para o trabalho com outras práticas corporais como a dança, a luta, a ginástica, a ⭕️ brincadeira, etc.
?; (7) possibilitam o trato pedagógico com o esporte tomando por base diversos artefatos culturais como a música, o ⭕️ cinema, o teatro, a televisão, a poesia, dente outros?
As discussões sobre o papel do esporte em políticas públicas para a ⭕️ juventude invocam uma concepção de cultura e participação como aspectos indispensáveis para enfrentar o problema da desigualdade social.
Nesse sentido, não ⭕️ é mais possível perceber o jovem como receptor de políticas públicas, mas como agente capaz de mobilização e intervenção social.
Tal ⭕️ concepção está ancorada em perspectivas mais amplas, que procuram redefinir o próprio conceito de democracia pelo viés da participação social, ⭕️ ou pela construção de uma democracia participativa.
No caso do esporte, autores como Neri e Suassuna (2009) e Terra "et al ⭕️ " (2009) vêm apontando como esse marco no Brasil está tomando forma, por exemplo, na realização das Conferências Nacionais de ⭕️ Esporte, cuja organização busca envolver, ainda que de forma limitada, a população nas decisões governamentais.
De qualquer forma, os aspectos contraditórios ⭕️ e complexos que caracterizam o esporte tendem para intervenções que ora reforçam, ora enfraquecem conceitos como participação, cidadania, justiça social ⭕️ e democracia.
Somente o esporte não é capaz de resolver o problema da desigualdade social, mas é fato que se não ⭕️ o utilizarmos em função da melhoria da qualidade de vida das pessoas e para a transformação dos modos de produção ⭕️ e reprodução da vida social, perderemos a oportunidade histórica de construir uma sociedade justa e igualitária.Recebido: 22 out.2009Aprovado: 18 mai.2010