São Paulo
Em um ano no qual a luta antirracista ganhou relevo em todo o mundo, vários esportistas tiveram papel proeminente 🫰 nessa questão.
Se antes podiam ser considerados exceções os atletas que se posicionavam de maneira mais veemente, isso mudou em um 🫰 2020 marcado por manifestações a respeito do tema.
A consciência negra, que é celebrada no Brasil neste 20 de novembro, esteve 🫰 presente dentro e fora dos campos, quadras e pistas como nunca havia ocorrido.
As demonstrações de revolta contra o racismo deixaram 🫰 de ser esporádicas, foram além de mensagens vazias e chegaram a paralisar competições.
O estopim para a indignação foi a morte 🫰 do norte-americano George Floyd, 46, em maio.
O policial branco Derek Chauvin, 44, imobilizou o homem negro em Minneapolis pelo suposto 🫰 uso de uma nota falsa de US$ 20 e permaneceu ajoelhado em seu pescoço por cerca de oito minutos, enquanto 🫰 o homem, prensado no asfalto, tentava avisar: "Eu não consigo respirar".
Floyd foi declarado morto pouco depois, e os Estados Unidos 🫰 entraram em ebulição.
Não era uma novidade um caso de brutalidade policial contra um negro, mas a cena foi filmada pelo 🫰 celular de uma pedestre, gerou enorme comoção e provocou reações também de figuras ligadas ao universo esportivo.
O homem assassinado era 🫰 amigo de Stephen Jackson, 42, ex-jogador da NBA que discursou em protestos de rua em Minneapolis.
Várias das estrelas que ainda 🫰 atuam na liga norte-americana de basquete se juntaram a movimentos cobrando justiça e lembraram situações semelhantes vividas por outros negros, 🫰 como Breonna Taylor, morta por policiais em março.
O esporte estava paralisado nos Estados Unidos naquele momento, por causa da pandemia 🫰 do novo coronavírus, mas a bola já rolava na Europa, onde a situação da Covid-19 estava um pouco mais controlada.
E 🫰 os gramados do continente foram palco de diversos atos, como o do lateral brasileiro Marcelo, que celebrou um gol do 🫰 Real Madrid se ajoelhando.
O gesto de se ajoelhar virou uma espécie de símbolo da luta antirracista no esporte.
Ele já havia 🫰 ganhado notoriedade com Colin Kaepernick, 33 –jogador de futebol americano que adotou essa posição pela primeira vez em 2016, durante 🫰 a execução do hino norte-americano, para denunciar a violência policial contra negros– e tomou novo significado com a cena da 🫰 morte de Floyd.
Foi com o joelho no asfalto que 14 dos 20 pilotos da F-1 se posicionaram no grid quando 🫰 o campeonato de automobilismo foi reiniciado, em julho.
Ativista antes mesmo da comoção surgida neste ano, Lewis Hamilton, 35, tomou uma 🫰 posição de liderança e divulgou mensagens de equidade, prova após prova, rumo ao heptacampeonato mundial.
"Cresci em um esporte que deu 🫰 significado à minha vida, mas um esporte com pouca diversidade, o que me permite trabalhar por uma agenda de mais 🫰 igualdade", disse o britânico, ciente de que enfrenta resistência.
"Estou confiante de que uma mudança virá, mas não podemos parar agora.
Precisamos 🫰 continuar", pediu.
O movimento se espalhou, mas os casos de violência racial continuaram ocorrendo –no Brasil, nos Estados Unidos e em 🫰 várias outras localidades.
Quando o homem negro Jacob Blake, 29, levou de policiais sete tiros nas costas em Kenosha, os jogadores 🫰 da NBA decidiram que atuar com a mensagem "vidas negras importam" nos uniformes e nas quadras não era suficiente.
Era agosto, 🫰 e a competição já havia sido retomada, em uma espécie de bolha de proteção contra o coronavírus nos arredores de 🫰 Orlando.
Deu-se, então, um boicote iniciado pelos atletas do Milwaukee Bucks, que resolveram não entrar em quadra e foram seguidos por 🫰 outros times, já na fase decisiva.
Os jogadores se questionaram se fazia algum sentido arremessar bolas de basquete enquanto cenas como 🫰 os tiros em Blake se repetiam.
Eles fizeram algumas reuniões e cogitaram cancelar de vez o campeonato, mas decidiram voltar, usando 🫰 a plataforma do campeonato para reverberar suas mensagens e fizeram exigências.
Uma delas foi uma campanha de incentivo ao voto, que 🫰 não é obrigatório nos Estados Unidos, direcionada especialmente a negros e mulheres.
Os ginásios das equipes se tornaram centros de votação 🫰 nas eleições presidenciais, e o astro LeBron James, 35, vibrou quando os novos eleitores ajudaram a derrubar Donald Trump, 74, 🫰 seu antagonista.
Craques da NBA fizeram campanha de acesso ao voto - Mike Ehrmann - 22.set.20/AFP
O presidente torceu o nariz para 🫰 a paralisação da NBA, que precipitou interrupções em outras ligas dos Estados Unidos.
Até aquelas historicamente mais conservadoras, como a de 🫰 futebol americano (NFL) e a de beisebol (MLB), tiveram manifestações veementes.
O gesto de Kaepernick, que se ajoelhava no hino, foi 🫰 de criticada exceção a quase regra.
No tênis, subiu o tom de voz de Naomi Osaka, 23, que aderiu imediatamente ao 🫰 boicote da NBA e o levou ao torneio de Cincinnati, que era realizado nos Estados Unidos.
Ativista de poucas palavras, mas 🫰 gestos marcantes -já havia ido às ruas protestar com o movimento "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam)-, ela fez com 🫰 que a competição fosse paralisada por um dia.
Nas semanas seguintes, durante o US Open, torneio do Grand Slam que venceu 🫰 pela segunda vez na carreira, a japonesa radicada nos EUA concedeu as entrevistas pós-jogo usando máscaras com nomes de vítimas 🫰 da violência policial.
As vozes, em geral, ainda são mais tímidas entre os esportistas do Brasil, por diversos motivos, mas há 🫰 aquelas que se levantam.
Surgiu neste ano o movimento Esporte Pela Democracia, que reúne atletas e ex-atletas do país e tem 🫰 como uma de suas bandeiras o antirracismo, desfraldada novamente neste 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra.