MATÉRIA DE CAPA
Os rumos da Odontologia do esporte no BrasilCíntia de Assis
Um importante segmento da Odontologia associado ao esporte tem💷 se firmado ao longo dos anos no Brasil.
Pesquisas científicas, comprovações clínicas e estatísticas norteiam a evolução deste setor, que ainda💷 não é uma especialidade odontológica reconhecida pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO).
A American Academy for Sports Dentistry, fundada em 1983,💷 é uma referência relevante para o progresso da Odontologia do Esporte no mundo, pois promove o avanço da pesquisa, desenvolvimento💷 e educação nesta área.
Várias áreas do conhecimento já se renderam ao esporte.
Medicina do Esporte, Fisiologia do Esporte e do Exercício,💷 Fisioterapia do Esporte e Psicologia do Esporte já estão difundidas e se fazem necessárias para o desenvolvimento de atletas de💷 ponta.
Em 2013, foi fundada a Academia Brasileira de Odontologia do Esporte (Abroe), que tem por finalidade promover, com intenções científicas,💷 acadêmicas, políticas e sociais, a Odontologia do Esporte.
Atualmente, a Abroe tem representantes em quase todos os estados do Brasil e💷 seu foco inicial é comprovar cientificamente que o atleta de alto rendimento necessita de um suporte odontológico específico.De acordo com💷 Dr.
Gustavo Ferreira, coordenador do departamento odontológico do Botafogo de Futebol e Regatas (BFR), membro da American Academy for Sports Dentistry💷 e presidente da Comissão de Odontologia do Esporte do Conselho Regional de Odontologia do Rio de Janeiro (CRO-RJ), não se💷 pode mais considerar que um atleta de alto rendimento tenha um suporte odontológico convencional.
"Em todas as outras áreas, que circundam💷 e cuidam da saúde do atleta, existem especialidades específicas voltadas para o esporte, como a Medicina do Esporte, Psicologia do💷 Esporte, Fisioterapia esportiva, Nutrição esportiva, entre outros, e a Odontologia não pode ficar fora deste contexto.
Por isso, precisamos informar e💷 esclarecer quais as especificidades, limitações e importância de um suporte odontológico realizado por um dentista do esporte", fala o presidente💷 da Abroe, Dr.Ferreira.
A Odontologia do Esporte cresce e se solidifica a cada dia, mas ainda poucos clubes possuem departamentos odontológicos💷 exclusivos e integrados aos departamentos de saúde dos clubes de futebol.
O departamento odontológico do Botafogo de Futebol e Regatas está💷 na vanguarda e atualmente é referência nacional na apostas para copa do mundo 2024 atuação.
O Departamento Odontológico do Botafogo FR, que se localiza no Estádio💷 Olímpico João Havelange/RJ (Engenhão), foi inaugurado em 2010 e oferece suporte odontológico especializado em Odontologia do Esporte aos atletas de💷 todas as modalidades do clube: futebol profissional, futebol de base (pré-mirim, mirim, infantil, juvenil, juniores e sub- 23), natação, polo💷 aquático, vôlei, basquete, futsal, fut7society e remo.
"A atuação do departamento odontológico é mais intensa no futebol profissional, onde estamos inseridos💷 no departamento médico do clube.
Semanalmente, participamos de uma reunião do futebol profissional, onde a Medicina, Fisiologia, Fisioterapia, preparação física, Psicologia,💷 Nutrição e a Odontologia discutem as necessidades de cada atleta individualmente, fazendo com que a interdisciplinaridade seja praticada", explica Dr.Ferreira.
O💷 trabalho desenvolvido pelo Botafogo FR começa na pré-temporada do futebol, onde são feitas palestras interativas com os atletas para a💷 conscientização da importância de um dentista especializado em Odontologia do Esporte para a promoção de saúde bucal, benefícios da utilização💷 do protetor bucal e malefícios de uma condição bucal inadequada.
"São realizadas também, na pré-temporada, avaliações clínicas e radiográficas em todos💷 os atletas e priorizam-se os casos de infecções bucais para que desta forma se tenha uma melhor recuperação das lesões💷 e desempenho físico.
Atualmente, todos os atletas do futebol profissional do Botafogo FR estão com apostas para copa do mundo 2024 saúde bucal em dia", avalia💷 Dr.Ferreira.
Os dentistas do Botafogo FR atuam também nos dias de jogos do clube, através de escala, para que os casos💷 de traumatismos faciais e dentários sejam tratados imediatamente após o trauma.
A equipe que compõe o departamento odontológico do Botafogo FR💷 é formada pelos cirurgiões-dentistas Gustavo Ferreira, Leandro Freitas, Leandro Fernandes, Luis Daniel Yavich, Carol Rafael, Roberto Prado, e pela técnica💷 de saúde bucal, Danielle Rodrigues.
Um trabalho muito interessante é feito com os atletas do Corinthians de MMA, do inglês mixed💷 martial arts, onde o Dr.
Alexandre Barberini é o coordenador do departamento de Odontologia do Esporte.
Além dos protetores bucais individualizados, todos💷 os atletas têm um atendimento odontológico especializado.
Protocolo de atendimento
O Atlético Mineiro é outro clube de futebol que possui um departamento💷 odontológico, que também é referência nacional.
No Centro de Treinamento (CT) da Cidade do Galo é realizado o atendimento diário de💷 atletas de todas as categorias do futebol masculino.
O departamento odontológico está equipado com um consultório completo, com cadeira e equipo,💷 equipamento para raios X digital, motor de implante e duas máquinas para confecção de protetor bucal.Segundo o Dr.
Marcelo Faria Lasmar,💷 doutorando em Bioengenharia pela Escola de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenador do departamento odontológico do💷 Clube Atlético Mineiro e membro da International Association for Dental Research, o protocolo de atendimento dos atletas é composto de💷 um programa preventivo que, num primeiro momento, conta com palestras de conscientização que abordam diversos temas, entre eles: técnicas de💷 higienização oral, relação dieta X cárie, traumatismos, doping, uso de energéticos e isotônicos e desgaste dentário.
"Posteriormente, os atletas são encaminhados💷 ao consultório para profilaxia, fluorterapia e controle de placa bacteriana.
Numa segunda fase, são realizados exames clínicos e radiografias da boca💷 inteira para o diagnóstico de focos dentários, lesões cariosas, doenças periodontais, maloclusões, respiração bucal e hábitos viciosos.
Na terceira fase, são💷 executados os tratamentos endodônticos e periodontais, para a eliminação da dor e dos focos dentários, bem como os tratamentos restauradores,💷 ortodônticos e de desordens temporomandibulares.
Na fase final, é realizada a manutenção, através do controle de placa e das restaurações e💷 do acompanhamento dos tratamentos endodônticos e ortodônticos, além da confecção de radiografias de controle", descreve Dr.Lasmar.
"O protocolo de atendimento dispõe,💷 ainda, de um programa de emergência, com uma escala de plantão entre os dentistas, cujo objetivo é eliminar dores agudas💷 e solucionar problemas de origem traumática e de ordem estética", acrescenta.
Os dentistas Marcelo Lasmar, Renato Linhares e João Bosco fazem💷 parte da equipe do Atlético Mineiro.
Em 1997, o Clube Atlético Mineiro implantou o departamento odontológico, que viabilizou a criação de💷 uma equipe multidisciplinar no CT.
"No início, a receptividade dos atletas era muito baixa e havia uma grande desconfiança em relação💷 ao nosso trabalho devido à mudança de filosofia.
Nos dias atuais, principalmente em razão do trabalho realizado com as categorias de💷 base e do apoio da comissão técnica do clube, temos total confiança por parte dos atletas", fala Dr.Lasmar.
"No Brasil, ainda💷 é reduzido o número de clubes de futebol que possuem um departamento odontológico próprio, por isso há certa resistência de💷 alguns atletas vindos de outras equipes.
É imprescindível que os clubes comecem o oferecer exames preventivos, palestras e tratamentos odontológicos para💷 as categorias de base e profissional, a fim de conscientizarem os atletas da importância do acompanhamento odontológico", acrescenta o CD.
Problemas💷 odontológicos x desempenho do atleta
Presença de focos infecciosos, perda dentária ou maloclusões severas, erosão causada por uso indiscriminado de isotônicos,💷 respiração bucal, halitose, desordens temporomandibulares e traumatismo dentário são problemas que prejudicam o desempenho de atleta.De acordo com Dr.
Marcelo Lasmar,💷 um dos principais fatores que podem influenciar na recuperação de lesões musculares e cirurgias ortopédicas é a presença de focos💷 infecciosos, de origem periodontal ou endodôntico, que dificulta a cicatrização tecidual.
"A perda dentária ou maloclusões severas, além de acarretarem problemas💷 de ordem estética, estão relacionadas ao mau aproveitamento alimentar e à deficiência na absorção dos nutrientes.
Já o uso de isotônicos💷 pode provocar erosão e abfração dentária, o que acaba interferindo na nutrição, uma vez que o atleta passa a evitar💷 alimentos mais ácidos, quentes e frios.
A síndrome do respirador bucal, que deve ser corrigida precocemente na infância ou no início💷 da adolescência, está diretamente relacionada à perda do rendimento físico, já que pode causar sonolência, halitose, menor aproveitamento do oxigênio💷 e dores na musculatura cervical", esclarece Dr.Lasmar.Ainda para Dr.
Lasmar, a halitose pode interferir no convívio entre os atletas de esportes💷 coletivos, sendo que as causas mais frequentes de mau hálito são bucais e metabólicas e estão relacionadas à desidratação, ao💷 estresse e ao alto consumo energético.
"Já as desordens temporomandibulares podem causar dores articulares, de cabeça e musculares, além de estarem💷 relacionadas à postura incorreta.
Cada vez mais frequente, o traumatismo dentário, que pode até provocar o afastamento do atleta das competições,💷 é outro problema presente nos esportes passíveis de contato, sendo de extrema importância a conscientização do uso do protetor bucal",💷 acrescenta.
"O profissional que trabalha com esporte de alta performance tem que estar atento aos medicamentos que são proibidos pela agência💷 mundial antidoping, pois entre os listados alguns, como os anti-inflamatórios (glicocorticoides orais), são de uso rotineiro do cirurgião-dentista", destaca Dr.Lasmar.
Se💷 um processo infeccioso desequilibra a homeostase do organismo, o que, então, acontece com um atleta de alta perfomance, que depende💷 do seu corpo para realizar suas atividades, sabendo que qualquer desequilíbrio pode resultar em uma queda de rendimento.De acordo com💷 Dr.
Eli Luis Namba, doutor em Odontologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), especialista em Medicina e Ciências do Esporte💷 pela Universidade Positivo e vice-presidente da Abroe, a Odontologia do Esporte trabalha com duas hipóteses.
"A hipótese que o foco de💷 infecção, por um processo de bacteremia, pode alojar as bactérias nas grandes articulações do nosso organismo e desta forma aumentar💷 a incidência de lesões articulares.
A outra, que inclusive faz parte da linha de pesquisa da Academia Brasileira de Odontologia do💷 Esporte (Abroe), ressalta que a presença de um foco de infecção bucal pode atrapalhar o reparo de uma lesão muscular.
Esta💷 linha de pesquisa, que envolve o reparo muscular, foi tema de minha dissertação de mestrado e tese de doutorado", observa💷 Dr.Namba.
Integrantes da comissão científica da Abroe, os Drs.
Marcelo Ekmann e Bárbara Capitanio encontraram resultados promissores para a Odontologia do Esporte💷 em suas pesquisas, demonstrando, em modelo animal, que a doença periodontal pode interferir e dificultar a hipertrofia muscular.
Assim, mesmo com💷 um trabalho de fortalecimento e fisioterapia, após a lesão, a musculatura não apresenta uma arquitetura tecidual adequada para suportar grandes💷 cargas durante exercícios de explosão muscular.Para Dr.
Namba, talvez por conta da interferência de um processo inflamatório, como é o caso💷 da doença periodontal, que vários atletas apresentam recidivas de lesões nas musculaturas tratadas e que impedem o retorno dos mesmos💷 ou acabam agravando ainda mais a área lesionada.
"A demora da recuperação traz problemas para as entidades esportivas que vão além💷 da fisiologia, pois o atleta parado gera uma perda de recursos financeiros muito grandes.
Em esportes coletivos a ausência de um💷 atleta pode ser resolvida com a presença de outro atleta com qualidades diferentes e, às vezes, até inferior.
Nos esportes individuais💷 não existe esta reposição e o trabalho de uma vida pode se perder por uma deficiência de uma recuperação muscular,💷 que pode ter sido prejudicada por um foco de infecção bucal.
Atletas olímpicos passam por uma preparação de quatro anos para💷 disputar, em muitos casos, apenas uma prova, que, dependendo da modalidade, pode durar menos de 15 segundos.
As lesões, apesar de💷 fazerem parte da vida dos atletas, atrapalham a função muscular e também podem abalar o psicológico", comenta Dr.Namba.
O estudo da💷 Medicina Periodontal para a Odontologia do Esporte é fundamental.
"Imagine que alguns problemas genéticos podem ocasionar distúrbios cardíacos, associe esses distúrbios💷 aos atletas onde o motor, neste caso o coração, apresenta algum problema e acrescente a esta situação a doença periodontal,💷 onde cientificamente podemos comprovar que uma simples escovação é capaz de gerar uma bacteremia transitória e, consequentemente, agravar o problema💷 cardíaco.
Desta forma é indispensável um exame periodontal completo e de controle para atletas de alta performance", completa Dr.Namba.Para Dr.
Luis Daniel💷 Yavich, especialista em Radiologia e Imaginologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista em DTM e Dor💷 Orofacial pelo CFO e membro da American Academy for Sports Dentistry, os dentes devem ser considerados como a representação do💷 ponto terminal de uma cadeia postural, a forma como os dentes articulam afetam a relação da Articulação Temporomandibular (ATM) dentro💷 da fossa articular, o que por apostas para copa do mundo 2024 vez afeta o osso occipital e a coluna cervical.
"Isso automaticamente vai refletir na💷 cadeia postural e, consequentemente, no desempenho do atleta.
Condições patológicas da ATM são frequentes e muitas dessas alterações acabam alterando a💷 articulação de uma forma estrutural e funcional", finaliza Dr.Yavich.
Protetores bucais esportivos
Criados para amortizar as consequências da força de impacto durante💷 os traumas, os protetores bucais são dispositivos intraorais que surgiram para tentar minimizar os traumatismos orofaciais e dentários.
Segundo Eli Luis💷 Namba, doutor em Odontologia pela PUCPR e especialista em Medicina e Ciências do Esporte pela Universidade Positivo, os protetores bucais💷 são cada vez mais procurados por lutadores de diferentes modalidades, porém as pesquisas relacionadas aos protetores vão além do mundo💷 das lutas.
"Hoje existe indicação do uso para qualquer tipo de atividade física desde os corredores de rua e triatletas, que💷 realizam Cirurgiões-dentistas do Depto.
Odontológico do Botafogo FR Loco Abreu usando protetor bucal (destaque) Dr.
Eli Namba e Cris Cyborg (atleta de💷 MMA) apertamentos durante a corrida e sofrem muitos desgastes dentários, até pessoas que fazem musculação nas academias e podem apresentar💷 dores de cabeça pela grande atividade da musculatura facial durante o exercício isométrico", explica o professor e coautor do livro💷 "Protetores bucais esportivos: tudo que o cirurgião-dentista precisa saber" (893 Editora, 1.ed.
, 2013, 176 páginas).
Atualmente, a Academia Brasileira de Odontologia💷 do Esporte (Abroe) classifica os protetores em cinco tipos: tipos I e II são os protetores pré-fabricados em tamanhos pré-determinados💷 (aqueles que se ferve e depois morde para se adaptarem ao tamanho da arcada).
Os protetores do tipo III, IV e💷 V são confeccionados por empresas especializadas e com acompanhamento do cirurgião-dentista.
O protetor do tipo III são protetores simples, o do💷 tipo IV são os multilaminados e os do tipo V são os otimizadores de performance.
Pesquisas demonstraram que em um grupo💷 de golfistas o uso dos protetores melhorou o desempenho destes atletas na velocidade e força das tacadas.
"Não é qualquer protetor💷 que pode promover tais melhorias.
Os protetores são diferentes, pois realizam funções diferentes nas modalidades para a qual são confeccionados.
Deve-se tomar💷 cuidado com o uso dos protetores tipo I e II que são encontrados nas lojas de artigos esportivos.
De acordo com💷 as pesquisas científicas, podem prejudicar o rendimento do atleta pela falta de uma boa adaptação", orienta Dr.
Namba, coordenador do curso💷 de Especialização em Odontologia do Esporte da Universidade Positivo.Para Dr.
Namba, existem poucas pesquisas de boa qualidade e com uma metodologia💷 adequada para avaliar os protetores que podem melhorar o desempenho, no caso os protetores do tipo V, mas o desenvolvimento💷 científico busca comprovar esta nova função, através das pesquisas que direcionam esta melhora pela estabilização oclusal.
Outro fator importante é o💷 acompanhamento de um profissional habilitado na moldagem, registro interoclusal e, principalmente, dos ajustes do protetor na boca do atleta.
"É inadmissível💷 uma empresa entregar um protetor bucal pelo correio diretamente para o atleta.
Um contato prematuro posterior pode aumentar a chance de💷 fraturas na cabeça da mandíbula.
O simples fato do protetor encaixar na boca não significa que está ajustado da forma correta",💷 alerta o professor.
O uso de dispositivos intraorais não é uma novidade, mas agora temos muitos estudos que comprovam a sua💷 eficiência.
"Foi observado o uso deles, através da história, quando soldados romanos eram instruídos a morder tiras de couro para ter💷 uma força extra nas batalhas e também na guerra civil americana, onde não existia anestesia geral.
Durante a guerra, se fosse💷 preciso fazer uma amputação de algum soldado ferido, os mesmos eram instruídos a morder uma bala de revólver para sentir💷 menos dor durante o procedimento.
A principal função dos dispositivos intraorais é melhorar a relação de posição da cabeça da mandíbula💷 em relação à fossa articular.
Com isso o dispositivo vai atuar como uma espécie de palmilha individualizada, fazendo com que as💷 cadeias musculares funcionem em perfeita harmonia aumentando também as vias aéreas e proporcionando uma melhor oxigenação", afirma o especialista Dr.Luis💷 Daniel Yavich.