Aline Guedes | 26/06/2023, 12h51 - ATUALIZADO EM 26/06/2023, 15h14
Em audiência pública que discutiu formas de combater o racismo no 💶 futebol, nesta segunda-feira (26), o presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) considerou a discriminação racial "uma chaga e um 💶 vírus que afeta todo o sistema imunológico da sociedade".
Os senadores Romário (PL-RJ), Jorge Kajuru (PSB-GO) e Leila Barros (PDT-DF) manifestaram 💶 indignação com o fato de essa conduta persistir no século 21 e defenderam o empenho do Congresso Nacional em seu 💶 combate.
Já o diretor de Desenvolvimento e Projetos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Leão, informou que a instituição desde 💶 o começo do ano, decidiu punir os clubes pela má conduta de seus torcedores e gestores.
Paim informou que a audiência 💶 pública, que foi realizada conjuntamente com a Comissão de Educação (CE), foi uma sugestão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, 💶 a quem considerou "um lutador contra todo o tipo de racismo e preconceito".
O senador gaúcho disse que também manteve conversas 💶 prévias sobre o tema e tem recebido o apoio de senadores como Romário, que preside a CE, Jorge Kajuru e 💶 Leila Barros, relatora da Lei Geral do Esporte (Lei 14.
597) sancionada em 15 de junho.
Paim considerou uma vitória a aprovação 💶 da matéria pelo Congresso, destacando que o texto traz artigo para criminalização do racismo no esporte.
Severidade
Na opinião de Paim, o 💶 país tem a obrigação de tratar as denúncias de racismo com mais severidade.
Ele considerou que o futebol tem o dever 💶 de ser exemplo, por ser o esporte mais popular, mas lamentou que a atividade ainda apresente uma faceta negativa da 💶 sociedade, que é a prática de racismo e da discriminação.
- Existem relatos da prática desse crime por atletas, torcedores, dirigentes 💶 e arbitragem, diversos atores do futebol.
Nos últimos dias o mundo e o Brasil têm se debruçado diante do caso do 💶 crime de racismo cometido contra o jogador Vinícius Junior, no último 21 de maio, em um jogo da La Liga, 💶 do campeonato Espanhol, entre o seu clube, Real Madrid, e o Valencia.
O jogador da seleção brasileira e do clube Real 💶 Madrid já tinha sido vítima do crime de racismo mais de nove vezes e nada aconteceu.
Que as autoridades espanholas se 💶 responsabilizem, investiguem e punam os criminosos.
Conhecimento de causa
Romário disse que o tema o afeta de modo especial, por ser negro 💶 e ter sido atleta.
Ele considerou marcante a influência da matriz africana sobre a forma de se jogar, mas afirmou que 💶 o racismo ocorre de maneira estrutural e velada dentro das próprias administrações dos clubes de futebol.
Ele deu como exemplo o 💶 fato de haver poucos negros nas funções de treinadores e dirigentes dessas entidades.
- Manifestações racistas de torcedores são uma demonstração 💶 de quem não aceita atletas negros de sucesso.
As leis têm poder pedagógico e precisamos torná-las efetivas e concretas para combater 💶 a discriminação, não apenas no esporte, mas no nosso dia a dia.
Sei que não mudaremos tudo da noite para o 💶 dia, mas eventos como essa audiência pública são fundamentais para começarmos a desfazer essa nefasta cultura e acabar de vez 💶 com a prática do racismo, numa luta que requer raça e determinação.
Soluções práticas
Leila Barros falou do sentimento de indignação ao 💶 ver a cultura da discriminação e da violência, em todos os setores e formas, ainda impregnada na sociedade nos tempos 💶 atuais.
Ela elogiou o debate e disse ter anotado todas as sugestões, afim de propor soluções e medidas práticas:
- Nós precisamos 💶 de encaminhamentos.
Sentar juntos, sociedade, setor privado e Parlamento para definir punições severas como, até mesmo, o rebaixamento de clubes.
O torcedor 💶 também tem de ser responsabilizado.
São diversos tipos de preconceitos, até mesmo pelo fato de uma mulher ser mulher.
Eu passo preconceito 💶 como política, passei como atleta.
E quais são as que mais morrem? São as negras.
Nos indignamos com todos os atos de 💶 racismo pelo mundo, não apenas nas arenas desportivas.
A prática nos deixa preocupados, por ainda persistir em pleno século 21, e 💶 nos leva a usar a voz para debater nesta casa, ouvir as demandas e buscar soluções.
Punições a clubes
O diretor de 💶 Desenvolvimento e Projetos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Leão, pediu a cooperação dos setores públicos e privado, além 💶 da sociedade civil, com a causa.
Ele informou que a instituição já está implementando medidas de combate ao racismo, entre as 💶 quais, a responsabilização dos clubes pela má conduta de seus torcedores, jogadores e gestores, com sanções administrativas que podem ir 💶 de advertência, portões fechados e multas, podendo chegar à pena máxima na forma da perda de pontos.
- Há muito a 💶 ser feito, mas também há muito sendo feito.
O racismo não é culpa da CBF, como não é de nenhuma outra 💶 instituição, mas assumir a responsabilidade significa que muito pode ser feito em prol da transformação que a gente precisa.
Todas essas 💶 condutas, a exemplo do que aconteceu na Espanha com Vinicius Jr, têm sido enfrentadas juntamente com órgãos como o Itamaraty 💶 e até mesmo a Interpol, para investigar, instaurar os processos e punir esses criminosos.
Punição individual
O vice-presidente da Associação Nacional das 💶 Torcidas Organizadas (Anatorg), Cleomar Marques de Paula, avaliou que as torcidas estão sendo punidas coletivamente, sem que se resolva o 💶 problema.
Para ele, essa medida deve ser repensada porque acabar com o racismo no futebol envolve diversas medidas, "principalmente a de 💶 individualizar o crime, a fim de que a punição sirva de exemplo".
Caso Aranha
Também participou da audiência o ex-goleiro Aranha, alvo 💶 de injúria racial durante uma partida do Santos, casas de aposta com aviator então equipe, contra o Grêmio, em Porto Alegre, em 2014.
Aranha participou 💶 virtualmente do debate e se colocou à disposição dos senadores para propor soluções.
- Quem se espanta com racismo no futebol 💶 não conhece a História.
É preciso termos conhecimento profundo sobre esporte e sobre racismo, para termos avanços nessa jornada.
E a mídia 💶 e os jogadores podem fazer total diferença nessa luta, por terem poder de influenciar meninos a mudar corte de cabelo, 💶 roupa e até forma de andar, por exemplo.
Se a gente quer ter ídolos capacitados no futuro, devemos cuidar dos jovens 💶 hoje - disse.
Jorge Kajuru, que cobriu o mundo do futebol por mais de quatro décadas, como jornalista, ressaltou a repercussão 💶 do caso envolvendo o goleiro Aranha em 2014.
O parlamentar lembrou que, nove anos atrás, torcedores gremistas atacaram o atleta com 💶 gestos e palavras criminosas e foram flagrados pelas câmeras de transmissão.
O episódio resultou em sete pessoas indiciadas por injúria racial, 💶 e na exclusão do Grêmio da Copa do Brasil.
Vice-presidente da CE, Kajuru adiantou que pretende apresentar projeto de lei para 💶 condenar quem pratica atos de racismo em estádios a permanecer 24 horas detido em todos os dias em que houver 💶 jogos de seus clubes ao longo de pelo menos dois anos.
Paulo Paim apoiou a iniciativa, acrescentando que a ideia merece 💶 ser aperfeiçoada por meio de debates na Casa.
Governo
Coordenador de Políticas Transversais da Diretoria de Combate ao Racismo do Ministério da 💶 Igualdade Racial, Paulo Victor Silva Pacheco defendeu uma atuação mais intensiva das autoridades em defesa de direitos humanos, principalmente para 💶 que não se interrompam sonhos de jovens que se espelham em atletas como Vinicius Jr e o próprio Romário.
- Essa 💶 é a grande questão do governo federal, que retomou o plano Juventude Negra Viva, por exemplo, cujo objetivo é minimizar 💶 os efeitos da violência contra esse público.
Formalizamos o grupo de trabalho interministerial, e o programa deve ser lançado em outubro, 💶 envolvendo todos os ministérios - adiantou.