A atleta e cientista transgênero que propõe solução para dilema da troca de gênero no esporteMegha Mohan
Repórter de Gênero e 🏧 Identidade da BBC News24 junho 2022
Crédito, Getty Images Legenda da foto, Joanna Harper é conselheira do Comitê Olímpico Internacional e 🏧 corredora de longa distância
Joanna Harper, uma pesquisadora que assessorou o Comitê Olímpico Internacional sobre atletas transgêneros, e ela própria uma 🏧 corredora de longa distância trans, diz que é possível tornar o esporte mais igualitário para todos.
Esta história começa há mais 🏧 de meio século, quando uma criança de seis anos, em uma pequena cidade no Canadá, perguntou a um amigo se 🏧 ele já havia desejado viver como uma menina.
A reação do amigo, de choque e escárnio, foi suficiente para aquela criança 🏧 nunca mais fazer essa pergunta a ninguém.
Era a década de 1960 e Joanna Harper tinha nascido em um corpo masculino.
Ela 🏧 recebeu o nome de seu pai e sabia desde cedo que estrela no bet identidade parecia ser diferente.
Uma menina no corpo de 🏧 um menino, diz Joanna, afirmando que a sensação era de ser um canhoto em um mundo feito apenas para pessoas 🏧 destras.
Ela brincava com os brinquedos de estrela no bet irmã e se cercava roupas femininas, mas não conseguia articular seus pensamentos além 🏧 disso.
Afinal, era a década de 1960.
Quem poderia dar conselhos a Joanna sobre identidade de gênero naquela época? Especialmente na pequena 🏧 cidade de Parry Sound, no Estado de Ontário, no Canadá.
Joanna guardou para si mesma esses pensamentos e se dedicou aos 🏧 esportes para se distrair.
A corrida surgiu naturalmente em estrela no bet vida.
Ela corria todos os dias, duas vezes por dia.
Uma atleta nata
Seu 🏧 pai comandava o departamento de educação física da escola local.
Quando ela atingiu a adolescência, Joanna era melhor do que ele 🏧 em corridas de longa distância.
Ela também se destacou academicamente, particularmente em ciências.
Quando se formou no ensino médio, ela era a 🏧 melhor corredora do distrito.
Na universidade, onde estudou Ciências, Joanna entrou na equipe de cross-country.
Com vinte e poucos anos, ela estava 🏧 entre os 20 melhores corredores de distância no Canadá.
Embora o esporte tenha dado a Joanna a chance de parar de 🏧 pensar em estrela no bet identidade, ela sabia que era transgênero.
"Eu sempre soube que era uma menina, apesar de ter vivido todos 🏧 esses anos como menino", diz ela.
Após a formatura, Joanna começou a trabalhar como pesquisadora em um grande centro médico nos 🏧 EUA.
A transição
Não foi até 2004, com mais de quarenta anos e após a morte de seu pai e irmã, que 🏧 Joanna começou a terapia hormonal para iniciar estrela no bet transição de gênero físico para mulher.
Crédito, Mark Kolbe / Getty Legenda da 🏧 foto, Caster Semenya (centro) e Margaret Wambui (esquerda) dizem que foram penalizadas por níveis naturalmente elevados de testosterona
Pule Podcast e 🏧 continue lendo Brasil Partido João Fellet tenta entender como brasileiros chegaram ao grau atual de divisão.
Episódios Fim do Podcast
Em poucas 🏧 semanas, ela sentia que estava correndo mais devagar.
Após nove meses de terapia, ela estava 12% mais lenta do que antes.
De 🏧 acordo com um estudo da RunRepeat, homens correm maratonas cerca de 11% mais rápido que as mulheres.
"Ingenuamente eu pensei que 🏧 isso significaria que eu seria aceita na corrida de longa distância feminina", diz Joanna.
Esse não foi o caso.
Poucos na comunidade 🏧 de corrida disseram qualquer coisa na cara dela, mas Joanna ficou sabendo o que estavam falando.
Muitas mulheres achavam que ela 🏧 ainda tinha uma vantagem por causa de estrela no bet fisiologia masculina anterior.
Na mesma época, as discussões sobre pessoas transgênero em esporte 🏧 de elite estavam começando a fazer parte do cotidiano.
Em 2005, tanto o Comitê Olímpico Internacional quanto o órgão regulador de 🏧 atletismo dos EUA anunciaram que permitiriam que atletas transgêneros competissem com o gênero com o qual se identificam após cirurgia 🏧 e dois anos de terapia hormonal.
"Intelectualmente, isso me pegou", diz ela.
"Como cientista, eu queria analisar o desempenho de atletas transgêneros".
O 🏧 estudo
Apesar de não ser especializada em ciências do esporte naquela época, Joanna usou estrela no bet formação acadêmica em física médica para 🏧 coletar dados.
Ela começou a procurar atletas trans que fizeram transição de homem para mulher e conseguiu reunir dados de desempenho 🏧 de oito corredores de longa distância antes e depois da transição.
Em 2015, Joanna publicou o primeiro estudo revisado por pares 🏧 no mundo sobre atletas transgêneros, que descobriu que mulheres trans que faziam terapia hormonal para reduzir os níveis de testosterona 🏧 não levavam vantagem em corridas de longa distância em comparação com atletas nascidas como mulheres.
Crédito, Getty Images Legenda da foto, 🏧 A corredora indiana de 100m Dutee Chand, que também tem altos níveis de testosterona como Semenya, foi autorizada a competir 🏧 em Tóquio
Alguns criticaram o tamanho da amostragem, dizendo que oito pessoas era um universo muito pequeno para se chegar a 🏧 qualquer conclusão significativa.
Mas outros, como o geneticista Eric Vilain, disseram que o estudo era "inovador".
Joanna expandiu seu estudo, que virou 🏧 o livro autobiográfico Sporting Gender.
Em 2019, ela começou um estudo voltado para atletas trans para um doutorado na Loughborough University 🏧 School of Sport, Exercise and Health Science, no Reino Unido.
Esse estudo recente, publicado no British Journal of Sports Medicine, afirma 🏧 que os níveis de hemoglobina (a proteína que transporta oxigênio no sangue ao redor do corpo) em mulheres transgênero atingem 🏧 níveis alinhados com mulheres nascidas biologicamente após aproximadamente quatro meses de terapia hormonal.
No entanto, seu artigo também concluiu que a 🏧 massa corporal magra e a massa muscular de mulheres trans seguem acima dos níveis de mulheres nascidas biologicamente após pelo 🏧 menos 36 meses de terapia hormonal.
Esportes femininos
"Eu sou a favor de se proteger o esporte feminino", diz Joanna.
"Se você olhar 🏧 em retrospecto, cem anos atrás, a ascensão do esporte feminino é um dos componentes mais importantes na marcha das mulheres 🏧 em direção à igualdade com os homens".
Ela acrescenta que o Comitê Olímpico Internacional só incluiu mulheres em 1928 em Amsterdã, 🏧 e mesmo assim em apenas cinco eventos.
"O esporte feminino, portanto, precisa ser protegido e isso significa haver requisitos de elegibilidade."
Hoje, 🏧 o clima da discussão sobre a elegibilidade de transgêneros no esporte é tenso e passional.
Em 2018, a ciclista trans Rachel 🏧 McKinnon disse que recebeu mais de 100 mil mensagens de ódio no Twitter depois de vencer o UCI Masters Track 🏧 World Championship.
Em 2021, quando Laurel Hubbard, da Nova Zelândia, se tornou a primeira atleta transgênero a ser escolhida para competir 🏧 nas Olimpíadas, a decisão causou polêmica.
Crédito, Dan Mullan / Getty Legenda da foto, A halterofilista Laurel Hubbard tornou-se a primeira 🏧 atleta transgênero a competir nas Olimpíadas
"Qualquer um que já tenha treinado levantamento de peso em alto nível sabe em seus 🏧 ossos que essa situação em particular é injusta para o esporte e para as atletas", disse a levantadora de peso 🏧 belga Anna Vanbellinghen sobre Laurel Hubbard antes da Olimpíada de Tóquio.
"Oportunidades únicas na vida são perdidas para algumas atletas - 🏧 medalhas e classificações para os Jogos - e ficamos impotentes."
Antes dos Jogos Olímpicos, Joanna disse acreditar que Hubbard não teria 🏧 uma grande vantagem porque o levantamento de peso é subdividido em classes de peso.
Isso significa que as atletas são divididas 🏧 e competem em subdivisões determinadas por estrela no bet massa corporal.
Hubbard acabou não conseguindo se classificar para a final da competição de 🏧 levantamento de peso da categoria de mais de 87 kg em Tóquio.
"No entanto, estamos no início desses estudos.
Na verdade, levaremos 🏧 cerca de 20 anos para termos dados precisos sobre mulheres trans no esporte de elite."
Em 2019, Joanna aconselhou o Comitê 🏧 Olímpico Internacional sobre o que fazer daqui para frente.
Elegibilidade
"É preciso haver um critério de elegibilidade apropriado para cada esporte.
O nível 🏧 mais baixo de testosterona para homens ainda está quatro vezes acima do nível maior das mulheres", diz Joanna.
"A elegibilidade deve 🏧 incluir biomarcadores para separar os atletas."
Um biomarcador poderia ser os níveis de testosterona, ela sugere.
"Em vez de se dividir em 🏧 categorias binárias masculinas e femininas, pode haver uma divisão de níveis de testosterona."
Em tese, isso incorporaria atletas intersexuais, como a 🏧 velocista de meia distância sul-africana Caster Semenya, que têm níveis naturalmente elevados de testosterona.
Em 2018, Semenya foi proibida de competir 🏧 nos Jogos Olímpicos depois que a World Athletics decidiu que "para garantir uma competição justa, mulheres com altos níveis naturais 🏧 de testosterona devem tomar medicamentos para reduzi-los para competir em corridas de meia distância".
Nos Jogos de Tóquio, em 2021, as 🏧 estrelas do atletismo da Namíbia Christine Mboma e Beatrice Masilingi foram proibidas de competir na corrida feminina de 400 m 🏧 por seus níveis naturalmente altos de testosterona.
No entanto, as regras atuais só se aplicam a atletas que competem em distâncias 🏧 médias: as provas de 400 m, 800 m e 1500 m.
A velocista indiana de 100 m Dutee Chand, que também 🏧 tem altos níveis de testosterona como Semenya, foi autorizada a competir em Tóquio.
"Mas estou ciente de que a categoria 'mulher' 🏧 é muito importante para muitas mulheres", diz Joanna.
"O ideal seria se pudéssemos encontrar uma maneira de integrar atletas trans no 🏧 esporte feminino de uma maneira igualitária para todas."
'Este texto foi originalmente publicado em //www.bbc.
com/portuguese/geral-61914179'.
Sabia que a BBC está também no 🏧 Telegram? Inscreva-se no canal.