Nem sempre eles andam juntos, mas quando esporte, representatividade e poder resolvem dar as mãos ninguém segura e nas últimas 🍎 semanas o mundo assistiu a um passeio inédito da trinca.
A violência racial nos Estados Unidos é o epicentro do abalo 🍎 sísmico que fez a milionária NBA parar, num mundo em que o poder tem outro parceiro quase inseparável: o dinheiro.
Vamos 🍎 conhecer um pouco mais cada um dos membros deste clube.
Esporte
Quando o basquete foi criado no final do século 19 por 🍎 um professor de educação física da Universidade de Springfield, na americana Massachussets, toda a sociedade americana estava mergulhada na segregação, 🍎 logo, brancos e negros não se misturavam.
Ainda em 1946, quando a NBA (National Basketball League) foi criada, até banheiros separados 🍎 tinha.
Earl Lloyd quatro anos depois, em 1950, foi o primeiro jogador negro a pisar numa quadra da Liga pelo Washington 🍎 Capitals.
Hoje são majoritariamente pretas as mãos que disputam a bola ao alto no centro da quadra em cada jogo, os 🍎 rostos que arrebatam fãs pelo mundo e os pés gigantes que parecem ter molas nos calcanhares.
No entanto, a sub cidadania 🍎 que o racismo sempre impôs à população negra motivou movimentos dentro do esporte norte-americano e 17 anos depois de Earl 🍎 Lloyd por a bola no cesto e seu nome na história, o sociólogo Harry Edwards criou o Olympic Project for 🍎 Human Rights (Projeto Olímpico para os Direitos Humanos).
Era o broche desta organização que os atletas panteras negras Tommie Smith e 🍎 John Carlos usavam no lendário pódio dos punhos cerrados dos Jogos Olímpicos de 1968, no México.
E também o atleta branco, 🍎 o australiano Peter Norman, que não levantou o punho, mas usou o broche porque, afinal, luta por igualdade é uma 🍎 causa de todos (ou ao menos deveria ser).
Representatividade
Toda a história acima para dizer que não são quaisquer atletas que encabeçam 🍎 os movimentos que assistimos.
São atletas negros forjados na consciência e no letramento racial, cientes do poder e da riqueza que 🍎 geram, pessoas criadas para entender as violências raciais seculares e o papel que desempenham na engrenagem do bilionário mundo do 🍎 entretenimento.
Eles fizeram valer toda esta força em 2020.
A NBA, como instituição, não é consciente.
Os atletas são, pois toda instituição tem 🍎 gente por trás.
O componente humano mais visível da indústria esportiva é o atleta e se dele parte a pressão, não 🍎 há como resistir.
Em dado momento o poder constituído aí em cima, na América do Norte, achou uma boa ideia usar 🍎 o esporte para provar que racismo era uma coisa do passado, que não havia diferença na sociedade.
Então, quem diretamente sofria 🍎 a exclusão resolveu mostrar a verdade e daí surgiram diversos movimentos e ídolos que aturam e atuam muito além da 🍎 frase "representatividade importa".
Poder
Impossível não relacionar tudo isto ao recente falecimento do ator Chadwick Boseman, que quando criança queria ser jogador 🍎 de basquete.
O intérprete no cinema do personagem dos quadrinhos Pantera Negra, quando menino, em muito foi influenciado por seus ídolos 🍎 esportivos.
Ele foi justamente parar na indústria que usou em incontáveis ocasiões o esporte como tema associado à meritocracia, "salvadores brancos" 🍎 e outras crenças que atenuam os efeitos perversos de uma sociedade violenta com corpos negros.
Uma engrenagem de imaginação e narrativa 🍎 que ao mesmo tempo também resgatou personalidades esportivas notáveis propositalmente esquecidas pelo tempo.
Chadwick estrelou uma destas produções biográficas de atletas 🍎 ao dar corpo para o pioneiro negro no basebol, Jackie Robinson.
Como disse no início, toda instituição é feita de gente 🍎 e pessoas são capazes de causar fissuras nas instituições empedernidas criadas por outros seres humanos.
Talvez este seja o real poder, 🍎 afinal, como diz os últimos versos do poema "Invictus", do inglês William Henley, que motivou Nelson Mandela quando prisioneiro e 🍎 deu nome a outro sucesso cinematográfico com esporte e questões raciais no centro da trama:
"Por ser estreita a fenda - 🍎 eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma,
Eu sou o mestre do meu destino
Eu sou o capitão 🍎 da minha alma"