Estou socrática hoje, então vou propor uma pergunta que não responderei, mas que pode guiar a experiência cinematográfica de Um 1️⃣ Clássico Filme de Terror — e, a depender da jogo bacará curiosidade, pode ser uma questão para toda a vida: Por 1️⃣ que assistimos filmes? Especificamente para este caso, podemos desdobrar a reflexão em jogo bacará outros questionamentos como “o que é cinema?”, 1️⃣ “qual é o papel do cinema na jogo bacará vida?”, “como você se coloca diante de um filme?”, “cinema é apenas 1️⃣ diversão ou uma obra de arte profunda e complexa?”.
Mais de um século de teoria do cinema e mais de dois 1️⃣ milênios de teoria da arte não serão respondidos em jogo bacará uma crítica, claro, mas isso tudo é muito imprescindível para 1️⃣ notarmos que nossa relação com a arte não é de simples consumo, mas uma troca, mais ou menos como um 1️⃣ diálogo. Um Clássico Filme de Terror evoca tudo isso, mesmo que possa soar como mais um terror “jovem”, besta e 1️⃣ esquecível da Netflix. Penso, no entanto, que a plataforma de streaming tem se firmado no gênero da mesma forma como 1️⃣ falamos dos monstros da Universal, dos filmes de terror da Hammer, da Shudder ou da Blumhouse. Então por que são 1️⃣ tão desprezados?
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Um Clássico Filme de Terror não apenas é ciente de toda essa reflexão, como também explora 1️⃣ isso com a leveza da cultura pop, mas sem deixar de demonstrar jogo bacará amargura no formato de críticas metalinguísticas que, 1️⃣ através da ironia da autodepreciação, questionam a indústria cinematográfica e tentam cativar um público que se parece cada vez menos 1️⃣ com o apaixonado rato Remy, assumindo a postura crítica destrutiva do vilão de Ratatouille. Nesse cabaré filosófico-mainstream, penso que crítica 1️⃣ cinematográfica pode tentar surtir o efeito que o prato de ratatouille tem Anton Ego na animação da Disney.
Atenção! A partir 1️⃣ daqui, a crítica pode conter spoilers.
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Bloodflix
As grandes obras-primas são geralmente chamadas assim pela virtuose do artista ou 1️⃣ pela jogo bacará resistência ao tempo. Não podemos exigir, no entanto, que grandes obras-primas sejam feitas o tempo todo (muito menos 1️⃣ no ritmo das estreias da Netflix), sobretudo porque muitas delas são acidentais, independentemente do grau de trabalho e estudo empregado.
Além 1️⃣ disso, nem toda grande obra cinematográfica precisa ser um épico requintado e, acredito, Sharknado é tão obra-prima do trash de 1️⃣ tubarão quanto a Monalisa é uma obra-prima do Renascimento Italiano. Entre fãs do terror de Dario Argento (Suspiria), Wes Craven 1️⃣ (Pânico), Robert Eggers (A Bruxa), Ari Aster (Midsommar) e, sobretudo Sam Rimi (Evil Dead), é difícil não imaginar Um Clássico 1️⃣ Filme de Terror como uma obra-prima do gênero.
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Mas nem todo mundo é fã nesse nível. E está 1️⃣ tudo bem. Mas é aí que o roteiro tenta quebrar as atitudes destrutivas habituais do público que converte não-entendimento em 1️⃣ jogo bacará ódio: a arte demanda do seu espectador (assim como do artista) tempo, dedicação e empatia. O bom-senso de julgar 1️⃣ apenas depois de ver o filme todo também é evocado, nos fazendo lembrar que imagens fora de contexto nos dizem 1️⃣ muito pouco sobre a verdadeira essência da obra.
Tudo isso está na brevíssima sequência (meio) pós-crédito de Um Clássico Filme de 1️⃣ Terror, em jogo bacará uma crítica metalinguística que acerta em jogo bacará cheio na consciência do espectador Netflix, enquanto dá uma última 1️⃣ chance para que o hater reconsidere suas críticas. Ainda que tenha o tom jocoso da ironia, a sequência parece coroar 1️⃣ o pavio curto dos realizadores que já estão cansados de trabalhar tanto para ver seus trabalhos serem descartados antes mesmo 1️⃣ de terem a chance de provar que têm algo a dizer (e mesmo Ed Wood, considerado o pior diretor de 1️⃣ todos os tempos, tinha algo a dizer). Entre os ingredientes desse maravilhoso tiramisù de feira cinematográfico, o excelente uso do 1️⃣ recurso screen-life, o filho Geração Z do found footage.
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Mais gialli e slashers
Aqui no Canaltech, comentamos com frequência 1️⃣ sobre como os filmes de terror da Netflix têm apresentado um padrão, com uma estética e uma trama que frequentemente 1️⃣ revisitam os giallos italianos e os slashers estadunidenses com um toque de Stranger Things, série original da plataforma que mostrou 1️⃣ o apelo sério-mas-não-tão-sério das produções Bloodflix (como podemos começar a chamar essa corrente do terror a partir da excelente sugestão 1️⃣ meio debochada de Um Clássico Filme de Terror).
O anúncio da Trilogia Rua do Medo mostrou que 1994, 1978 e 1666 1️⃣ tinham a potência de um novo Pânico, mas infelizmente algo aconteceu e, no terceiro filme, o maravilhoso pastiche que se 1️⃣ construía desanda nas mãos da diretora Leigh Janiak, enquanto Um Clássico Filme de Terror traz em jogo bacará uma única obra 1️⃣ tudo o que os três filmes Rua do Medo se propuseram a fazer: homenagear a retroalimentação do giallo italiano e 1️⃣ do slasher estadunidense, enquanto faz uma análise (auto)crítica e metalinguística do formato, nos moldes dos ensinamentos de Pânico.
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Enquanto Janiak parece focar muito mais na atualização dos estereótipos do slasher, usando a crítica metalinguística para nos fazer refletir 1️⃣ sobre a relação entre espectador e os estereótipos dos personagens, Um Clássico Filme de Terror brinca com isso e consegue 1️⃣ ser um giallo/slasher ainda mais relevante para o público contemporâneo. Juntas, duas obras elevam bastante o nível da discussão e 1️⃣ aumentam a responsabilidade dos diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, que assumem a franquia Pânico a partir do novo filme.
Com 1️⃣ um pé cimentado em jogo bacará Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio, Um Clássico Filme de Terror reverencia a raiz 1️⃣ e chega a citar Sam Raimi, mas estende suas referências e insere os pastiches de filmes como A Bruxa, Maria 1️⃣ e João: O Conto das Bruxas e Midsommar como 1666 não conseguiu fazer. O diretor Roberto De Feo vai além 1️⃣ das referências mais clássicas e faz uma referência à icônica sequência de Damiano (Carlos Francisco) em jogo bacará Bacurau.
Imprevisível
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Essa constante reciclagem que existe no terror é uma importante ferramenta de análise de diversos aspectos da nossa cultura através 1️⃣ dos tempos. Quando repetimos formatos, como a clássica história de um grupo de jovens que acabam presos na floresta, ao 1️⃣ longo de décadas, podemos entender melhor como funciona o fluxo em jogo bacará que a arte imita a vida e a 1️⃣ vida imita a arte.
Podemos invocar (mais uma vez!) o manual de Pânico para pensar também como esse processo ajuda a 1️⃣ acabar com o clichê: a sensação de déjà vu é constante em jogo bacará Um Clássico Filme de Terror, mas raramente 1️⃣ isso nos revela o que vem a seguir. Quando um filme se assume como um grande pastiche, os clichês que 1️⃣ colecionamos ao longo de toda uma vida de histórias fictícias se aglomeram na nossa mente e começamos a brincar de 1️⃣ “qual será o clichê escolhido”, fazendo com que o clichê perca a jogo bacará essência e se torne um elemento de 1️⃣ imprevisibilidade. Não raramente, porém, Um Clássico Filme de Terror consegue ser ainda melhor que isso, propondo novos clichês para os 1️⃣ conjuntos de expectativas.
Quem já viu O Segredo da Cabana (2011) pode antecipar com certa facilidade o plot twist de que 1️⃣ tudo é um filme dentro de um filme. Ainda assim, lá no início, a direção consegue manter muito bem a 1️⃣ sensação de que há algo metafísico, sobrenatural, místico ou paranormal acontecendo por ali.
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Logo no início, quando entendemos 1️⃣ que é mais um filme de pessoas sendo massacradas no mato, a história toma rumos bastante originais ao inserir, por 1️⃣ exemplo, a ideia da estrada que desaparece, obrigando as vítimas a se abrigarem na cabana estranha, o que nos demais 1️⃣ filmes os jovens costumam fazer voluntariamente, testando o bom senso do espectador.
Um Clássico Filme de Terror é um tremendo filme 1️⃣ de terror. Nesse ponto, a Bloodflix já não tem mais nada a provar, ainda que tenha muito a ser desenvolvido 1️⃣ e, com isso, fica nas mãos dos espectadores a responsabilidade com a arte alheia e a curiosidade de conhecer e 1️⃣ refletir. Numa releitura do pensamento de Wes Craven, já podemos ver como o terror é capaz de tornar a filosofia 1️⃣ algo pop e divertido.
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Um Clássico Filme de Terror está disponível no catálogo da Netflix.
