O acontece no nosso cérebro que nos faz ficar viciados em jogos de azar
Barbara Jacquelyn Sahakian, Christelle Langley, Henrietta Bowden-Jones📈 e Sam ChamberlainThe Conversation*10 abril 2022
Crédito, Getty Images
Muita gente recorreu aos jogos de azar online durante a pandemia.
E embora grande📈 parte de nós seja capaz de apostar recreativamente, sem sérios impactos negativos, a pandemia levou a um aumento na dependência📈 deste tipo de jogo.
O Reino Unido, por exemplo, observou o maior aumento de mulheres procurando ajuda de todos os tempos.
Esta📈 dependência pode acarretar problemas de saúde mental, cognição e relacionamentos, além de levar à falência e à criminalidade.
Diferentemente da dependência📈 em álcool e drogas, em que os sintomas são fisicamente perceptíveis, o vício em jogos de azar apresenta sinais menos📈 óbvios.
Nosso novo artigo, publicado na revista The Lancet Psychiatry, analisa pesquisas sobre a dependência de jogos de azar e faz📈 recomendações sobre a melhor forma de prevenir e tratar a condição.
O jogo de azar é um grande problema.
De acordo com📈 a estimativa mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2016 a perda global anual dos apostadores foi estimada📈 em US$ 400 bilhões.
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Em 2021, a Comissão de Jogos do Reino Unido estimou a prevalência do distúrbio do jogo📈 compulsivo em 0,4% da população.
Outro levantamento mostrou que as taxas mais altas de compulsão por jogos de azar estavam na📈 Ásia, seguidas pela Australásia e América do Norte, com taxas mais baixas na Europa.
Os pesquisadores desenvolveram simulações de jogos (que📈 eles chamam de tasks - "tarefas") para medir o vício em jogos de azar, como o Iowa Gambling Task e📈 o CANTAB Cambridge Gambling Task.
Neste último, que avalia a tomada de decisões e apostas arriscadas, os participantes são solicitados a📈 adivinhar se uma ficha amarela está escondida dentro de uma caixa azul ou vermelha, com as proporções de caixas azuis📈 e vermelhas mudando ao longo do tempo.
Eles podem então decidir quantos de seus pontos apostar em jogo da roleta que ganha dinheiro e verdade escolha.
Se acertam, os📈 pontos são adicionados ao seu total, mas se perdem, os pontos são subtraídos.
Eles são instruídos a tomar cuidado para não📈 "ir à falência" - perdendo todos os pontos.
Esta tarefa pode detectar os apostadores que "correm risco" de desenvolver distúrbio de📈 jogo compulsivo, mas podem ainda não ter chegado lá - sobretudo se apresentarem sinais de impulsividade.
Por meio destas tarefas, as📈 pesquisas mostraram que apostar, em indivíduos saudáveis, é mais comum em pessoas entre 17 e 27 anos e diminui à📈 medida que envelhecemos.
Outro estudo revelou que jogadores com problemas de dependência tendem a aumentar suas apostas ao longo do tempo📈 e acabam indo à falência.
A dependência de álcool e nicotina também tem sido associada a uma maior compulsão por apostas.
O📈 cérebro do jogador
A partir de estudos de neuroimagem, fica claro que existem várias regiões do cérebro associadas ao jogo de📈 azar.
Pesquisas mostraram que regiões importantes associadas à tomada de decisão arriscada incluem o córtex pré-frontal ventromedial (envolvido na tomada de📈 decisão, memória e regulação das emoções); o córtex frontal orbital (que ajuda o corpo a responder às emoções); e a📈 ínsula (que regula o sistema nervoso autônomo).
Os jogadores compulsivos podem, portanto, apresentar uma maior atividade nestas áreas.
Quando os jogadores observam📈 o resultado de jogo da roleta que ganha dinheiro e verdade aposta, eles também apresentam uma ativação cerebral aumentada no sistema de recompensa do cérebro, incluindo o📈 núcleo caudado.
E isso pode ser particularmente forte em pessoas viciadas em jogos de azar.
A dopamina, neurotransmissor que ajuda as células📈 nervosas a se comunicarem, também é conhecida por ser uma importante substância química no sistema de recompensa do cérebro.
Um estudo📈 mostrou que jogadores compulsivos apresentaram níveis significativamente mais altos de excitação quando a dopamina foi liberada em seus cérebros em📈 comparação com pessoas saudáveis.
A liberação de dopamina parece reforçar a compulsão por jogos por meio do aumento dos níveis de📈 excitação, reduzindo a inibição de decisões arriscadas ou uma combinação de ambos.
Crédito, Getty Images Legenda da foto, Muita gente recorreu📈 aos jogos de azar online durante a pandemia
Além disso, foi demonstrado que o núcleo accumbens, que desempenha um papel no📈 processamento da recompensa, está envolvido em comportamentos de risco em adolescentes e adultos.
Esta região é rica em dopamina e sugere📈 um papel adicional da dopamina em comportamentos de risco.
Como combater o vício em jogos de azar
Atualmente, o distúrbio do jogo📈 compulsivo é diagnosticado por meio do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria.
As📈 diretrizes para o tratamento e gerenciamento do transtorno do Instituto Nacional para Excelência em Cuidados de Saúde do Reino Unido📈 (NICE, na sigla em inglês) também estão sendo desenvolvidas e devem ser publicadas em 2024.
As opções atuais de tratamento incluem📈 certas formas de terapia cognitivo-comportamental (que pode ajudar as pessoas a mudar padrões de pensamento) e grupos de autoajuda.
Alguns medicamentos,📈 como os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs), podem ser eficazes na redução de aspectos dos sintomas do transtorno📈 do jogo compulsivo, como a depressão.
Também sabemos que os receptores opioides no cérebro o ajudam a processar recompensas - e📈 há muito tempo se suspeita que sejam impulsionadores da dependência.
Descobrimos que há algumas evidências indicando que uma droga chamada Naltrexona,📈 que bloqueia os receptores opioides, pode ajudar algumas pessoas com transtorno do jogo compulsivo.
Mas são necessárias mais pesquisas antes que📈 possa se tornar um tratamento padrão.
Há também coisas que você mesmo pode fazer para controlar seu hábito de jogar.
O site📈 Live Well, do sistema público de saúde britânico (NHS, na sigla em inglês), oferece informações sobre serviços disponíveis para jogadores📈 compulsivos.
E dá dicas como pagar suas contas antes de fazer apostas, passar tempo com amigos e familiares que não jogam📈 e lidar com suas dívidas.
Os jogadores também seriam sábios ao evitar ver o jogo como uma forma de ganhar dinheiro,📈 parar de reprimir suas preocupações sobre o hábito de jogar e evitar usar cartões de crédito para pagar pelas apostas.
Assim📈 como acontece com todos os problemas de saúde mental, o segredo é obter ajuda e tratamento precoces.
Isso é especialmente importante📈 para que recompensas normais, como passar tempo com a família e desfrutar de caminhadas e exercícios, ainda sejam prazerosas e📈 o sistema de recompensas não seja "sequestrado" pelo jogo.
*Barbara Jacquelyn Sahakian é professora de neuropsicologia clínica da Universidade de Cambridge,📈 no Reino Unido.
Christelle Langley é pesquisadora associada de pós-doutorado em neurociência cognitiva na Universidade de Cambridge.
Henrietta Bowden-Jones é pesquisadora visitante📈 honorária da Universidade de Cambridge.
Sam Chamberlain é professor de psiquiatria da Universidade de Southampton, também no Reino Unido.
Este artigo foi📈 publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons.
Leia aqui a versão📈 original (em inglês).
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