Imprensa esportiva inglesa: quais são as principais diferenças para a brasileira?
No dia 7 de abril se comemora o dia do 🧬 jornalista no Brasil.
A data homenageia o ex-médico e jornalista Líbero Badaró, morto por inimigos políticos no ano de 1830.
Em referência 🧬 à data comemorativa, a PL Brasil preparou um texto especial.
Você já se perguntou quais são as principais diferenças entre a 🧬 imprensa esportiva inglesa e a brasileira?
Para responder essa questão, conversamos com dois correspondentes brasileiros que moram na Inglaterra.
O nosso papo 🧬 foi com os repórteres Natalie Gedra, da ESPN Brasil, e Renato Senise, do DAZN e da RedeTV!.
Ambos trabalham na cobertura 🧬 diária da Premier League e falaram sobre como funciona essa rotina e o que difere do ofício de um jornalista 🧬 esportivo aqui no Brasil.
ENTREVISTA COM MARIANA SPINELLI (ESPN) PARTE II – OS BASTIDORES DA PREMIER LEAGUE
A força do impresso na 🧬 imprensa esportiva inglesa
O jornalismo impresso vem perdendo cada vez mais força no Brasil.
Entretanto, na Inglaterra continua bastante presente, tanto com 🧬 os próprios jornais quanto com os tabloides.
Essa força também é percebida na imprensa esportiva.
Tal questão foi pontuada tanto por Renato 🧬 Senise quanto por Natalie Gedra.
"A cobertura do jornal impresso é muito forte.
Mas essas matérias acabam saindo só no dia seguinte, 🧬 então alguns repórteres de impresso tentam tirar alguma aspa ou resposta boa e muitas vezes acabam caindo no sensacionalismo para 🧬 vender jornal porque no dia seguinte não há mais nenhuma novidade quanto ao jogo do dia anterior", disse Senise.
A força 🧬 dos jornais é tão grande que os clubes não obrigam os jogadores a falarem com veículos detentores dos direitos da 🧬 Premier League, mas para os jornalistas de impresso as equipes enviam pelo menos um jogador, que conversará com aqueles profissionais 🧬 por aproximadamente 15 minutos.
Outra questão a ser colocada nesse contexto é o chamado embargo.
De acordo com Natalie Gedra, o embargo 🧬 é muito respeitado na Inglaterra e esse respeito se relaciona com a força dos jornais impressos, principalmente dos dominicais, os 🧬 chamados "sundays", que produzem cadernos especiais de esporte no domingo.
O embargo funciona da seguinte maneira: por exemplo, Pep Guardiola concede 🧬 entrevista coletiva às sextas-feiras, às 13h30.
Dependendo de quando o Manchester City for jogar, uma parte da jogos de ganhar dinheiro na vida real fala não pode 🧬 ser publicada até determinado dia e horário.
Caso a equipe atue no domingo, parte das falas só poderão ser publicadas e 🧬 utilizadas pelos jornalistas a partir das 22h30 do sábado.
Relação dos jornalistas com os clubes
"De maneira geral, os clubes tratam bem 🧬 os jornalistas, mas isso não quer dizer que nos ajudam".
A fala de Renato Senise resume a relação existente entre profissionais 🧬 da comunicação e os times ingleses.
Além disso, Senise avaliou que os clubes ingleses ainda são bastante conservadores e não entendem 🧬 que os jornalistas estão ali para conseguirem boas respostas para suas reportagens e matérias.
"É uma relação complicada, porque você tem 🧬 que sempre ir até o limite de onde é interessante para você fazer a pergunta, mas também não incomodar tanto 🧬 os clubes", comentou.//www.instagram.com/p/B5LcCtdp04d/
Senise também sinalizou que os clubes têm poder de impedir a entrada de jornalistas no clube.
O correspondente brasileiro 🧬 revelou que isso nunca ocorreu com brasileiros, mas citou caso de um repórter dinamarquês que devido a uma pergunta não 🧬 muito bem aceita por Christian Eriksen foi vetado de falar com o ex-jogador do Tottenham até o fim da temporada 🧬 na qual ocorreu o caso.
O Manchester City foi citado por ambos como um caso específico.
Por possuir um assessor de imprensa 🧬 espanhol e ser um clube mais aberto e que está ligado no que acontece no mundo, o City recebe muito 🧬 bem os jornalistas.
Por outro lado, de acordo com Renato, Arsenal e Manchester United são bem mais rígidos e fechados.
Para Natalie, 🧬 as assessorias de imprensa dos clubes da Inglaterra são muito diferentes das existentes no País.
"No Brasil, você tem uma relação 🧬 muito próxima e informal com assessores e isso aqui tem que ser conquistado".
Leia mais: As origens da icônica narração esportiva 🧬 inglesa
Coberturas em dias de jogo
"Os dias de jogo são os mais legais, mas os mais puxados, porque são os mais 🧬 longos", diz Natalie Gedra, que chega ao estádio três horas da partida ser iniciada, ou seja, quando o estádio está 🧬 sendo aberto e, na maioria das vezes, só deixa o mesmo quando esse está sendo fechado.
O contato dos correspondentes e 🧬 demais jornalistas em dias de jogos é direto com os funcionários da própria Premier League, que disponibiliza materiais para os 🧬 correspondentes, como as câmeras na beira do gramado, usadas nas entradas ao vivo pré-jogo, no intervalo ou depois da partida.
Para 🧬 Senise, a Premier League ajuda bastante o trabalho dos correspondentes.//www.instagram.com/p/B4YEN02FyXe/
Em toda partida da liga, os clubes donos da casa devem 🧬 disponibilizar uma área diferente da beira do gramado para que os repórteres utilizem antes dos jogos.
Essa área diferente pode ser, 🧬 por exemplo, os vestiários ou a área técnica.
Nesses locais, os jornalistas gravam seu primeiro boletim ou entram ao vivo e 🧬 dão início ao seu trabalho.
As entrevistas pós-jogo são realizadas a partir da intermediação da Liga.
Tanto ESPN Brasil e DAZN, detentoras 🧬 dos direitos de transmissão no Brasil, têm direito a uma entrevista com três perguntas após as partidas.//www.instagram.
com/p/B7eKzK5pYS7/?utm_source=ig_web_copy_link
Após esse papo, é 🧬 a hora de tentar a sorte na zona mista.
Mas nem sempre conseguirá algo por lá, visto que muitos atletas e 🧬 técnicos não passam pelo local e, se passam, poucos falam.
Não é caso dos brasileiros, que, de acordo com Senise e 🧬 Gedra, são muito solícitos e quando não querem falar, avisam.
Em resumo, os correspondentes trabalham bastante em dias de jogos.
São boletins, 🧬 entradas ao vivo, entrevistas, zona mista e produção para redes sociais.
Inglaterra x Brasil: organização x abertura
É consenso para Natalie Gedra 🧬 e Renato Senise que o trabalho da imprensa na Inglaterra é muito mais organizado que no Brasil.
"A Inglaterra é muito 🧬 mais organizada e o Brasil é muito mais aberto.
Os dois tem prós e contras.
Coisas que são fáceis de conseguir no 🧬 Brasil, na Inglaterra são inimagináveis", afirmou Natalie.
Em relação ao Brasil, os repórteres têm muito menos acesso aos jogadores na Inglaterra.
Ou 🧬 seja, o contato com um atleta ou técnico específico se torna muito mais difícil.
Logo, realizar matérias e reportagens especiais também.
Além 🧬 disso, quase não há entrevistas coletivas de jogadores, algo que acontece bastante aqui no Brasil.
Por outro lado, a Premier League 🧬 disponibiliza muita coisa para os correspondentes e para profissionais que trabalham em veículos detentores dos direitos de transmissão e procura 🧬 atender as necessidades desses.
Para Gedra, isso é positivo.
"O acesso que a Liga permite a alguns jogadores é muito legal.
É um 🧬 acesso que não vejo nenhuma outra liga do mundo permitir".//www.instagram.
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Gedra enxerga que, no Brasil, é tudo muito no sacrifício.
Porém, vê 🧬 um lado bom nisso: o acesso às pessoas: "No Brasil, você tem muito mais acesso às pessoas.
Você pode conversar com 🧬 o médico do clube.
Imagina? Eu nunca conseguiria conversar com o médico de nenhum clube daqui".
No tempo em que ainda morava 🧬 no Brasil, Natalie foi setorista do São Paulo.
Ela deixou claro as diferenças citadas acima.
"Fui setorista por dois anos e conhecia 🧬 do roupeiro até o presidente.
Voava no mesmo voo para os jogos da Libertadores com o presidente do meu lado.
O acesso 🧬 no Brasil nem se compara à Inglaterra, que é muito mais fechada".//www.instagram.
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Tratamento das torcidas
Tanto Senise quanto Gedra afirmaram que são 🧬 bem tratados pelos torcedores na Inglaterra.
"No Brasil, tem muito xingamento contra jornalista, principalmente mulheres.
Aqui, isso acontece uma vez ou outra.
É 🧬 difícil de acontecer", disse Renato.
Natalie, por jogos de ganhar dinheiro na vida real vez, destacou que acha mais tranquilo trabalhar em estádios ingleses do que brasileiros.
"No 🧬 geral, você não vê um jornalista da emissora x e é xingado no estádio.
Isso não existe aqui.
E isso acontece o 🧬 tempo todo no Brasil e era algo que me chateava muito.
Eles (torcedores) não veem quem você é, eles veem o 🧬 microfone que você está segurando.
Eu passei por momentos muito difíceis em estádios de futebol, de ser hostilizada, de correr perigo 🧬 mesmo.
Todos os jornalistas no Brasil passam por isso e é muito triste, e não acontece na Inglaterra", declarou.
Há uma exceção, 🧬 que relaciona Liverpool e o jornal The Sun.
Por conta da cobertura do veículo da tragédia de Hillsborough, que ocorreu em 🧬 1989 e deixou 96 torcedores dos Reds mortos, o The Sun não pode cobrir as partidas da equipe em Anfield 🧬 nem tem acesso ao centro de treinamento do clube.
A imprensa esportiva inglesa é sensacionalista?
Quando questionado sobre o sensacionalismo da imprensa 🧬 esportiva da Inglaterra, Renato Senise se disse decepcionado.
"Não digo que é mais sensacionalista que a brasileira, mas eu achava que 🧬 a imprensa esportiva inglesa era menos sensacionalista".
Ele afirmou que uma parcela dos jornalistas ingleses procura, em muitas oportunidades, polêmicas e 🧬 respostas que vão gerar uma manchete chamativa.
Na visão de Natalie Gedra, os tabloides são sensacionalistas, mas ela não enxerga isso 🧬 nos jornais.
Além disso, Gedra apontou que os jornais se apegam demais a eventos extracampo.
"Não acho que os jornais sejam tão 🧬 sensacionalistas, mas se apegam demais a coisas extracampo.
Isso me irrita nas entrevistas, entrevistas pós-jogo, coletivas.
Ninguém pergunta do jogo: eles querem 🧬 saber do VAR, da arbitragem, do calendário, de transferências.
Eles falam muito do entorno e pouco de bola.
Isso me incomoda um 🧬 pouco.
Mas não é uma questão de sensacionalismo, é uma questão de perfil".
Natalie também criticou que, às vezes, a imprensa esportiva 🧬 inglesa transforma algumas frases em toda uma história.
"Já aconteceu de eu estar numa coletiva com o Guardiola e ele falar 🧬 mil coisas.
Quando vou ler o relato da coletiva em algum jornal inglês e eu penso não é possível que eu 🧬 estava na mesma coletiva que essas pessoas, porque eu não ouvi o que eles estão falando".
Renato acredita que talvez a 🧬 imprensa esportiva inglesa não seja mais sensacionalista que a brasileira, mas pontua uma diferença: "No Brasil, por haver mais acesso 🧬 aos clubes e jogadores, há quatro ou cinco televisões falando o dia inteiro de futebol.
Aqui não, uma ou duas TVs 🧬 que têm acesso, uma ou duas rádios e bastante jornal".
Todavia, Senise destacou o trabalho do The Athletic, veículo multiplataforma que 🧬 chegou recentemente na Inglaterra e tem produzido matérias diferentes do que se vê na maioria dos demais meios de comunicação.