A ciência está próxima de desmascarar um dos maiores vilões do esporte: o doping genético.
O "Planeta SporTV" apresentou, nesta sexta-feira,3️⃣ matéria exclusiva feita em Sydney, na Austrália, com a cientista russo-australiana Anna Baotina, a mãe da pesquisa desenvolvida há mais3️⃣ de 10 anos que, num futuro bem próximo, será capaz de detectar doping feito no DNA dos atletas para que3️⃣ ele aumente o EPO (eritropoietina, hormônio produzido naturalmente pelo corpo humano) e, com isso, o desempenho nas competições.
Pela primeira vez3️⃣ a cientista falou com uma repórter de TV em todo o mundo.
É no Natural Measurement Institute australiano, o equivalente ao3️⃣ Inmetro brasileiro (Instituto Nacional de Metrologia), com apoio da Wada, a organização mundial antidoping, que o teste genético está sendo3️⃣ desenvolvido.
Anna Baotina lidera uma equipe de 10 pessoas no desenvolvimento do teste, que usa apenas uma amostra de sangue.
Anna esteve3️⃣ na Rio-2016, mas o teste ainda não foi posto em prática.
A Wada, por medida de segurança, não divulga quando o3️⃣ método será aplicado em atletas - há protocolos a serem cumpridos até que os maiores laboratórios do mundo estejam em3️⃣ condições de aplicá-lo.
Mas uma coisa é certa.
Se há atletas alterando DNA para ganharem força e velocidade, num futuro próximo a3️⃣ ciência vai descobrir.
Anna Baotina, cientista Sabíamos que o doping genético usa as ferramentas desenvolvidas para terapia genética.
A terapia genética trata3️⃣ pessoas que têm doenças sérias que são causadas por genes defeituosos."
A Wada se preocupava em detectar o doping genético desde3️⃣ 2003, quando foi oficialmente banido, e a partir de 2011 passou a financiar, junto com o governo australiano, estudos para3️⃣ apontá-lo.
Até o ano passado, a única forma era retirar uma amostra do tecido muscular, procedimento considerado invasivo para os atletas.
Foi3️⃣ ai que a equipe da doutora Anna encontrou a chave para desvendar o enigma.
- Tendo analisado possíveis formas de doping3️⃣ genético, decidimos marcar como alvo o gene modificado no sangue dos atletas.
Pelo fato de que apenas uma pequena quantidade desse3️⃣ gene modificado injetado nos músculos vai escapar das células musculares para a corrente sanguínea, nossos métodos tinham que ser extremamente3️⃣ sensíveis.
O primeiro gene que decidimos olhar foi o EPO (eritropoietina).
Então, há 10 anos entramos no laboratório e começamos a desenvolver3️⃣ testes moleculares para detectar características únicas do gene EPO modificado.
Todo esse trabalho nos levou oito anos, até que estivéssemos satisfeitos3️⃣ com o protocolo para o teste.
Só então implementamos o primeiro teste controlado, no Laboratório Australiano Esportivo de Testes de Substâncias3️⃣ - afirmou Anna Baotina.
A russo-australiana Anna Baotina desenvolve estudos há mais de 10 anos para detectar doping genético (Reprodução)
A cientista3️⃣ russo-australiana descobriu então pequenas diferenças entre o gene natural e o artificial inserido no corpo para duplicar as características do3️⃣ primeiro.
Por causa dessas diferenças foi possível estabelecer reações moleculares que funcionarão só para o gene que passou por doping, não3️⃣ para o gene natural.
Essas reações são testadas graças ao PCR, exame muito usado na sequência genética.
- Em uma amostra de3️⃣ sangue de um atleta que fez uso de doping genético, os genes naturais vão ultrapassar dramaticamente os genes modificados.
Então fazemos3️⃣ o PCR fazer mais réplicas apenas do gene modificado.
A cada ciclo do PCR, o número de genes modificados vai dobrar.
Depois3️⃣ de 30 ciclos, teremos mais de bilhões de genes modificados.
Outra coisa que acontece no PCR é que as cópias dos3️⃣ genes modificados ficam marcadas com uma etiqueta que brilha cada vez que uma nova cópia é feita.
Como bilhões de cópias3️⃣ estão sendo feitas, a luz vai ficando mais brilhante.
Medindo isso, sabemos que havia genes modificados na amostra original.
Se a amostra3️⃣ de sangue não tem genes modificados, mesmo depois de 40 ciclos do PCR nenhuma luz vai brilhar.
Assim sabemos que a3️⃣ mostra está limpa.
EPO (eritropoietina)
Após ter ingressado no National Measurement Institute, 12 anos atrás, Anna foi designada para descobrir até que3️⃣ ponto era possível desenvolver um teste genético antidoping.
- Sabíamos que o doping genético usa as ferramentas desenvolvidas para terapia genética.
A3️⃣ terapia genética trata pessoas que têm doenças sérias que são causadas por genes defeituosos, como, por exemplo, fibrose cística, distrofia3️⃣ muscular, hemofilia.
Pesquisas genéticas já vinham sendo feitas há mais de 20 anos.
Então começamos a olhar essas pesquisas.
EPO pode ser injetado3️⃣ como um vírus no corpo, na área em que se deseja em que ele atue melhor.(Foto: Reprodução)
A questão era o3️⃣ outro lado da história.
A equipe de Anna passou três meses pesquisando o que já havia sido feito em terapia genética3️⃣ para entender como o doping genético funcionaria.
Na forma mais comum, o doping genético consiste em introduzir nas células do atleta3️⃣ cópias extras de um gene para se atingir melhor performance.
- Também precisamos saber quais genes podem ser usados para o3️⃣ doping.
Por exemplo, para melhorar a performance aeróbica em esportes de curta duração, atletas podem tentar injetar nas suas células cópias3️⃣ extras do gene EPO, porque o EPO aumenta a capacidade do sangue de levar oxigênio aos músculos - afirmou a3️⃣ cientista russo-australiana.
Anna Baotina, cientista Para melhorar a performance aeróbica em esportes de curta duração, atletas podem tentar injetar nas suas3️⃣ células cópias extras do gene EPO, porque o EPO aumenta a capacidade do sangue de levar oxigênio aos músculos."
EPO, abreviação3️⃣ de eritropoietina, é o hormônio produzido naturalmente pelo corpo humano, mais especificamente pelos rins.
A função do hormônio é regular a3️⃣ quantidade de glóbulos vermelhos no sangue.
Quanto maior a elevação de EPO no corpo, maior a quantidade de oxigênio no sangue.
Com3️⃣ isso, os músculos respondem melhor, com mais velocidade.
Lá se vão mais de 20 anos que os laboratórios produzem EPO de3️⃣ forma artificial.
Como num remédio para prevenir anemia em pacientes com insuficiência renal, por exemplo.
O problema é que alguns atletas se3️⃣ aproveitaram da situação e passaram a usá-lo para melhorar seu desempenho.
Um dos maiores exemplos foi do ciclista Lance Armstrong, que3️⃣ perdeu os sete títulos conquistados no Tour de France e a medalha de bronze em Sydney depois de ter sido3️⃣ pego no antidoping por ter tomado EPO sintético em toda a mls 2024 carreira.
Esse doping tradicional já era detectado desde 2009.
O3️⃣ que faltava era detectar o doping genético.
A alteração no DNA para que ele naturalmente produzisse mais EPO.
Um novo gene inserido3️⃣ na cadeia genética.
Como um vírus injetado no corpo, na área em que se deseja em que ele atue.
Foi o que3️⃣ fez a equipe de Anna Baotina.
Agora, é esperar para ver.