São Paulo –
Atlético aparece em quarto lugar no ranking dos clubes mais endividados do país (foto: Alexandre Guzanshe)ENTREVISTAAmir Somoggi
sócio da 🔑 Sports Value
"Os clubes vivem de poucas fontes de receita"
Como você analisa a situação financeira dos clubes?
Por que isso acontece?
Não há 🔑 sinal de melhora?
Quais os melhores exemplos?
Qual é a saída para os clubes?
Os clubes não seriam desfiliados da CBF e da 🔑 Fifa se montassem uma liga?
"Os clubes são geridos
de modo irresponsável,
fruto de administraçõesnão profissionais"
Se dentro das quatro linhas o futebol em 🔑 2018 será marcado pela derrota do Brasil na Copa, fora de campo há boas notícias.
Segundo estudo recém-divulgado pela consultoria de 🔑 marketing esportivo Sports Value, a receita dos 20 maiores clubes do país atingiu pela primeira vez a marca de R$ 🔑 5 bilhões.Não é pouco.
Em 2003, o montante arrecadado somou R$ 650 milhões – o que dá um aumento de quase 🔑 oito vezes.
O Flamengo registrou o maior incremento de receitas entre 2016 e 2017 e tomou do Palmeiras o posto de 🔑 clube mais rico do país.
O ganho na arrecadação no último ano foi de R$ 138,6 milhões.
No total, o clube carioca 🔑 teve um caixa de R$ 649 milhões, de acordo com os dados da Sports Value.
O Botafogo foi o segundo clube 🔑 que mais viu as receitas subirem – engordou o caixa em R$ 120 milhões.
Em seguida aparece o Cruzeiro, com ganho 🔑 de R$ 106 milhões de arrecadação em 2017.
No ranking de arrecadação, o Palmeiras ficou em segundo, com R$ 504 milhões, 🔑 seguido de São Paulo (R$ 480 milhões) e Corinthians (R$ 391 milhões).
O Cruzeiro está na quinta posição, com R$ 344 🔑 milhões.
No campo oposto, o Corinthians foi o clube com maior redução de receitas em 2017: queda de quase R$ 95 🔑 milhões.
O Fluminense, que viu as receitas encolherem R$ 81 milhões, e o Internacional (menos de R$ R$ 47 milhões), completam 🔑 as três primeiras posições.
O que mais puxou as receitas dos times foi a transferência de atletas, que avançou 40% em 🔑 2017, chegando a R$ 960 milhões.
O número foi puxado pela transferência de Vinícius Junior, do Flamengo, para o Real Madrid, 🔑 em maio do ano passado, por 45 milhões de euros (cerca de R$ 165 milhões na cotação da época).
Outras fontes 🔑 de receita também evoluíram: patrocínio (27%), sócios (17%) e bilheteria (9%).
As receitas de TV caíram 18% porque, em 2016, os 🔑 clubes receberam altos valores de luvas da Globo e do Esporte Interativo – que não se repetira m em 2017.
Apesar 🔑 do maior faturamento, Amir Somoggi, sócio da Sports Value, não vê motivos para comemoração.
"Os clubes vivem de poucas fontes de 🔑 receita e, quando têm aumento na arrecadação, gastam mais do que arrecadam", diz.
"Isso é fruto de uma gestão voltada apenas 🔑 para o resultado dentro de campo.
"Quase 60% da arrecadação dos clubes vem de duas fontes: venda dos direitos de televisionamento 🔑 (R$ 2 bilhões) e de direitos de jogadores (R$ 966 milhões).
Segundo Somoggi, a situação financeira dos clubes seria mais saudável 🔑 se outras fontes de receita, como bilheteria, sócios e patrocínios, tivessem maior relevância.
"Na Europa, as receitas de TV são muito 🔑 importantes até para os grandes clubes, mas a dependência é menor.
"Segundo estudo da consultoria Deloitte, na temporada 2016-2017, os 20 🔑 maiores clubes europeus arrecadaram quase 8 bilhões de euros, ou cerca de R$ 38 bilhões, pouco mais que sete vezes 🔑 o montante dos clubes brasileiros.
Cerca de 45% vieram da TV, 38% de patrocínio e venda de produtos e 17% do 🔑 que o mercado internacional chama de "matchday", como são chamadas as receitas vindas do público numa partida, incluindo comida, bebida 🔑 e ingressos.
Na Europa, o clube mais rico é o Manchester United, da Inglaterra, que faturou 676 milhões de euros (R$ 🔑 3,2 bilhões), ou quase cinco vezes o arrecadado pelo Flamengo.
Real Madrid (675 bilhões de euros) e Barcelona (648 bilhões) completam 🔑 o pódio.
Os dados corroboram a tese de Somoggi de que aumentos de receitas são seguidos por avanços ainda maiores nos 🔑 gastos.
Entre 2016 e 2017, o montante gasto pelos maiores clubes brasileiros no departamento de futebol acelerou 21% (somando R$ 3,5 🔑 bilhões), enquanto as receitas cresceram apenas 4%.
Nos últimos três anos, só cinco clubes fecharam no azul.
Em 15 anos, o déficit 🔑 somado dos 20 clubes chega a R$ 2,4 bilhões.
Uma situação como essa não poderia resultar em outra coisa senão aumento 🔑 da dívida, que saiu de R$ 1 bilhão em 2003 para R$ 6,7 bilhões no ano passado.
O clube mais endividado 🔑 é o Botafogo, que deve R$ 720 milhões, seguido do Internacional (R$ 700 milhões), Fluminense (R$ 560 milhões) e Atlético-MG 🔑 (R$ 538 milhões).
Entre 2011 e 2017, só dois clubes conseguiram baixar o que devem, Flamengo e Chapecoense (SC).
A despeito dos 🔑 problemas, que são muitos, é possível notar avanços.
Segundo o especialista em finanças de clubes Cesar Grafietti, os times brasileiros têm 🔑 melhorado a gestão financeira.
"Hoje, notamos uma preocupação com a qualidade da gestão dos recursos", diz Grafietti, consultor sênior do Itaú 🔑 BBA.
"Há alguns anos, eram mais descuidados com pagamento de salários, fluxo de caixa, controle da dívida e da divulgação das 🔑 informações financeiras", diz o especialista.
Apesar de ser o mais endividado, o Botafogo é o que menos gasta com o departamento 🔑 de futebol na proporção das receitas: 41%.
Em 2013, gastava 93%.
No ano passado, teve o terceiro maior superávit (R$ 57 milhões), 🔑 atrás apenas de Flamengo e Palmeiras, que terminaram 2017 com saldos positivos de R$ 159 milhões e R$ 57 milhões, 🔑 respectivamente.
"Os clubes começam a entender que precisam controlar despesas como se fossem empresas", diz Grafietti.
Os clubes vivem de poucas fontes 🔑 de receita.
A dependência é enorme da TV, venda de jogador e, eventualmente, de patrocinadores.
Quando as receitas de TV sobem, a 🔑 situação dos clubes melhora.
Quando caem, só a venda de jogador resolve.
Os clubes são geridos de modo irresponsável, fruto de administrações 🔑 não profissionais.
Eles gastam em um ano o que poderiam gastar em quatro.
O foco é ganhar títulos, independentemente do efeito que 🔑 isso possa causar nas finanças do clube.Há.
Começa a surgir um movimento positivo na gestão dos clubes.
Mas ainda é pequeno.
Os clubes 🔑 teriam muitos problemas se a Rede Globo cortasse a verba para futebol.
Flamengo, Palmeiras e Chapecoense.
Desses, destaco o modelo de administração 🔑 do Flamengo, que reduziu a dívida, que era imensa, e aumentou a receita de forma substancial.
E a Chapecoense, que consegue 🔑 ter boa gestão que não se deixa levar pelo afã de ganhar títulos a qualquer custo.
O Palmeiras tem um modelo 🔑 que não considero tão saudável, que é depender muito de um patrocinador.
Parar de olhar para o próprio umbigo.
Os clubes precisam 🔑 se unir e encarar o futebol como um todo.
Juntos, eles concentram 88% do mercado do futebol.
A Confederação Brasileira de Futebol 🔑 (CBF) e as federações estaduais, somadas, mal chegam a 12%.
Os clubes precisam se juntar, formar uma liga, como fizeram os 🔑 times da Europa.
E, a partir da liga, criar campeonatos rentáveis, com um bom calendário.
Hoje, por conta dos campeonatos estaduais, quase 🔑 35% do tempo os clubes arcam com prejuízos.
Os clubes criam uma liga para cuidar dos campeonatos nacionais e a CBF 🔑 cuida da Seleção.
Isso ocorre em vários países da Europa e a Fifa não desfiliou clube algum por conta disso.
Se a 🔑 Fifa aceita a Premier League, da Inglaterra, também vai aceitar uma liga brasileira.